Por
Marcelo Constantino
Em muitos aspectos esta já é uma final histórica. Ela quebra a hegemonia
de uma década de Devils, Wings e Avs; ela traz de volta um time canadense
(e justo o pior deles na temporada anterior); ela está sendo realizada
por dois times que, há meros cinco anos mais ou menos, eram motivo de
piada na liga. Não precisa ser decidida na enésima prorrogação do jogo
7 (ainda que isso transforme qualquer série na mais sensacional de todos
os tempos), basta que o Tampa Bay Lightning e o Calgary Flames sigam
jogando o mesmo hóquei que vêm demonstrando até aqui. E, claro, que
chegue à apoteose do jogo 7. Finais de Copa Stanley, jogo 7, o paraíso
de qualquer torcedor de hóquei.
Nós somos grandes! -- Jogando na mais fácil das divisões, onde apenas
eles possuem um time decente, os Bolts chegaram aos playoffs com uma
indefinição: eles foram os primeiros colocados da conferência porque
eram os melhores ou porque a vida foi mais fácil, tendo de jogar seguidamente
contra os times de várzea da Divisão Sudeste? Essa indefinição foi caindo
por terra com as facílimas vitórias sobre Islanders e Canadiens e foi
definitivamente resolvida com a conquista do título da Conferência Leste
frente aos Flyers numa bela série de sete jogos.
E pensar que há apenas dois anos o Lightning sequer estava nos playoffs,
ainda era um time jovem em formação. E pensar que Vincent Lecavalier
esteve envolvido em rumores de trocas nesta temporada. E pensar que
Martin St. Louis foi dispensado do Calgary Flames....
Go, Flames, go! -- O Calgary Flames, depois de sete anos sem sequer
chegar aos playoffs, está na final. O time, que foi o 12.º colocado
geral na temporada, teve de eliminar todos os campeões de divisão até
aqui. Não é à toa que o Calgary era o time que ninguém queria encarar
nos playoffs. A reta final do time na temporada indicava que eles seriam
osso duro de roer e que a simples classificação aos playoffs não os
satisfaria.
Aliás, antes de começar a temporada ninguém esperava sequer que eles
se classificassem para os playoffs. Hoje já tem gente que acredita neles
para vencer o título, embora pareça ser senso comum que o Tampa Bay
é um time superior. Mas e daí, Vancouver, Detroit e San Jose também
eram (ao menos em tese), não é verdade?
Eles chegaram até aqui sem Toni Lydman e Denis Gauthier, dois defensores
que estariam nas duas primeiras linhas do time. E com um goleiro que
era reserva em San Jose, que ninguém na liga daria muita coisa em troca.
Claro, ninguém exceto Darryl Sutter, técnico do time que havia comandado
os Sharks anteriormente e que conhecia bem as habilidades de Kipper.
Dave Lowry está de volta às finais da Copa. Para quem não se lembra,
ele foi jogador-símbolo da também mágica escalada do Florida Panthers
em 1996. É aquele tipo de jogador de quarta linha que aparecia do nada
nos playoffs, marcando gols e personificando a raça do time. Não é mais
assim hoje em dia, mas vale o registro.
Dos candidatos a MVP -- Sim, fala-se nisso desde a primeira semana
dos playoffs, e os nomes variam semana após semana. Ed Belfour (ok,
estou forçando a barra...) e Keith Primeau já ficaram para trás, então
a briga, hoje, parece ter um pequeno punhado de candidatos. Muito se
fala em Martin St. Louis, mas Brad Richards é outro que pode levar o
troféu. Não tenham dúvidas de que se Khabibuin for dominante e decisivo
nas finais, o troféu é dele. Praticamente não há outros nomes do lado
do Tampa Bay, nem mesmo Lecavalier, ainda que esteja fazendo ótimos
playoffs.
Do lado do Calgary o nome mais evidente é Jarome Iginla, que só não
leva o Conn Smythe para casa se os Flames não forem campeões, ou se
Kiprusoff for dominante e decisivo nas finais. Ou, quem sabe, se Martin
Gelinas marcar mais uma vez o gol da vitória no jogo decisivo da série!
Enfim, é tudo conjectura mesmo, o fato é que o troféu vai para um desses
nomes citados aqui.
Sobre o Jogo 6 entre Flyers e Bolts -- Quem teve a oportunidade
de assistir, não se arrependeu, foi o melhor jogo a que assisti desde
as finais da Conferência Oeste em 2002. Teve de tudo que um torcedor
pode querer numa partida, exceto brigas: muitos gols, empate no fim,
prorrogação, trancos nas bordas, vira-desvira no placar, um jogo aberto,
rápido e dinâmico.
Fiquei com a clara impressão de que os Bolts eram bem superiores aos
Flyers, só que estes jogavam com muito mais raça. Só isso (e uma bela
de uma pitada de sorte) explica como o time do Philadelphia, que ainda
cometia erros bobos em quantidade além do razoável para uma equipe
nos playoffs, venceu aquele jogo. E que vitória!
Sobre a superstição de não se tocar no troféu da conferência --
A primeira temporada que acompanhei, a de 1996-97, negou-me completamente
a crença nessa tradição, ou superstição, o que seja. Lembro que Eric
Lindros, então capitão do Philadelphia Flyers, negou-se a tocar na taça
e apenas posou para as fotos. Lembro de ter lido, ou escutado de algum
narrador à época, algo como "não é essa a taça que ele quer", justificando
o ato.
Do outro lado, vi Steve Yzerman levantando, feliz da vida a taça que
ele mesmo havia levantado dois anos antes. No fim das contas Yzerman
levantou a Copa Stanley também e Lindros nunca mais teve uma segunda
chance de levantar qualquer dos troféus. Ao longo dos anos seguintes
esse tipo de situação repetiu-se com razoável freqüência, inclusive
no ano passado (Paul Kariya também recusou-se a tocar no troféu). Ou
seja, palmas para quem não liga para isso e sabe que o jogo é vencido
no gelo.
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Marcelo
Constantino adora os trancos no hóquei e sugere dois
para baixar: clique aqui
para baixar um violentíssimo, porém limpo, de Darcy
Tucker em Sami Kapanen, deste ano. Clique aqui
para baixar outro mais violento ainda, e ilegal, de Derian Hatcher
em Jeremy Roenick, em 1999. Os links são cortesia de Humberto
Fernandes. |
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LESTE Dave Andreychuk com
o troféu pela conquista da Conferência Leste. É
a chance dele finalmente conquistar a Copa Stanley, depois de uma
carreira com mais de 1700 jogos realizados na NHL (Charles W Luzier/Reuters
- 22/05/2004) |
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OESTE Jarome Iginla com o
troféu pela conquista da Conferência Oeste. Será
que finalmente este ano o time azarão vencerá as finais?
(Frank Gunn/AP - 19/05/2004) |
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