Por
Marcelo Constantino
Vocês se recordam de uma notícia, semanas atrás,
sobre o defensor Boris Mironov, que decidira retornar ao Chicago Blackhawks
depois de perceber que ninguém mais na NHL pagaria o seu salário
de US$ 3,3 milhões pelo que ele estava jogando? Pois é,
na verdade, nem mesmo o próprio Chicago pagaria, se pudesse.
Espere aí, ninguém pagaria? Não,
nada disso: para pagar salários acima de qualquer sensatez, a
NHL tem o New York Rangers, que acabou contratando o defensor dias depois
daquela decisão, em troca de uma escolha de quarta rodada.
Os dois Mironovs que eu conheci na NHL sempre foram sobrevalorizados.
Do outro, o também defensor Dmitri, lembro que foi adquirido
pelo Detroit no dia limite de trocas de 1998. Acabou campeão
da Stanley Cup naquele ano, mas foi sacado do time algumas vezes durante
os playoffs, tamanha era a pouca satisfação de Scotty
Bowman com ele. Para termos uma idéia, quem entrava no lugar
daquele Mironov era o hoje Maple Leafs Anders Ericksson.
Na semana passada foi a vez de Brett Hull surpreender a todos e mandar
o seguinte petardo, num artigo escrito para a revista The Hockey
News: "Bob Goodenow (presidente da NHLPA, o sindicato dos
jogadores da NHL) vai me matar, mas, se vamos ser realistas sobre o
que acontece, provavelmente 75% dos jogadores da liga recebem mais do
que deveriam. Agora, sabem de uma coisa? Nós não pagamos
a nós mesmos. Há pessoas que nos pagam, e ninguém
está apontando uma arma para as mãos deles".
Disto surgiu uma idéia de listar alguns dos jogadores mais sobrevalorizados
da NHL. Difícil conceituar e filtrar a sobrevalorização
na NHL depois do que Hull escreveu, mas busquei elaborar uma pequena
lista de seis jogadores tendo como parâmetro um alto desnível
entre os salários que recebem e a produção que
os times esperam deles. Algo como "eu jamais pagaria isso tudo
a este jogador, mesmo que eu pudesse".
A lista exclui jogadores como Jaromir Jagr, que amarga sua segunda temporada
abaixo das expectativas em Washington, mas que é sabidamente
um dos maiores jogadores em ação na liga. Desconhecemos,
entretanto, quais são os efeitos da capital sobre o tcheco.
Há uma certa dificuldade em saber o montante real de alguns contratos
na NHL: alguns deles incluem bônus no início (as famosas
luvas) ou bônus por partida realizada, por exemplo. Claro, é
impossível que uma lista assim não contenha mais de um
jogador do New York Rangers. Nesta há três.
RW Martin Lapointe (Boston Bruins)
Salário: US$ 5.250.000
Jogador de grande importância para o Detroit Red Wings nas conquistas
de 1997 e 1998, Lapointe recebia um salário abaixo da média
de toda a NHL e, por isso, ganhou passe livre no verão americano
de 2000, conforme as regras vigentes do acordo da liga com a NHLPA.
De um salário baixo para o seu nível, passou para um absurdo.
Na época, os Wings ofereciam cerca de metade do salário
que ele recebe hoje nos Bruins, e por um contrato de quatro anos, não
pelos cinco atuais. Marty vinha crescendo a cada temporada, e tudo indicava
que ele explodiria em Boston. Teria mais tempo de gelo e um papel de
maior destaque. Não explodiu, mas seguiu atuando bem, sendo um
importante jogador para o time, como era em Detroit. Apenas não
vale tudo isso que recebe. Mais grave ainda foi que os Bruins não
quiseram pagar quantia semelhante a Jason Allison, na mesma época.
Para piorar, esta temporada está sendo sofrível para Lapointe,
sob qualquer aspecto, seja no gelo, seja no hospital.
C Alexei Yashin (New York Islanders)
Salário: US$ 7.400.000
A chateação não compensa. Yashin é um belo
jogador, mas que peca demais pelo desleixo e uma certa irregularidade.
Eu olho para ele e me vem à mente um jogador habilidoso, mas
pouco esforçado, que geralmente leva tempo para acordar na temporada.
Sim, ele lidera novamente em pontos os Islanders nesta temporada, é
verdade. Para isso, o salário anual dele é quase o dobro
do segundo maior do time, os US$ 4 milhões de Chris Osgood. O
mais/menos do russo nesta temporada está num patamar negativo
em níveis indecentes; é, de longe, o pior do próprio
time. O histórico de Yashin mostra que ele amarela quando chega
a hora da decisão, especialmente nos playoffs. O dinheiro pode
ser melhor aplicado.
D Sandis Ozolinsh (Florida Panthers)
Salário: US$ 5.500.000
Já se vão os áureos tempos de Colorado Avalanche,
quando era uma das peças principais de um grande time, chegando
a ser indicado ao Troféu Norris. Ao longo de toda a carreira,
sempre foi um excelente atacante jogando na defesa. Quando começou
a entrar em decadência, ainda nos Avs, aqueles analistas de fantasy
começaram a recomendar cautela com os altos pontos de Ozolinsh,
em contraponto aos negativos de +/-. Também nunca foi tão
ruim assim, exceto no ano em que esteve em Carolina. Apenas trata-se
de um defensor pouco confiável para exercer o seu papel primordial
de defender. Convenhamos, US$ 5,5 milhões/ano por ele é
de lascar.
C Eric Lindros (New York Rangers)
Salário: US$ 2.700.000, mais bônus por partida
jogada
O salário dele nem é exatamente alto, mas os bônus
eu duvido que sejam baixos. Não consegui descobrir os termos
exatos, principalmente no tocante a esses bônus, do contrato dele
com os Rangers. Chega de falar mais sobre Lindros: poucos jogadores
deram tanto prejuízo a uma organização quanto Eric
deu aos Flyers. Em Nova York ele nem está mal atualmente, mas
para quem, por anos a fio, seria um dos grandes jogadores da NHL de
todos os tempos, a decepção nem bate mais à porta;
ela já saiu pelos fundos.
D Darius Kasparaitis (New York Rangers)
Salário: US$ 4.100.000
Kaspar sempre foi adorado pelos torcedores de Pittsburgh, que o viam
desferir duros trancos nos adversários. Críticos sempre
diziam que ele saía de sua posição para fazer isso
e que, se os atacantes adversários tivessem paciência,
atuariam no estilo "leve-o-tranco-e-faça-a-jogada",
explorando os espaços vazios que ele deixaria. Negociado para
o Avalanche perto do dia-limite de trocas de 2002, Kasparaitis não
teve o impacto esperado em Denver. Nos Rangers, onde para ter algum
impacto basta jogar bem, o defensor segue seu calvário.
C Bobby Holik (New York Rangers)
Salário: US$ 9.600.000
Certamente a maior das piadas desta temporada. Custo a crer que alguém,
algum dia, possa ter acreditado que este é o valor de mercado
de Holik. Apostaria que boa parte da liga não pagaria metade
disso a ele. Não que não seja um bom jogador; ele é.
Sua excelência defensiva e sua postura robusta no ataque, em tese,
cobririam estas, que eram duas das grandes carências do time dos
Rangers antes da temporada. Como tudo o que tem acontecido no gelo do
Madison Square Garden ultimamente, não deu certo. Holik é
hoje o jogador mais sobrevalorizado da liga.
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Marcelo Constantino recomenda a visita ao site www.hockeyworld.com.br,
onde há notícias em português sobre diversas
modalidades de hóquei. |
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SÍMBOLO DO DESPERDÍCIO
Poucos discordam que Bobby Holik (16), aqui trepado em Nick Boynton,
dos Bruins, é o mais sobrevalorizado jogador da NHL hoje
em dia (Michael Dwyer/AP - 05/10/2002) |
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