Por
Alexandre Giesbrecht
No momento que começo a escrever estas linhas, manhã de
quinta-feira, 14 de outubro, era para eu estar fazendo outra coisa.
Em primeiro lugar, não era para eu estar trabalhando em uma edição
da Slot. Afinal, a edição
da semana teria entrado no ar ontem, com as nossas previsões
para a temporada que se iniciaria no dia anterior. Ou seja: eu já
estaria atrás do que de mais interessante foi publicado nos Estados
Unidos e no Canadá sobre o primeiro dia da volta do hóquei
aos rinques da América do Norte.
Alguma curiosidade, o astro da rodada, quem surpreendeu, quem decepcionou,
quem fez o que era esperado. Algo que já começasse a me
fazer pensar no assunto da coluna da semana seguinte.
Ao invés disso, sento na frente do computador sabendo que esta
é a minha primeira coluna em quase quatro meses e também
a última em sabe-se lá quanto tempo. Não haverá
coluna na semana que vem. Simplesmente porque não há NHL
para se cobrir.
Picuinhas envolvendo muito dinheiro — mas, que, ainda assim, não
passam de picuinhas — impediram que o esporte mais quente do gelo
voltasse. Claro, a AHL está voltando e as ligas européias
têm vários dos craques que estariam ostentando uma camisa
da NHL, mas é um pouco tarde para aprender quem são os
principais jogadores do Sodertalje na liga sueca.
Ninguém faz a menor idéia de quando teremos a NHL de volta.
Existem chances remotas de que ela esteja de volta ainda este ano. Alguns
crêem que isso se dará em janeiro, como ocorreu em 1994-95.
Mas a maioria parece acreditar que a temporada de 2004-05 nunca fará
parte das estatísticas.
A maioria também parece estar do lado dos dirigentes, e isso
faz sentido por tudo que foi publicado até aqui a respeito do
assunto: que os jogadores, basicamente, querem ganhar o mesmo que seus
colegas de futebol americano e beisebol, sem, contudo, sua liga ter
recursos para isso. Simplesmente não faz sentido. Se um negócio
começa a usar muitos de seus recursos para pagar salários,
acaba indo à falência. É o que acontece em qualquer
economia, a não ser no futebol brasileiro.
Os donos de times não agüentam mais a situação,
embora esta tenha sido provocada por eles mesmos, quando certos times
começaram a pagar salários astronômicos para jogadores
medianos (alguém aí mencionou os Rangers?). Já
os jogadores não querem, obviamente, que nada mude. E por que
quereriam? Ganham como nunca, e sabem que os dirigentes não vão
agüentar muito tempo sem as receitas dos jogos.
Ou será que vão? Muitos deles já deram declarações
dizendo que perdem menos dinheiro com o locaute do que jogando. Enquanto
isso, os jogadores submetem-se a salários mais baixos e a impostos
mais altos na Europa. Na Suécia, por exemplo, alguns jogadores
da NHL abandonaram os times com quem tinham assinado contrato para esta
temporada depois de descobrir que, pela lei sueca, qualquer pessoa que
fique lá por mais de seis meses tem de pagar impostos referentes
a tudo o que possui — inclusive no exterior.
Taí algo que os líderes da Associação de
Jogadores da NHL (NHLPA) não esperavam. E eles não esperavam
também que sua categoria fosse tão desunida. Mais de um
quarto de seus integrantes estão jogando na Europa. Ganhando
menos, é verdade, mas recebendo salários. Enquanto isso,
alguns jogadores jogam por trocados em ligas menores ou simplesmente
ficam em casa esperando a situação se resolver.
Nem a greve dos bancários aqui no Brasil, que já acabou
em seis estados, está com a categoria tão desunida. Os
dirigentes, por outro lado, estão unidos pela causa, e já
demonstraram isso quando separaram US$ 10 milhões do orçamento
de cada time para um fundo coletivo de auxílio enquanto não
se chegar a um acordo.
Quem você acha que vai agüentar mais tempo: os jogadores
sem salários ou o fundo coletivo dos times?
Eu aposto na segunda opção.
Só não sei quanto tempo se passará até termos
a resposta definitiva.
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Alexandre
Giesbrecht, publicitário, descobriu nestas últimas
férias duas bandas que recomenda: Tantric e Perfect Circle. |
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