3 de abril de 2002
Thomaz: Colorado Avalanche, feito para vencer

Por Thomaz Alexandre Amaral

Maio de 2001: após uma temporada digna do President's Trophy, dado ao time com mais pontos ao fim da temporada regular, o Colorado Avalanche varre o Vancouver Canucks na abertura dos playoffs. Até aí, tudo conforme o esperado, mesmo com uma performance nada sólida de Patrick Roy nas quatro vitórias sobre o time da Colúmbia Britânica.

Na série seguinte, o adversário seria o surpreendentes Los Angeles Kings, que soube se aproveitar das contusões do Detroit e eliminar os favoritos Wings na primeira rodada (quem esquece o gol do asa americano e ex-Avs Adam Deadmarsh?). Em sete jogos, em que Roy ainda não havia atingido seu ápice e Feliz Potvin se destacou, o Avalanche achou o caminho para vencer. Vencer calcado numa estrelada coleção de defensores, a tão falada linha um de Tanguay-Sakic-Hejduk (arranjada no início dessa mesma temporada após algumas contusões) e o trabalho de Forsberg e do futuro capitão Drury na linha dois. Vale ressaltar nessa série o destaque incomum da linha Podein-Yelle-Messier.

Na comemoração após a quarta vitória sobre os Kings, veio o maior golpe contra o time (e não foi nenhum soco de Darren McCarty) na pós-temporada: Forsberg, após princípio de sangramento, foi levado às pressas a um hospital, onde teve seu baço removido. Fim de playoffs para o jogador com mais pontos de pós-temporada entre os anos de 1996 e 2000 (102). Fim da segunda linha de ataque dos Avs, que, ao aliviar a pressão sobre a linha um, era tão responsável pelo sucesso dessa quanto o próprio? Fim dos times especiais? Fim do Avalanche na temporada?

Ledo engano. A partir daí, a começar pela série contra os Blues, todo mundo conhece a história. Contando com excelentes novatos (por exemplo, Ville Nieminen) e peças secundárias vindas em grandes trocas (como Steven Reinprecht), o time reformulou as linhas dois (agora mais focada em Drury), quatro (geralmente conhecida apenas pela mania de "Five For Fighting" dos quase cômicos Dingman-Reid-Parker) e os times especiais. Daí o trabalho de Bob Hartley (técnico já campeão da AHL pelos Bears) e, principalmente, Pierre Lacroix, considerado por alguns como o maior Gerente Geral dos quatro esportes mais importantes da América do Norte, foi recompensado. O Colorado partiu para um 4-1 contra Saint Louis, que vinha de varrida sobre o Dallas, e um 4-3 contra o New Jersey, que acabara de atropelar a sensação de 2001: o Pittsburgh Penguins de Mario Lemieux.

Após conquistar a Stanley Cup, Lacroix e Harley tiveram de encarar mais batalhas na entre-safra das temporadas. Para começar, a pendenga da renovação com Joe Sakic, Rob Blake e Patrick Roy, simplesmente os principais da equipe em suas posições: ataque, defesa e gol, respectivamente. Além de salários altos, um mítico pacto entre os três astros, que diziam só renovar se todos o fizessem, fez torcida e diretoria arrancar os cabelos. Por fim, Lacroix conseguiu que as coisas corressem mais ou menos facilmente com Blake e Roy e, no que diz respeito a Sakic, teve de contrabalançar. De um lado, não deu ao central ex-capitão do Quebec Nordiques o aumento esperado no salário, porém, de outro, teve de assinar a tão evitada cláusula "sem troca", que, como propõe o nome, impede que o jogador seja trocado até a conclusão do contrato. Nota: Sakic será agente livre irrestrito ao fim deste contrato, logo não há possibilidade de ele ser negociado sem mais uma senhora canetada após os próximos quatro anos.

Saindo do escritório e rumo ao gelo, mas duas pendências: montar um time competitivo sem contar mais com o aposentado Ray Bourque e o enrustidamente contundido Peter Forsberg (já recuperado da cirurgia do baço). Mais tarde, já com a temporada em andamento, Forsberg voltou à mão dos médicos e ficou sabendo que não jogaria em 2001-2002, perdendo toda a temporada (apesar de estar planejando voltar a patinar nesta semana) e a Olimpíada de Salt Lake City, onde sua Suécia protagonizou um fiasco de corar a nação.

Mas uma vez, o bom trabalho do GG (viu, Glen Sather?) nos quesitos trocas e recrutamento, o susto passou. Passado um início de temporada aquém do desejado, vendo os Oilers à frente na divisão por um bom tempo, o time se reencontrou. Começando pelo gol, Patrick Roy veio a apresentar números de MVP (jogador mais valioso) e David Aebischer a ser um reserva muito confiável (inclusive defendendo a Suíça em Utah); na defesa, o veterano Todd Gill foi chamado, Rick Berry, do Hershey Bears, ascendeu ao time principal e, na quarta mega-troca em datas-limite consecutiva, Darius Kasparaitis tornou-se mais um "pé-grande"; já no ataque, Sakic manteve-se entre os melhores da liga, Ville Nieminem evoluiu ainda mais (apesar de em março ter deixado a equipe), Reinprecht ganhou mais tempo no gelo e um novo favorito dos torcedores apareceu: o explosivo calouro Radium Vrbata, novato do mês em fevereiro. A seqüência de arenas lotadas vinda de 1995-96 se estendeu e os campeões de Denver foram em frente.

As cartas que foram postas na mesa assustam e ninguem duvida que ainda existam outras na manga do Sr. Lacroix. E ainda há aquela carta marcada, que todos sabemos onde está: o próprio Forsberg. Tudo bem, ele custa ao time US$ 10,5 milhões, mas neste ano não está ganhando nada. Isso significa que esses milhões serão adicionados à folha salarial do time nas próximas temporadas. E quando Forsberg voltar? Bingo! Ou teremos a adição de um dos melhores centrais possíveis ao time com a segunda melhor campanha ou teremos trocado-o por algo que certamente será de valor (lembram-se de Eric Lindros?). Nada mau.

Resultado: hoje o Colorado Avalanche tem a segunda melhor campanha do Oeste e da liga, lembrando mais uma vez que o início de temporada não havia sido nada de mais. O Detroit Red Wings já espera ansioso por eles nas finais de conferência e os apreciadores do melhor jogo e das mais amargas rivalidades também.

Thomaz Alexandre, estudante de estatística e apreciador de artes, tem na redação o seu hobby e profissão ideais.
 
CELEBRAÇÃO Jogadores dos Wings à frente de Patrick Roy: esperança de que isso não aconteça nos playoffs (David Zalubowski/AP - 23/03/2002)
 
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Página publicada em 1.º de abril de 2002.