19 de junho de 2002
Humberto: O passado (recente) dos Red Wings

Por Humberto Fernandes

Em julho do ano passado, após ser eliminado precocemente pelo Los Angeles Kings na primeira rodada dos playoffs, o proprietário dos Red Wings, Mike Ilitch, tinha duas alternativas: construir um time para tentar o título mais uma vez ou renovar o elenco. Felizmente, ele optou pela primeira. E com sucesso.

Ilitch então deu a Ken Holland (gerente geral) a permissão para negociar e gastar.

Os olheiros dos Red Wings descobriram que o defensor sueco Fredrik Olausson estava atuando na Suíça e avisaram à gerência que ele seria de grande utilidade. Papel e caneta na mão, Olausson era o primeiro contratado (o que, na época, não agradou tanto aos fãs).

Então Holland trouxe o goleiro Dominik Hasek, abrindo mão do futuro ao ceder uma escolha de primeira rodada e futuras considerações (outra escolha), além do ex-ídolo Vyacheslav Kozlov.

Este foi apenas o segundo passo. A cartada seguinte trouxe Luc Robitaille para Detroit. Então agente livre, Luc optou por assinar com os Red Wings por dois anos, recebendo US$ 4 milhões por temporada.

Um goleiro para ser titular e vencer jogos, um asa esquerdo para substituir (com folga) Vyacheslav Kozlov... Ainda faltava a última peça deste quebra-cabeça.

Brett Hull. O "Golden Brett" foi a última aquisição de uma equipe nitidamente edificada para vencer. Mas trazer um dos maiores goleadores da história não foi fácil. Três jogadores do elenco (Brendan Shanahan, Chris Chelios e Steve Yzerman) tiveram que ceder US$ 500 mil cada de seus salários para que Hull pudesse ser contratado. E assim o fizeram.

Hull certamente faria a torcida esquecer que havia um Martin Lapointe na asa direita até alguns meses antes.

Com um elenco repleto de estrelas, a maior média de idade da NHL e maior folha de pagamento, os Red Wings estavam praticamente condenados a vencer.

Deste ponto em diante, a vida foi maravilhosa para o Detroit e seus fãs. Tudo é história, desde a sensacional campanha na temporada regular, conquistando o Troféu dos Presidentes, até os playoffs, eliminando o Avalanche e conquistando a Stanley Cup.

Idolatrar tantas estrelas tem um preço: perdê-las algum dia. Neste momento, a grande preocupação de cada fã dos Wings é saber se Hasek joga mais uma temporada. E quem sabe Igor Larionov, o jogador mais velho da NHL, com 41 anos, não vai resolver jogar também? E Chris Chelios, com joelho reconstruído, ótima temporada e talvez Troféu Norris?

A primeira baixa era inesperada e talvez tenha sido a maior delas. Não estou falando de algum jogador que tenha optado pela aposentadoria. É o Mestre. Scotty Bowman decretou o fim da linha para si mesmo. O maior treinador da história deste esporte e seguramente um dos maiores de todos os tempos considerando-se todos os eventos esportivos dá adeus e abre uma lacuna no coração dos fãs.

Nove Stanley Cups (ou Scotty Cups?) vencidas, um recorde indelével e que serve como seu cartão de apresentação. O Mestre não será mais o treinador dos Wings, como também não se aposenta de vez. Ele continua com a organização, em alguma outra função menos desgastante.

O segundo a optar por outro caminho foi Olausson. O defensor deixará os campeões Red Wings e retornará para seu antigo time na Suécia.

O sueco declarou que este era o momento exato para encerrar sua carreira na NHL e retornar ao seu primeiro time, o Farjestad. Olausson deve assinar contrato por dois anos com a equipe, onde atuou antes de ser recrutado pelo Winnipeg Jets, em 1985. Jogou também pelo Edmonton Oilers, Mighty Ducks of Anaheim, Pittsburgh Penguins e SC Bern (Suíça) antes de assinar como agente livre com os Red Wings no ano passado.

Oficialmente, apenas estes dois se pronunciaram. Na fila ainda estão Chelios, Jiri Slegr, Larionov, Uwe Krupp, Steve Duchesne e Hasek.

Os Red Wings já ofereceram um novo contrato a Chelios. Eles querem mais um ano. Os fãs querem mais um ano. O hóquei quer mais um ano. Afinal, quem não vibrou com a intensidade do jogo de Chelios, mesmo com 39 anos e várias cirurgias no joelho? Capitão dos Estados Unidos nas Olimpíadas, teve de amargar a medalha de prata, mas o ouro viria mais tarde com a equipe de Detroit. Dezesseis anos após sagrar-se campeão pelo Montreal Canadiens, Chelios vencia novamente a Stanley Cup.

Slegr tem uma história até mesmo engraçada em Detroit. Os Wings sonhavam com Darius Kasparaitis, mas não tinham muito o que oferecer ao Pittsburgh Penguins por ele. O Avalanche correu na frente e mandou dois prospectos, algo que os Wings felizmente não tentaram cobrir. Então restou trazer Slegr, apenas como uma alternativa para a tão questionada defesa. Mas ele simplesmente foi pouco utilizado, jogando apenas uma partida dos playoffs, o último jogo, e porque Jiri Fischer estava suspenso. Sem Olausson, as chances de Slegr permanecer em Detroit aumentaram. Depende apenas dos Red Wings, pois dificilmente Slegr recusaria continuar na maior força da NHL.

O Professor Larionov encontra-se na mesma situação de Chelios. Basta a ele decidir se continua ou não no hóquei e os Red Wings tomam sua posição. Em Detroit, Larionov continua sendo unânime, mesmo aos 41 anos. Sua astúcia continua a mesma e ele ainda patina como uma criança. Capaz de criar jogadas fatais e dotado de grande experiência, por diversas vezes contribui para que os Wings vençam partidas. Se o Professor quiser mais um ano, o Detroit dar-lhe-á mais um ano, e ele concederá aos fãs mais um ano de seu reinado.

O próximo jogador a ser destacado não merece comentários, mas não poderia ser esquecido. Krupp, a "Besta Alemã", finalmente deve ir embora de Detroit. Anos e anos contundido ou suspenso, Krupp retornou para dois jogos durante a temporada regular e se machucou novamente. Participou do fim da mesma e iniciou os playoffs. Foram dois jogos, duas péssimas atuações (como sempre) e duas derrotas da equipe. Resultado: Krupp felizmente não jogaria mais. Mesmo que toda a defesa dos Wings se aposentasse, Krupp não receberia da equipe uma proposta de renovação de contrato. Ele que procure outro lugar para atrapalhar.

Outro defensor na berlinda é Duchesne. Teve uma atuação regular nos playoffs, apagando de certa forma a imagem de jogador que comete muitos erros idiotas. Ao lado do veloz Mathieu Dandenault, formou uma sólida linha defensiva e contribuiu ofensivamente, até mesmo em vantagem numérica. Os fãs certamente jamais se esquecerão do momento nas finais da Stanley Cup em que ele levou uma tacada no rosto e perdeu sete dentes. Ainda assim, retornou ao jogo naquela noite e continuou firme até a conquista do título. Sua situação é cômoda porque possui no contrato um ano opcional, justamente o próximo. A diferença estará em quem exercerá a opção continuação do trabalho. Caso seja o jogador, o salário diminui e a cláusula que proíbe a troca deixa de existir. De qualquer forma, Duchesne continua em Detroit.

Por fim, o Dominador. Finalmente com seu nome devidamente marcado na Stanley Cup, Hasek pode se aposentar, com a certeza de ter tido uma carreira brilhante e repleta de conquistas. Tudo que poderia vencer, ele venceu. Olimpíadas, prêmios individuais e agora a copa. Caso decida continuar, os Red Wings são obrigados a ceder ao Buffalo Sabres sua escolha da segunda rodada do recrutamento do próximo ano como futuras considerações, devidamente negociadas no ato de sua vinda para Detroit. Estas futuras considerações já renderam aos Sabres a primeira escolha de 2003, pela conquista do título. No geral, a torcida pouco se importa com esta escolha de segunda rodada e quer ver mesmo é Hasek continuar nos Red Wings. Talvez ele queira o bicampeonato. E quando Hasek quer pode até haver quem não queira, mas o Dominador é favorito, sem dúvida.

Na próxima edição, "O futuro (próximo) dos Red Wings". Destaque para os jovens jogadores da equipe, como os já conhecidos Maxim Kuznetsov, Jason Williams e Sean Avery, além do candidato a estrela Pavel Datsyuk. Outra grande promessa, Henrik Zetterberg, será apresentada no artigo.

Humberto Fernandes afirma: os Red Wings não são simplesmente um time de hóquei, eles são um símbolo de superioridade.
 
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Página publicada em 17 de junho de 2002.