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10 de janeiro de 2003
Mais um treinador na rua da amargura

Por Humberto Fernandes

A moda pegou mesmo na NHL. Não importa a equipe, não importam os jogadores — ou a falta deles —, nem mesmo o que o homem atrás do banco representa. Perdeu? Demita o treinador. E tudo se resolve.

Você consegue localizar onde está o erro no trecho acima? Sim, está na última frase. Demitir o treinador definitivamente não é a solução para os problemas de uma equipe, e aquelas que recentemente adotaram esta prática possivelmente pagarão caro por isso — salvo quando acontece uma substituição por melhor qualidade, como no caso do Calgary Flames.

Agora fomos surpreendidos pela demissão de Dave King do Columbus Blue Jackets. É sempre uma mistura de surpresa e decepção encontrar um treinador demitido — a menos que ele venha de Nova York, mais precisamente dos Rangers. Três derrotas causarem a perda do emprego é coisa de futebol; o hóquei está em outro plano, muito mais elevado. Mas não foram apenas três derrotas que derrubaram King. Foram vinte, somente nesta temporada, e 106 em sua história, que se mistura com a dos Blue Jackets, afinal ele foi o primeiro treinador do time, com dois anos e meio de casa.

Ao todo, King comandou o time em 204 oportunidades, conquistando 64 vitórias, as já citadas 106 derrotas, 21 empates e 13 derrotas na prorrogação. Seu melhor momento em Columbus aconteceu recentemente, quando a equipe iniciou a temporada com uma boa campanha (7-5-1-1), a melhor da história da franquia (dois anos!). Desde então, venceram apenas 7 de 26 jogos, perdendo 15.

Doug MacLean, presidente e gerente geral, perdeu a paciência. Vendo seu time na penúltima colocação da Conferência Oeste, com 34 pontos (até o fechamento desta edição) e ainda sendo surrado pelo lanterna Nashville Predators, não pensou duas vezes e resolveu balançar a equipe.

"Esta foi uma decisão extremamente difícil de fazer, porque Dave King é uma tremenda pessoa, que trabalhou muito por esta organização nos últimos três anos", disse MacLean. "Entretanto, eu não penso que estamos onde deveríamos estar como um time, e isto me permite avaliar nossos funcionários por uma perspectiva diferente. É importante para nossa organização progredir".

Visando este progresso, MacLean assumiu interinamente a função de treinador e deve permanecer assim até o fim da temporada. Não é a primeira vez que ele irá trabalhar como treinador, tendo até boas histórias para contar.

Nos últimos 17 anos, trabalhou em diversas equipes da NHL. Imediatamente antes de ser nomeado gerente geral dos Blue Jackets, serviu como treinador do Florida Panthers, compilando a marca de 83-71-33, incluindo 76-59-29 durante as temporadas 1995-96 e 1996-97. Durante este período, somente cinco equipes tiveram mais vitórias que os Panthers: Detroit Red Wings (100), Colorado Avalanche (96), Philadelphia Flyers (90), New Jersey Devils (82) e os Rangers (79). Já na sua primeira temporada como treinador, conduziu os Panthers ao título da Conferência Leste nos playoffs e ao vice-campeonato da Stanley Cup — derrota para o Avalanche por 4-0.

Após conseguir o feito de levar um time com apenas três anos de vida à final da Copa, MacLean recebeu o prêmio de Treinador do Ano concedido pelo The Hockey News e concorreu ao Jack Adams, concedido pela NHL.

MacLean ainda teve passagens pelo St. Louis Blues — como assistente de treinador, entre 1986 e 1988 —, Washington Capitals — também como assistente, antes de assumir o time menor dos Caps na AHL, entre 1988 e 1990 — e Detroit Red Wings — novamente como assistente, entre 1990 e 1992, deixando o cargo no ano seguinte para se dedicar ao desenvolvimento de jogadores, tanto que se tornou assistente de gerente geral e, em seguida, recebeu a função máxima no afiliado dos Red Wings na AHL, de 1992 a 1994. Ele deixou a organização para ingressar nos Panthers como diretor de desenvolvimento de jogadores e, em um ano, tornou-se o treinador da equipe.

Agora ele terá que cuidar dos Blue Jackets, e não será nada fácil. Os jogadores assumiram a culpa pela demissão de King, mas quantas vezes já não vimos isso ao redor da liga, especialmente no último mês?

Certamente não são os jogadores os culpados pela infelicidade de King. Ele mesmo declarou isso: "Atrás do banco, às vezes você abaixa a cabeça e diz, 'puxa, se nós tivéssemos outro jogador ou dois que pudessem fazer diferença'". A falta de bons nomes não permitiu ao ex-treinador repetir o sucesso que teve com o Calgary Flames, entre 1992 e 1995, quando acumulou 109-76-31 e dois títulos de divisão. Apesar disso, foi demitido após os Flames serem eliminados na primeira rodada dos playoffs pelo terceiro ano consecutivo — e agora, há quantos anos aquela equipe não disputa mais que 82 jogos por temporada?

Resta saber se MacLean é capaz de reerguer o time. Não repetir o fiasco da última temporada, quando os Blue Jackets fizeram apenas 57 pontos e terminaram no último lugar do Oeste, não será tão difícil assim. Mas que tal ultrapassar a marca de 71 pontos, feita em 2000-01? Já terá valido a pena para todos em Columbus.

Humberto Fernandes quer ver os Blue Jackets melhores, para acirrar ainda mais a crescente rivalidade com os Red Wings.
O SORRISO FINAL Derek King perde o emprego em Columbus e sorri; não deve ser tão ruim trocar o time (?) pela rua (Terry Gilliam/AP - 07/01/2003)
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Página publicada em 8 de janeiro de 2003.