Por Humberto Fernandes

Aconteceu em Phoenix. Em dezembro de 2000, Claude Lemieux, então um agente livre, assinou contrato com os Coyotes, trazendo consigo quatro Stanley Cups em passagens por Montreal Canadiens, New Jersey Devils e Colorado Avalanche.

Após 164 jogos, 32 gols e 81 pontos nos Coyotes, perdendo os playoffs em 2001 e não fazendo nada em cinco jogos nos playoffs de 2002, foi negociado com o Dallas Stars, em troca de Scott Pellerin e uma escolha condicional no recrutamento.

Este tempo todo em Phoenix — duas temporadas e meia — não sendo um fator para o time, não o ajudando a chegar aos playoffs, nem mesmo produzindo na pós-temporada, sua especialidade. E eu aqui pensando: como é que Lemieux pode ter participado de quatro conquistas da Stanley e não acrescentar nada aos Coyotes? Só há uma explicação. Não sei se você viu o filme Forrest Gump, eu não o vi, mas li que é a história de um sujeito nada brilhante, mas que participou — e se deu bem — de vários momentos históricos americanos, porque estava sempre no lugar certo, na hora exata. O Forrest Tartaruga Lemieux também teve a incrível habilidade de, em sua vida no hóquei, estar sempre no momento certo, no lugar certo. Então, esta é a explicação: Lemieux é o Forrest Gump da NHL!

A primeira Stanley Cup deste Forrest aconteceu em 1986. Foi o ano em que Patrick Roy surgiu e os veteranos dos Canadiens, especialmente Mats Naslund e Larry Robinson, quebraram recordes pessoais, mas ninguém se lembra de 1986 como a Copa de Lemieux. O Forrest estava lá, disputando apenas dez partidas da temporada regular e empatando com Roy em pontos: três. Nos playoffs, participou de todos os 20 jogos, sendo o goleador do time, com dez gols. O fato de Mario Tremblay, Tom Kurvers e Sergio Momesso não terem participado pode ter ajudado um pouco. Caso Roy não tivesse mantido a média de 1,92 gol sofrido por jogo e vencido 15 deles, os Canadiens não seriam campeões.

Na Stanley Cup de 1995, os Devils venceram a Conferência Leste e encontraram o Detroit Red Wings na final. Os Wings eram favoritos e todos em New Jersey se assustaram. Não se ouviu ninguém falando "tudo bem, nós vamos enfrentar os Wings, mas temos... Lemieux!". Jacques Lemaire fez a armadilha e prendeu o adversário, enquanto Stephane Richer, Neal Broten e John MacLean faziam pontos de tudo que é jeito. Lemieux foi o goleador do time, marcando 13 vezes, o que lhe garantiu o Troféu Conn Smythe, apesar de ficar com a quarta posição na artilharia dos Devils. Foi o primeiro título da equipe e o Forrest estava lá, cuspindo o disco para a rede.

No ano seguinte, o Quebec Nordiques se mudou para Denver, tornando-se o Colorado Avalanche. Joe Sakic, Peter Forsberg e Valeri Kamensky apresentaram o hóquei ao povo da cidade e levaram o time aos playoffs. Sakic destruiu os adversários, Forsberg e Kamensky tiveram boas atuações, outros jogadores contribuíram bastante e Lemieux amargou a décima posição na artilharia da equipe. O time de Sakic e Forsberg foi campeão pela primeira vez. Lemieux, com sua habilidade de aparecer na hora certa, foi tricampeão.

Em 2000, o Forrest Gump retornou aos Devils, por meio de troca com o Avalanche. Lemieux não ficou nem entre os cinco artilheiros do time, onde reinava o trio Patrik Elias, Petr Sykora e Jason Arnott, além da grata surpresa, Scott Gomez. O que Lemieux adicionou ao time? Era ele que acordava os jogadores na hora certa? Era ele que dizia onde cada jogador se sentava no avião? Era ele que apitava o início dos treinos? Ninguém sabe, mas o Forrest, que foi campeão duas vezes sem adicionar nada ao time, foi campeão pela quarta vez como um zero à esquerda.

Não se surpreenda se o Forrest Gump da NHL for penta. Como um mísero asa direita da quarta linha, em um time repleto de estrelas, ou até mesmo sendo barrado em favorecimento de outro jogador que esteja em melhor fase. O Forrest é fogo. De alguma forma, está sempre fazendo parte de times campeões. Agora, se a responsabilidade por vencer fosse dele, acho que seria difícil seu nome estar inscrito na Stanley Cup.