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31 de janeiro de 2003
Os seis mais sobrevalorizados da NHL

Por Marcelo Constantino

Vocês se recordam de uma notícia, semanas atrás, sobre o defensor Boris Mironov, que decidira retornar ao Chicago Blackhawks depois de perceber que ninguém mais na NHL pagaria o seu salário de US$ 3,3 milhões pelo que ele estava jogando? Pois é, na verdade, nem mesmo o próprio Chicago pagaria, se pudesse.

Espere aí, ninguém pagaria? Não, nada disso: para pagar salários acima de qualquer sensatez, a NHL tem o New York Rangers, que acabou contratando o defensor dias depois daquela decisão, em troca de uma escolha de quarta rodada.

Os dois Mironovs que eu conheci na NHL sempre foram sobrevalorizados. Do outro, o também defensor Dmitri, lembro que foi adquirido pelo Detroit no dia limite de trocas de 1998. Acabou campeão da Stanley Cup naquele ano, mas foi sacado do time algumas vezes durante os playoffs, tamanha era a pouca satisfação de Scotty Bowman com ele. Para termos uma idéia, quem entrava no lugar daquele Mironov era o hoje Maple Leafs Anders Ericksson.

Na semana passada foi a vez de Brett Hull surpreender a todos e mandar o seguinte petardo, num artigo escrito para a revista The Hockey News: "Bob Goodenow (presidente da NHLPA, o sindicato dos jogadores da NHL) vai me matar, mas, se vamos ser realistas sobre o que acontece, provavelmente 75% dos jogadores da liga recebem mais do que deveriam. Agora, sabem de uma coisa? Nós não pagamos a nós mesmos. Há pessoas que nos pagam, e ninguém está apontando uma arma para as mãos deles".

Disto surgiu uma idéia de listar alguns dos jogadores mais sobrevalorizados da NHL. Difícil conceituar e filtrar a sobrevalorização na NHL depois do que Hull escreveu, mas busquei elaborar uma pequena lista de seis jogadores tendo como parâmetro um alto desnível entre os salários que recebem e a produção que os times esperam deles. Algo como "eu jamais pagaria isso tudo a este jogador, mesmo que eu pudesse".

A lista exclui jogadores como Jaromir Jagr, que amarga sua segunda temporada abaixo das expectativas em Washington, mas que é sabidamente um dos maiores jogadores em ação na liga. Desconhecemos, entretanto, quais são os efeitos da capital sobre o tcheco.

Há uma certa dificuldade em saber o montante real de alguns contratos na NHL: alguns deles incluem bônus no início (as famosas luvas) ou bônus por partida realizada, por exemplo. Claro, é impossível que uma lista assim não contenha mais de um jogador do New York Rangers. Nesta há três.

RW Martin Lapointe (Boston Bruins)
Salário: US$ 5.250.000
Jogador de grande importância para o Detroit Red Wings nas conquistas de 1997 e 1998, Lapointe recebia um salário abaixo da média de toda a NHL e, por isso, ganhou passe livre no verão americano de 2000, conforme as regras vigentes do acordo da liga com a NHLPA. De um salário baixo para o seu nível, passou para um absurdo. Na época, os Wings ofereciam cerca de metade do salário que ele recebe hoje nos Bruins, e por um contrato de quatro anos, não pelos cinco atuais. Marty vinha crescendo a cada temporada, e tudo indicava que ele explodiria em Boston. Teria mais tempo de gelo e um papel de maior destaque. Não explodiu, mas seguiu atuando bem, sendo um importante jogador para o time, como era em Detroit. Apenas não vale tudo isso que recebe. Mais grave ainda foi que os Bruins não quiseram pagar quantia semelhante a Jason Allison, na mesma época. Para piorar, esta temporada está sendo sofrível para Lapointe, sob qualquer aspecto, seja no gelo, seja no hospital.

C Alexei Yashin (New York Islanders)
Salário: US$ 7.400.000
A chateação não compensa. Yashin é um belo jogador, mas que peca demais pelo desleixo e uma certa irregularidade. Eu olho para ele e me vem à mente um jogador habilidoso, mas pouco esforçado, que geralmente leva tempo para acordar na temporada. Sim, ele lidera novamente em pontos os Islanders nesta temporada, é verdade. Para isso, o salário anual dele é quase o dobro do segundo maior do time, os US$ 4 milhões de Chris Osgood. O mais/menos do russo nesta temporada está num patamar negativo em níveis indecentes; é, de longe, o pior do próprio time. O histórico de Yashin mostra que ele amarela quando chega a hora da decisão, especialmente nos playoffs. O dinheiro pode ser melhor aplicado.

D Sandis Ozolinsh (Florida Panthers)
Salário: US$ 5.500.000
Já se vão os áureos tempos de Colorado Avalanche, quando era uma das peças principais de um grande time, chegando a ser indicado ao Troféu Norris. Ao longo de toda a carreira, sempre foi um excelente atacante jogando na defesa. Quando começou a entrar em decadência, ainda nos Avs, aqueles analistas de fantasy começaram a recomendar cautela com os altos pontos de Ozolinsh, em contraponto aos negativos de +/-. Também nunca foi tão ruim assim, exceto no ano em que esteve em Carolina. Apenas trata-se de um defensor pouco confiável para exercer o seu papel primordial de defender. Convenhamos, US$ 5,5 milhões/ano por ele é de lascar.

C Eric Lindros (New York Rangers)
Salário: US$ 2.700.000, mais bônus por partida jogada
O salário dele nem é exatamente alto, mas os bônus eu duvido que sejam baixos. Não consegui descobrir os termos exatos, principalmente no tocante a esses bônus, do contrato dele com os Rangers. Chega de falar mais sobre Lindros: poucos jogadores deram tanto prejuízo a uma organização quanto Eric deu aos Flyers. Em Nova York ele nem está mal atualmente, mas para quem, por anos a fio, seria um dos grandes jogadores da NHL de todos os tempos, a decepção nem bate mais à porta; ela já saiu pelos fundos.

D Darius Kasparaitis (New York Rangers)
Salário: US$ 4.100.000
Kaspar sempre foi adorado pelos torcedores de Pittsburgh, que o viam desferir duros trancos nos adversários. Críticos sempre diziam que ele saía de sua posição para fazer isso e que, se os atacantes adversários tivessem paciência, atuariam no estilo "leve-o-tranco-e-faça-a-jogada", explorando os espaços vazios que ele deixaria. Negociado para o Avalanche perto do dia-limite de trocas de 2002, Kasparaitis não teve o impacto esperado em Denver. Nos Rangers, onde para ter algum impacto basta jogar bem, o defensor segue seu calvário.

C Bobby Holik (New York Rangers)
Salário: US$ 9.600.000
Certamente a maior das piadas desta temporada. Custo a crer que alguém, algum dia, possa ter acreditado que este é o valor de mercado de Holik. Apostaria que boa parte da liga não pagaria metade disso a ele. Não que não seja um bom jogador; ele é. Sua excelência defensiva e sua postura robusta no ataque, em tese, cobririam estas, que eram duas das grandes carências do time dos Rangers antes da temporada. Como tudo o que tem acontecido no gelo do Madison Square Garden ultimamente, não deu certo. Holik é hoje o jogador mais sobrevalorizado da liga.

Marcelo Constantino recomenda a visita ao site www.hockeyworld.com.br, onde há notícias em português sobre diversas modalidades de hóquei.
SÍMBOLO DO DESPERDÍCIO Poucos discordam que Bobby Holik (16), aqui trepado em Nick Boynton, dos Bruins, é o mais sobrevalorizado jogador da NHL hoje em dia (Michael Dwyer/AP - 05/10/2002)
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Página publicada em 29 de janeiro de 2003.