3 de abril de 2002
Fernandes: uma década de domínio

Por Humberto Fernandes

Dois minutos restando no terceiro período: Brendan Shanahan bloqueia o disco, manda a tacada... GOL! A equipe comemora. Os Wings empatam o jogo no final.

Isso foi na segunda-feira. Em 73 jogos nesta temporada, os Wings perderam apenas 14 vezes. Metade da equipe tem chances claras de entrar para o Hall da Fama. Lideram a liga na classificação, audiência na TV e vendas de produtos.

O que é novidade então?

Os Wings e seus modos vitoriosos têm-se tornado rotina para os fãs. Eles têm um time interessante há 15 anos e são um concorrente à Stanley Cup há dez. Há vários jovens na faculdade hoje que não sabem que em meados da década de 80 os Red Wings eram conhecidos como Dead Things (coisas mortas).

Isso não é normal.

Os times profissionais, em sua maioria, não permanecem competitivos por toda uma geração. Veja os exemplos de Pistons (NBA), Lions (NFL) e Tigers (MLB).

Mike Ilitch às vezes poderia ser considerado a pessoa mais difamada em Detroit desde o antigo prefeito Coleman Young, mas com Ilitch -- que celebrará 20 anos como dono da equipe -- os Wings se tornaram a maior dinastia na história do esporte em Detroit e uma das mais prósperas franquias durante os 85 anos de National Hockey League.

Eles acreditam nisso até mesmo no Canadá.

"Com certeza, é a melhor franquia da NHL atualmente e de uma pura perspectiva de hóquei, eu penso que este time a que estamos assistindo agora é certamente um dos melhores que já existiram", disse Jim Hughson, um famoso locutor de hóquei de Vancouver. "Manter isso, e eles mantêm por 11 ou 12 anos, é algo notável".

Ele acrescentou: "Eles obviamente têm uma das bases mais leais de fãs da liga -- e não me refiro apenas a esta atmosfera aqui, onde a arena é grande e a Joe Louis Arena está constantemente viva. Ao redor da liga, eu vejo mais camisas dos Wings em todas as arenas a que vou que qualquer outra coisa. Eles desenvolveram uma legião de fãs pela América do Norte como nenhum outro time".

Tudo isso vem com vitórias, é claro. Mas como os Wings têm empilhado vitórias e duas Stanley Cups, recusam-se a deixar de lado os esforços no setor de marketing. Continuam pensando em maneiras de vender a marca da equipe como nenhum outro time pensou -- qualquer coisa que coloque o logotipo dos Wings em mais casas.

Jogo após jogo por mais de uma década, cerca de 20 mil pessoas descem de seus carros e entram na Joe Louis Arena, onde têm acesso a uma loja da equipe, onde você pode comprar de tudo, desde uma garrafa de água (US$ 3) ou os patins de Luc Robitaille (US$ 300) a uma camisa autografada e emoldurada de Steve Yzerman (US$ 699).

Durante a recente "Stanley mania" dos anos 90, os Wings criaram a inteligente campanha Hockeytown, que encarnou a tradição de hóquei em Detroit durante toda a década. Capitalizando nas peripécias culinárias de Ilitch, eles criaram o "Hockeytown Cafe", onde os fãs podem comer e beber enquanto assistem ao vivo ao que acontece na Joe Louis Arena.

"Quando eles vencem no gelo, encontram maneiras de capitalizar isso de uma grande forma fora do gelo", disse Don Waddell, vice-presidente e Gerente Geral do Atlanta Thrashers, antigo Gerente Geral-assistente em Detroit.

Os Wings vendem todos os seus ingressos há 225 jogos consecutivos. Suas audiências na rede local de televisão, a Fox Sports Network, subiram 95% em relação ao ano passado e suas audiências gerais superam os índices de qualquer time da NHL em todos os Estados Unidos. São mais de 10 mil fãs na lista de espera por ingressos na temporada.

Camisas, jaquetas e qualquer produto de hóquei? Eles são o número um da América do Norte.

"Eles claramente são uma marca nacional", disse Ed Horne, presidente da Empreendimentos da NHL (NHL Enterprises), o braço comercial da liga.
Os Wings também precisam de renda para compensar seus salários. A folha de pagamento da equipe atingiu 68 milhões de dólares, maior marca da Liga.

Paralelamente, os Wings estão entre os líderes em valor de franquia, estimada entre 225 e 250 milhões de dólares. Em 1982, Ilitch e sua esposa, Marian, compraram a equipe por 8 milhões.

Os Wings eram, então, uma piada internacional. Tinham deixado de ir aos playoffs em 14 das 16 temporadas anteriores. Um desprezível contingente de 1,5 mil possuidores de ingressos formaram o núcleo de frustrados, porque tanto eles quanto Ilitch cresceram acompanhando os grandes times dos Wings nos anos 50. A Joe Louis Arena, com três anos de utilização, tinha o charme de um armazém.

"Em meu primeiro ano, acho que tivemos uma média de 13 mil fãs por jogo. Não foram televisionados muitos jogos", disse Yzerman. "Havia três bicicletas e um aparelho geral no vestiário, e eu não sabia se duas das bicicletas funcionavam".

Os Wings começaram a gastar imediatamente. A primeira contratação de Ilitch foi seu primeiro Gerente Geral, Jim Devellano, que perseguiu os jogadores, de uma pequena cidade norte-americana até a Europa Oriental. Sua primeira escolha no recrutamento foi uma maravilha: Yzerman. Ilitch reformou a Joe Louis Arena e embarcou em uma nova era de promoções, sorteando um carro 0 km em todos os jogos em casa durante sua primeira temporada. Ele comprou um jato para a equipe.

Levou algum tempo para as coisas darem certo. Os críticos bateram Ilitch e Devellano -- agora Vice-Presidente Sênior -- desde preço de ingressos até maltratar o problemático Bob Probert, agora em Chicago.

"Nós tivemos muita sorte, mas, como Branch Rickey disse certa vez, 'sorte é o resíduo do projeto'", disse Devellano, referindo-se ao arquiteto do sucesso do Brooklyn Dodgers no beisebol.

Esta magnífica temporada está acabando. Em cerca de um mês, os playoffs da NHL vão começar. No dia 4 de junho, um dia depois do 20.º aniversário da compra do time por Ilitch, a série final está programada para começar.

Se os Wings chegarem às finais, os melhores ingressos na Joe Louis Arena custarão US$ 450 cada, elevando a possibilidade de os casais que assistem aos jogos juntos desembolsarem algo próximo de US$ 1 mil.

Com tamanha folha de pagamento, a menos que os Wings avancem bastante nos playoffs, a temporada terá sido um fracasso financeiro, dizem os funcionários da equipe e os analistas externos.

Com estes preços, seus recordes e sua história, a menos que os Wings ganhem tudo, a temporada será um estouro nas mentes de muitos fãs. Os visitantes são questionados sobre a equipe em conversas na rádio esportiva.

Há apenas um resultado aceitável: vencer a Stanley Cup.

"Isso é verdade", disse Mike Ilitch há duas semanas. "É o que todos esperam. Isso vai com o território. As expectativas são altas. Não podemos deixar escapar".

Serão aproximadamente 90 dias antes de sabermos. O drama está começando. Entretanto, podemos deixar a ansiedade e os problemas com o Detroit Tigers (MLB), também de Ilitch, e celebrar um time que é celebrado onde quer que seja o hóquei seja jogado.

Humberto Fernandes, completamente apaixonado pelo Detroit Red Wings, aclama o sucesso da família Ilitch em Detroit.
 
CELEBRAÇÃO Jogadores dos Wings à frente de Patrick Roy: esperança de que isso aconteça também nos playoffs (David Zalubowski/AP - 23/03/2002)
 
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Página publicada em 1.º de abril de 2002.