Por Alexandre Giesbrecht

"Estou profundamente entristecido e sinto muito pela perda de meu amigo íntimo e companheiro de time, Dan Snyder. Estou profundamente comovido pela demonstração de apoio que sua família e eu recebemos de Elmira (cidade natal de Snyder), e agradeço a todos por seus pensamentos e orações. Toda a família Snyder, e, em particular, Graham (pai), LuAnn (mãe), Jake (irmão) e Ericka (irmã), têm demonstrado força e compaixão incríveis durante esta hora extremamente dolorosa."

Assim começa a primeira declaração por escrito de Dany Heatley, divulgada na última terça-feira, desde o acidente que matou Dan Snyder em 29 de setembro. Até pela gravidade do acidente, Heatley não escapou ileso: seriamente contundido, teve de sofrer uma cirurgia no joelho direito para corrigir dois rompimentos de ligamento.

Além dos ferimentos, que podem deixá-lo de fora de toda esta temporada, Heatley ainda pode ser indiciado por cinco crimes, incluindo homicídio, o que pode acarretar uma pena de até 15 anos. Felizmente para ele, não foram encontrados traços de álcool acima do limite permitido, o que aumentaria bastante as chances de uma pena maior. De acordo com um porta-voz de um promotor público da região, Heatley registrou 0,015 no bafômetro. As leis do estado da Geórgia consideram uma pessoa legalmente alcoolizada se registrar no mínimo 0,08.

Os impactos criminais não interessam tanto numa revista focada no esporte. Mas o impacto na vida de uma estrela em ascensão não pode ser ignorado. Heatley teve uma temporada de estréia espetacular em 2001-02, sendo eleito o novato do ano. No ano seguinte, foi ao Jogo das Estrelas, marcou quatro gols e saiu de lá como jogador mais valioso da partida.

Para esta temporada, era esperado que, ao lado do também emergente Ilya Kovalchuk, liderasse o Atlanta Thrashers rumo aos playoffs, ainda que para ser eliminado em quatro jogos na primeira fase.

"Obviamente, as últimas semanas foram duras", disse o central Randy Robitaille. "Mas o time está trabalhando duro e batalhando na hora do jogo. Está nos servindo como motivação. [Heatley e Snyder] estão em nossos corações, e estamos tentando jogar um bom hóquei e não pensar nisso."

Ainda é cedo para saber quais serão os efeitos da ausência de Heatley, total ou simplesmente prolongada, no time. Por enquanto, ela até serviu para unir o time em torno de um ideal. As duas vitórias nos dois primeiros jogos deram confiança ao elenco e já representam o melhor início de temporada da curta história do time. Para efeito de comparação, na última temporada os Thrashers só foram ganhar um jogo depois de onze partidas.

Tirar proveito de uma tragédia como esta pode até parecer cruel para alguns, mas realmente o time não tem outra alternativa. Heatley sempre funcionou como um "pulmão", provendo não apenas gols, mas também incentivando seus colegas a dar o melhor de si. Se o incentivo dele hoje está vindo de fora, o que ele representa serviu para unir o time.

Não foi a primeira vez — nem será a última — que alguém do hóquei se envolve em um acidente grave. Só nos últimos anos, vêm à cabeça as mortes de Steve Chiasson, ex-zagueiro de Hurricanes, Flames e Wings, e do técnico da seleção americana que levou o ouro nas Olimpíadas de Inverno de 1980, Herb Brooks, que faleceu em agosto último. Isso sem falar no grave acidente que acabou com a carreira do zagueiro Vladimir Konstantinov, dos Wings, durante as comemorações pelo título da Copa Stanley de 1996-97.

E há ainda um caso de que muitos não ouviram falar, ainda nos anos 80, que lembra muito o caso de Heatley. Craig MacTavish, hoje técnico do Edmonton Oilers, ficou conhecido na liga como o último jogador a atuar sem capacete, mas no início de sua carreira, ele ficou marcado pelo acidente que matou uma mulher que dirigia o carro à frente do seu. E ele cumpriu um ano de prisão por isso.

MacTavish realmente deu o exemplo. Pagou sua pena para com a sociedade e conseguiu retormar sua vida, conseguindo algum destaque nas equipes dos Oilers que conquistaram três Copas Stanley entre 1986-87 e 1989-90. Ele falou publicamente sobre a tragédia apenas antes de ir para a prisão e logo depois de sair. Depois, reservou-se o direito de não dar mais declarações sobre o assunto.

Uma atitude nobre, que deve tê-lo ajudado a superar o trauma. E que não parece ser um mau caminho para Heatley seguir. Neste caminho não há excesso de velocidade.