Por
Marcelo Constantino
Quando o Detroit Red Wings foi eliminado pelo Colorado Avalanche nas
finais de conferência de 1996, Claude Lemieux disse o seguinte
à imprensa: "Eu penso que os Wings deveriam estar furiosos
pelo jeito que eles vêm jogando nos últimos anos, não
por causa daquele tranco (aquele famoso que ele deu em Kris Draper no
jogo 5 da série)". Sábias palavras do escroque.
Assim fez a gerência do time de Detroit, embora, claro, não
fosse deixar passar em branco a atitude deselegante, para dizer o mínimo,
de um jogador que deu um tranco por trás em um colega durante
uma partida, viu seu maxilar ser dilacerado e jamais deu qualquer demonstração
de ao menos lamentar o ocorrido.
Período entre-temporadas é hora de refletir e avaliar.
Em linhas gerais, a conclusão da gerência dos Wings era
de que o time era extremamente habilidoso e a temporada recordista
de vitórias, os Cinco Russos etc. provavam isso , mas carecia
principalmente de força física para encarar os playoffs.
"Jogadores como Martin Lapointe e Darren McCarty precisam ter mais
tempo de jogo", disse um dos membros da gerência.
Assim foi feito para a temporada de 1996-97.
A nova filosofia ficou nítida não só no aumento
do tempo de jogo daqueles jogadores, mas também na contratação
de Brendan Shanahan e Joey Kocur, no maior papel concedido aos novatos
Jamie Pushor, Aaron Ward e Tomas Holmstrom e também na troca
de Greg Johnson por Tomas Sandstrom. Tudo na mesma direção:
mais força física.
Naquela temporada, Darren McCarty despontou como um atacante que podia
brigar, distribuir trancos a granel e ainda balançar as redes
adversárias. Seus 19 gols (inclusive seis gols da vitória)
e 49 pontos não foram superados nas temporadas seguintes.
Foi a melhor temporada da vida de McCarty, que o credenciou a ser ídolo
em Detroit até hoje. Provavelmente para sempre. Os motivos podem
ser resumidos em três pontos:
1) Foi ele que esmurrou a cara de Claude Lemieux no inesquecível
blood bath contra o Colorado, de 26 de março de 1997.
Uma vingança prometida desde os playoffs anteriores.
2) Foi ele que, não tendo sido expulso, marcou o gol da vitória
naquele mesmo jogo, na prorrogação, com placar final de
6-5. "Se este jogo representa alguma coisa para o Detroit Red Wings,
eles têm de esvaziar seu banco para Darren McCarty", disse
o comentarista da ESPN logo após o gol da vitória. Sofrer
o gol da vitória do mesmo jogador que socou a cara de um dos
seus mais importantes jogadores e depois de jamais ter estado atrás
no placar foi demais para os Avs. É certo que foi decisivo para
o reencontro entre os times mais tarde, novamente na final de conferência.
3) Foi ele que marcou o gol do título da Stanley Cup, de beleza
insuperável desde então. É inesquecível
Gary Thorne narrando o gol ("...Niinimaa in front of him...
McCarty cross, McCarty in, McCarty scoooooores! A magnificent goal;
Darren McCarty!"). E Bill Clement comentando de forma exagerada
("Can you believe this goal by Darren McCarty? 'Move over, Mario,
here I come!'").
Diga, você não sonharia com um heroísmo tríplice
destes quando pequeno? Se este fosse um personagem de filme de Hollywood
beiraria o inverossímil. Imaginem a sinopse: "Jogador querido
pelos colegas, mas pouco popular na liga, esmurra maior inimigo do time
em partida sangrenta e marca o gol da virada na prorrogação.
Na partida decisiva do título, marca o gol da vitória
de forma espetacular". Digno dos exageros do cinemão americano.
Mas foi real.
Naquele ano e no seguinte, McCarty atuou ao lado de Steve Yzerman na
maior parte dos playoffs. Em 1997 teve Sandstrom do lado esquerdo; em
1998, Brent Gilchrist e Tomas Holmstrom alternaram-se na posição.
De 1998 em diante, Scotty Bowman fez McCarty melhorar seu jogo defensivo.
Ele aprendeu, passou a integrar linhas de desvantagem numérica,
tendo, inclusive, marcado um gol nesta situação. A busca
por ser um jogador mais completo acabou, entretanto, fazendo sua produção
declinar, como geralmente ocorre com qualquer jogador que busca aperfeiçoar
seu jogo defensivo.
E isso foi jogado na mesa durante as negociações para
a complicada renovação de seu contrato, em 1999. "Isso
me dói", dizia o jogador. "Eles dizem para você
jogar melhor defensivamente, para jogar para o grupo, e você faz
isso. Na hora de negociar, eles vêm com uma tabela mostrando a
sua produção ofensiva". Felizmente, tudo se resolveu
pouco depois do começo da temporada.
Desde aquele ano atuando principalmente na famosa grind line,
não é sempre que McCarty produz o mínimo esperado.
Tem sofrido críticas crescentes e, durante a temporada passada,
elas vieram com mais força ainda. Contusões constantes
e a produção ofensiva cada vez menor estavam suplantando
o bom trabalho defensivo daquele que era o único no time que
fazia o trabalho essencialmente físico no gelo.
A excelente performance da grind line nos playoffs e um hat-trick
o primeiro de sua carreira contra os Avs no jogo 1 da
final da Conferência Oeste estancaram as críticas.
Felizmente nesta temporada o Big Mc de Detroit está numa ótima
fase. Já ultrapassou o número de gols e pontos da temporada
passada e poderá chegar a uma pontuação que não
tem desde 1998-1999.
Devido à sua liderança e empatia com o público
em geral, torcida e imprensa, é possível que um dia ainda
vejamos Darren McCarty com o C de capitão na camisa dos Red Wings.
Por um jogo, que seja.
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Marcelo Constantino recomenda a todos a visita à página
LetsGoWings,
onde poderão baixar vídeos com todos os citados grandes
momentos de Darren McCarty.
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