Por
Bruno Bernardo
A Copa Stanley precisa de um bronzeado, diziam os cartazes na arena
em Tampa Bay, e ela vai ficar mesmo mais douradinhá neste ano. O time
da Florida venceu uma das séries mais empolgantes da história do hóquei,
e não tenho dúvidas em dizer que foi a melhor a que já assisti até hoje.
Neste artigo irei analisar as principais peças dessa grande máquina
de raios, de maneira breve, claro, pois senão precisaria de uma edição
única, além de muito tempo. Apresentamos os componentes:
Brad Richards O Jogador Mais Valioso, não precisaria dizer mais
nada, mas tenho que comentar isso: Se Richards marca um gol, seu time
não perde o jogo. Isso aconteceu 33 vezes na temporada, foram 31 vitórias
e dois empates. Somente nesta pós-temporada ele teve 26 pontos em 23
jogos, liderando a equipe. O troféu Conn Smythe é merecidissimo.
Chris Dingman De novo ele. Na minha opinião Dingman nasceu com
muita sorte, foi membro do grande time do Colorado Avalanche quando
ganhou a Copa Stanley de 2000 e agora é membro do Tampa Bay. Ele não
passa de um jogador de quarta linha, mas está sempre nos bons times,
o que lhe dá algum mérito. Jogou bem quando precisavam dele.
Cory Stillman Cory Stillman jogou pelo Calgary durante muito
tempo. É irônico que ele tenha vencido a Copa Stanley batendo seu time
anterior, porém ele foi um jogador valioso para o time. Stillman, que
veio nesta temporada numa troca com o St. Louis Blues no dia do recrutamento,
possui uma velocidade diferencial, que foi um dos motivos dele ter dado
o primeiro passe para o gol vencedor de Fedotenko no jogo 7.
Darryl Sydor Sydor veio para a defesa do Lightning no meio da
temporada, e como isso ajudou o time de Tampa! Junto com Kubina, Sydor
anulou o jogo de Jarome Iginla, e terminou com sete pontos na pós-temporada.
Ele também foi um jogador muito disciplinado, com apenas seis minutos
de penalidades nos playoffs. Com certeza, sem ele, a vitória teria sido
muito mais difícil.
Dave Andreychuk Depois de 22 anos, finalmente ele vence uma
Copa Stanley. Ele foi o líder do time, um veterano, o capitão. Com um
time jovem, como é o Tampa, alguém tem que fazer este trabalho, e Dave
foi o jogador para isso. A diretoria de Tampa já queria alguém como
ele há muito tempo, e quando seu nome ficou disponível, eles não tiveram
dúvida, quiseram contratá-lo e, após três temporadas, isso deu resultado.
Ele não fez nenhum gol nessa série final, mas nem precisava, só a sua
presença no gelo inspirava seus colegas e mobilizava um pouco da atenção
da defesa de Calgary. Junto com Ray Bourque, ele foi o jogador que teve
que esperar mais tempo para escrever seu nome na Copa Stanley, e acredito
que agora, assim como Bourque, ele encerra a carreira.
Dmitry Afanasenkov Esse é um nome novo, mas importante para
o time. Seu desempenho foi importante para a vitória da equipe, ele
foi o tipo do jogador que ninguém percebe muito, mas que acaba fazendo
boas partidas. Ele sempre teve uma média de mais de 10 minutos nos jogos,
sendo um bom nome para o futuro do time.
Fredrik Modin Um dos membros da linha principal, ficou meio que
na sombra de Lecavalier e St. Louis, mas conseguiu fazer bons jogos,
conquistando a Copa Stanley pela primeira vez com 19 pontos em 23 jogos
na pós-temporada.
Martin St. Louis Candidato a jogador mais valioso da temporada,
líder em pontos na liga, ninguém conseguiu tirar a pilha desse jogador.
Seu gol na prorrogação do sexto jogo foi, sem dúvida, o mais importante
de sua carreira. Considerado pequeno por muitos olheiros na liga, ele
provou a todos, e a seu antigo time, que é um jogador indispensável.
Com uma visão de jogo rara e um entendimento dos momentos da série,
ele permaneceu calmo, não se descontrolou e teve jogos memoráveis para
todos os fãs de hóquei. Ele era minha escolha para jogador mais valioso,
e poderia, sim, ter ganho, por que não?
Nikolai Khabibulin Ele foi o muro que salvou Tampa de algumas
derrotas. Com duas atuações magistrais ele fechou o gol e deu as duas
últimas vitórias para a equipe da Florida. Três fatores foram chave
nessa série, e os três aconteceram nos últimos dois jogos. Primeiro,
a grande defesa com o pé no disparo de Martin Gelinas, que muita gente
pensou que havia sido gol no lance. Segundo, outra defesa sensacional
no segundo período no jogo 7. E o terceiro ponto, para mim o mais importante,
o foco, no terceiro período, Bulin fez, nem sei quantas, umas sete defesas
difíceis para segurar a vitória. Ele é, salvo engano, o primeiro goleiro
russo a ganhar uma Copa Stanley. Sem dúvida um prêmio merecido para
ele, que foi uma das peças mais importantes do time.
Pavel Kubina Duas palavras: bloquear chutes. Pelo menos 15 discos
nos últimos dois jogos foram bloqueados por Kubina. Isso é a marca de
um jogador que está disposto a pagar o preço por uma Copa Stanley, seja
perdendo dentes ou ficando com marcas roxas. Kubina, junto com Sydor,
anulou Jarome Iginla, que mal conseguiu disparar a gol nos últimos jogos
da série.
Ruslan Fedotenko Ele veio do Philadelphia por uma escolha no
recrutamento, e essa troca deu muito certo para o Tampa. Afinal, o que
pode se dizer de um jogador que marca os dois gols da vitória num jogo
7 das finais da Copa Stanley? Fedotenko foi um jogador muito visado
na série, sofreu com a marcação pesada, teve vários cortes e arranhões,
e jogou com puro coração. Sua velocidade é um ponto forte, que deixou
a defesa do Calgary atrapalhada em muitos lances.
Tim Taylor Veterano, Tim Taylor tem uma carreira extensa,
já jogou em tudo quanto foi time. Seu melhor momento talvez tenha sido
no jogo 6, quando um disparo seu causou o rebote no qual St. Louis marcou
o gol da vitória. Essa foi sua segunda Copa Stanley, a primeira veio
com Detroit em 1997.
Vincent Lecavalier Outro que dispensa comentários, passou um
tempo preso à defesa do Calgary, mas, quando encontrou seu jogo, foi
perfeito, deixou a defesa adversária tonta e deu um passe para Fedotenko
marcar o gol da vitória. Depois disso ele não parou mais, infernizou
os Flames com jogadas excelentes e quase marcou o seu numa bela defesa
de Kiprusoff. Sua visão e criatividade foram essenciais para o Tampa,
é outro jogador daqueles que mereceram vencer a Copa Stanley.
Dan Boyle Ele veio do Florida Panthers para seu time rival. É
o tipo de jogador que faz tudo pelo time, jogou muito na série e foi
um dos pilares na equipe de vantagem numérica. Sem dúvida outro jogador
daqueles que fazem falta. Não poderia terminar esta matéria sem falar
de John Tortorella, afinal o técnico do time também tem méritos. Sua
idéia nesta série foi simples, apenas excitar os jogadores, dar o suporte
psicológico necessário para seu time vencer a série. Ele sabia que não
tinha como ensinar mais nada a essa altura. O vestiário do Tampa tinha
um cartaz: "Segura, é a morte". E esta foi a mentalidade de seu time,
que jogou focado no título até os últimos segundos do último jogo, sem
achar que a série já estava ganha. E tomara que esse título seja o inicio
de mudanças no estilo de jogo da NHL, pois é muito bom ver duas equipes
com mentalidade ofensiva disputando finais! Parabéns ao Tampa Bay Lightning!
Caixa de Entrada
Começamos hoje com um texto enviado pelo nosso amigo Miojo (que vou
deixar em versão original):
* "A temperatura no local não deve passar dos 10 graus. Até porque,
mais que isso, nossa quadra derreteria. O corpo nessa hora passa a ser
uma máquina. Todo poder e determinação que ainda me restam estão em
ação nesse momento. Adrenalina, velocidade, paixão. O disco vem em minha
direção. O que fazer? De relance, consigo ver rostos de mulheres, crianças,
adolescentes fanáticos, adultos, velhos homens que já assistiram a várias
partidas. Será que teriam eles mais experiência que eu? Não posso julgar
isso agora, pois meu adversário vem em minha direção. Seu objetivo é
o mesmo que o meu. O disco. Com toda a perícia que consegui adquirir
até hoje, faço um jogo de corpo, a famosa "ginga", e consigo passar
por ele. A única coisa que me separa do gol é o goleiro do outro time.
Alto, imponente, passa a imagem de um verdadeiro guerreiro pronto a
defender tudo o que lhe é caro. E se pensarmos bem, esse é mesmo o objetivo
dele. Não sei se ele tem mulheres ou filhos. Pela cara não parece passar
dos 30 anos. Ainda é novo. Seu pai deve estar entre os milhares de rostos
presentes na arena, assim como o meu está. Estão torcendo por motivos
diferentes, por filhos diferentes. Mas no fundo tudo é igual. Sim, igual.
A paixão pelo hóquei aflora na pele de qualquer um nessa cidade inteira.
Com certeza o cara que pilota o zamboni também é fanático, e sé não
joga hóquei por falta de oportunidade. Será que ele jogaria melhor que
eu, e saberia exatamente o que fazer agora? Talvez sim, talvez não.
Taí uma pergunta que nunca vou responder. Estou correndo em direção
ao guerreiro deles. Todos os meus companheiros de time estão pelo menos
uma linha de jogo atrás de mim. Aposto que não estão nem correndo, mas
sim torcendo, vibrando, no seu interior, para o meu sucesso. Nessa hora
isso é tudo. Sucesso x fracasso. P x Q. O que deveria eu fazer? Nada
mais ouço, nada mais vejo, apenas um corredor que me leva em direção
ao gol. Mas antes, como transpor a barreira que se encontra à minha
frente? Tento olhar para uma brecha, um espaço que seja. Visualizo o
seu canto direito desprotegido. Nessa hora, não temos muito tempo pra
pensar, então coloco toda a minha força e vivacidade nos braços, e desfiro
um rápido golpe, potente e certeiro. O disco bate no patim do goleiro,
roda, bate na trave, e entra. Nesse momento, em que a minha mente estava
obscura, consigo ver a multidão me aclamar como herói. As luzes piscam.
O telão indica que somos campeões. Estou paralisado, vivendo num átomo
de tempo toda a minha vida dedicada ao esporte. O fracasso segue para
o goleiro, juntamente com sua equipe. E seu pai. E as crianças que ali
estavam, torcendo e gritando por ele. Sinto pena dele. Fico triste.
Mas lembro que do outro lado tenho meus amigos, família e todas as pessoas
que nem mesmo o nome eu sei, mas que me apóiam, direta ou indiretamente,
na minha vida. Assim é o hóquei sobre o gelo. Amizade, companheirismo,
sabedoria. Só penso em seguir para o vestiário nesse momento. Está feito,
está tudo feito...."
Daniel Miojo, GM dos Corsarios/Moto-Taxis, Uberlandia, MG
* "Esqueci de falar uma coisa: meu blog é atualizado às segundas, quartas,
sextas, sabados e domingos até o começo da temporada regular. Aí o blog
será atualizado sempre que houver jogo do Carolina."
Fernando da Silva, São Paulo, SP
Tá dado o recado! Para quem ainda não sabe, o blog do Fernando é http://carolinahurricanes.ta-na.net/
* "Olá! Sou novato no hóquei, mas acompanhei as finais vencidas pelo
Tampa Bay. Tenho algumas dúvidas... Vocês podem me esclarecer algumas
regras do hóquei??? Aqui vão: 1) O que significa icing e offside?
2) O que é e quando é marcado um power play? 3) Qual foi o melhor
time de hóquei de todos os tempos? 4) Quando são marcados os face-offs?
Mauricio, São Paulo, SP
Vamos lá:
1) O icing é marcado quando um jogador na sua zona defensiva
joga o disco cruzando todo o gelo para o outro lado indo parar na área
situada atrás do gol adversário. É sinal de que o jogador está querendo
se livrar do disco de qualquer jeito. Na NHL o icing só é marcado
quando um jogador (da mesma camisa do goleiro, preste atenção na cena)
toca no disco primeiro. Offside (impedimento) acontece quando
um jogador está na sua zona ofensiva antes do disco, ou seja quando
ele entra na zona ofensiva (linha azul) antes do disco.
2) O powerplay (situação de vantagem numérica) ocorre quando
o time adversário comete uma penalidade como a rasteira (tripping),
choque em cruz (cross-checking) ou jogo duro (roughing),
dentre outras. O jogador vai para o banco de penalidades por dois minutos
(se a penalidade for mais grave, esse numero aumenta) e o outro time
fica com um jogador a mais no gelo.
3) O que ganhou mais títulos foi o Montreal. Os Canadiens são, com 23
títulos, sem dúvida, o time mais tradicional. Se considerarmos apenas
um time em uma época, não dá para escolher um deles. Temos os Islanders
do inicio dos anos 80, que venceram quatro títulos, o Edmonton Oilers
de Gretzky e Messier, o próprio Montreal da década de 50. Eram todos
times espetaculares.
4) Face-offs ocorrem no inicio de uma partida, após penalidades,
e basicamente em toda ocorrência de reinicio de jogo (apos um icing
ou um offside, por exemplo).
Deu pra entender?
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Bruno Bernardo pode ser encontrado em http://www.jackwalker.cjb.net. |
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