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17 de janeiro de 2003
Denver: a capital do universo por um dia

Por Humberto Fernandes

Quinta-feira, à meia-noite (horário brasileiro de verão), Detroit Red Wings e Colorado Avalanche se preparam para o reencontro.

Não é apenas mais um jogo de temporada regular, nem mesmo um comum encontro entre dois dos maiores times da NHL; neste dia, no Pepsi Center, em Denver, pode ser definido o futuro do Avalanche dentro da temporada. Do outro lado estarão seus maiores inimigos, os Red Wings, aqueles mesmos do dia 31 de maio de 2002 — quando os Wings derrotaram os Avs por 7-0 no jogo 7 das finais da Conferência Oeste.

A torcida do Avalanche jamais se esquecerá da atual temporada, onde algumas sonoras mudanças foram feitas na equipe. Primeiro, o gerente geral Pierre Lacroix realizou a polêmica troca que enviou Chris Drury para o Calgary Flames em troca de Derek Morris e Dean McAmmond — outros dois jogadores foram envolvidos, Stephane Yelle e Jeff Shantz. Não sendo suficiente, Lacroix ainda precisou tomar uma difícil decisão: demitir o técnico Bob Hartley.

Outrora consagrado por qualquer fã dos Avs, Hartley saiu chutado de Denver e aparentemente sem deixar saudades. Quando se sagrou campeão, em 2001, sua carreira foi estampada na primeira página de todos os jornais esportivos, como o treinador que conseguiu vencer por onde passou, em todas as ligas. Agora, ao perder algumas partidas e não conseguir fazer o time se encontrar no gelo, foi sumariamente demitido, e em seu lugar entrou Tony Granato — que até o momento não conseguiu nada muito diferente do que já vinha sendo conquistado pela equipe.

As duas modificações foram radicais, mostrando que Lacroix, bem ou mal, é capaz de sacudir o time, seja como for. E foram erradas. Não se troca um jogador como Drury por nada na liga. Não interessa o quão bom seja Morris, Drury é muito melhor e ponto final. Sabe quem lidera a NHL em gols de vitória nos jogos dos playoffs nos últimos anos, empatado com Brett Hull? Drury, o homem decisivo. E quem tem seus gols exibidos em todos os canais de TV constantemente? Drury, o "Mr. Highlight". Quem era visto como o futuro capitão dos Avs? Drury, jovem e já um líder. E Morris? Apenas um defensor que atua muito bem tanto no ataque quanto na defesa. McAmmond? Um central frustrado.

Hartley irritou a torcida ao insistir no erro de atuar com apenas cinco defensores, concedendo ao sexto homem pouquíssimo tempo de gelo — geralmente menor que cinco minutos. Tentou de todas as formas encontrar o estilo de jogo ideal, mas os Avs não são os mesmos há muito tempo, mais precisamente desde 31 de maio do ano passado.

Quase oito meses depois, há a primeira chance de exorcizar este fantasma — Patrick Roy que o diga. Não basta vencer os Red Wings, é preciso humilhar. Uma goleada, com shutout de Roy. Talvez assim, o goleiro, tido por muitos como o maior de todos os tempos, possa se libertar desta péssima primeira metade de temporada e liderar o time rumo aos playoffs e como um dos favoritos ao título.

Cabe ao atual campeão da Copa Stanley não permitir que o gigante se ponha de pé novamente. Em Detroit, também há novidades na temporada.

Scotty Bowman se aposentou, e seu braço-direito Dave Lewis foi efetivado como treinador do time. Apesar de ser novato na função, Lewis está nos Red Wings há muitos anos e conhece cada centímetro da Joe Louis Arena e seus jogadores. Estes não contam com o capitão Steve Yzerman, ainda se recuperando de uma cirurgia para reconstrução do joelho. E, aparentemente, também não contam com Curtis Joseph, o consagrado ex-goleiro do Toronto Maple Leafs. Apesar de nunca ter obtido números extraordinários em sua carreira, CuJo mantinha uma certa regularidade. Onde o seu jogo foi parar este ano, ninguém sabe dizer, tanto que o reserva, Manny Legace, chegou a assumir a condição de titular dos Red Wings — mesmo que por uma semana, no mês de dezembro.

A torcida em Detroit não sabe ao certo quem deveria ser o titular contra o Avalanche. Comparando-se os números da temporada, Legace é infinitamente superior. Comparando-se os nomes, quem é capaz de deixar CuJo na reserva? Talvez Joseph seja o favorito dos fãs por ter, em seu histórico, algumas brigas no gelo — sim, a torcida quer ver porrada entre CuJo e Roy.

Apesar da melhor classificação até o momento, os Red Wings não devem ser vistos como favoritos para o confronto. Em jogos como este, onde a disputa não envolve apenas dois pontos, não há qualquer prognóstico. Apenas sabe-se que os dois melhores times da NHL dos últimos sete anos estarão no gelo, para um grande duelo. A maioria dos fãs de ambas as equipes torce fervorosamente para que a rivalidade volte a ser como foi entre 1996 e 1998, quando Wings x Avs era sinônimo de sangue no gelo, mas a atual situação da liga dificulta maiores emoções como aquelas.

Os Red Wings, por duas vezes, usaram de jogos contra o Avalanche para se reerguer na temporada. Em 1997, aconteceu o inigualável Blood bath, e a partir dali, surgiu um novo Detroit, tanto que foram campeões. Em 1998, apenas regulares na temporada, os Wings haviam prometido a Copa para Vladimir Konstantinov e não pareciam capazes disso, até um novo embate contra os Avs. O jogo definiu outro rumo para a equipe, que acabou conseguindo o bicampeonato. Nestes dois embates, algo em comum, além de sangue: brigas entre Roy e o goleiro dos Wings — Mike Vernon, em 1997, e Chris Osgood, em 1998.

Talvez seja o que precisa Roy para voltar ao seu jogo normal: brigar contra os Wings. Resta saber se o esquentado CuJo aceitará derrubar as luvas. De fato, o fantasma dos 7-0 incomoda, mas a qualquer momento ele pode se aterrorizar com o assustador time de Denver e seus craques.

Receita pessoal para o dia de Wings x Avs

Há muito tempo, sigo uma rotina específica em dias deste jogo. Para começar, leio tudo que é publicado pelos maiores jornais de Detroit e Denver. Em seguida, as publicações das principais agências de notícias esportivas. Vale também rever algum jogo histórico gravado ou disputar uma série de playoffs na mais nova versão do jogo NHL (EA Sports). Cerca de três horas antes do face-off inicial, é hora de se concentrar, e daí em diante, até o dia seguinte, desfrutar do maior espetáculo do universo: Detroit Red Wings x Colorado Avalanche.

Humberto Fernandes tem o Avalanche como um grande inimigo, mas mesmo que pudesse, nunca o exterminaria.
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Página publicada em 15 de janeiro de 2003.