Por
Thomaz Alexandre
Parece mentira, mas tivemos um jogo da NHL para assistir ao vivo, o
primeiro das finais de conferência. Enquanto nos playoffs da NBA dez
das doze séries até então disputadas já tiveram pelo menos um jogo transmitido
e no beisebol há dois jogos de temporada regular que passam ao vivo
toda semana, temos que comemorar quando há NHL na TV com a mesma freqüência
dos páreos da Tríplice Coroa.
Mas, enfim, tivemos semifinais do Oeste na TV segunda-feira à noite,
com os Flames visitando o Tanque. Mais uma vez, o mando de gelo prevaleceu
-- para o visitante, claro -- e Calgary, além de se beneficiar de alguns
bem-afortunados ricochetes do disco, marcou duas vezes no primeiro período.
A partir daí, puderam cozinhar os Sharks pelo resto do jogo com um quieto
shutout de Kiprusoff, 3-0. Algumas observações:
O time de desvantagem numérica dos Flames -- Calgary mostrou uma
maneira bem peculiar de matar penalidades. A princípio, eles se retraíam
e davam a entender que fariam o "lay off" como estratégia, que consiste
em forçar homem-a-homem nos três atacantes adversários e deixar o matador
de penalidades mais avançado se movendo apenas lateralmente, esperando
para tentar bloquear um eventual disparo dos defensores ou se unir à
pilha em frente ao gol, afastando os atacantes em busca de rebotes.
Porém, Calgary se mantinha nessa configuração apenas até que os membros
da vantagem numérica do San Jose se estabelecessem na zona ofensiva.
A partir daí, os Flames passavam a adotar uma espécie de zona, só que
ao invés de marcar espaço ou colocar corpos em cima de cada patinador
dos Sharks, eles marcavam as linhas de passe. À primeira movimentação
de disco vacilante ou "lenta" do time da casa, um jogador de Calgary
tentaria se adiantar e interceptar o passe. Daí surgiu o gol de Jarome
Iginla, se antecipando a um passe de Vincent Damphousse. Sendo Darryl
Sutter o homem que contratou, recrutou e/ou treinou boa parte do elenco
dos Sharks, o time dos Flames deve conhecer as tendências de passe,
chute e manuseio do disco de cada adversário, podendo resultar em mais
gols da equipe de matar penalidades -- esse foi o primeiro do Calgary
na série -- no jogo seis e eventualmente sete.
Ville Nieminen -- Sempre conhecido por sua ética desportiva questionável,
acusado desde dizer impropérios aos adversários a também acertá-los
de forma desleal quando a arbitragem não pode ver, dessa vez o finlandês
chato foi importante por outros aspectos. Sua linha, com Sean Donovan
e Marcus Nilson já tem sido quente. Com os três no gelo no primeiro
período, Nieminem surpreendeu o defensor de San Jose Dimitrakos tentando
enfeitar na linha azul ofensiva, e o deixou se arrependendo por não
ter isolado o disco atrás do gol de Kiprusoff. Após desarmar Dimitrakos,
Nieminem avançou em linha reta à zona dos Sharks, sendo que após a linha
vermelha teve um taco do time da casa atado a seu corpo na altura do
peito, e a falta para os Flames já havia sido marcada. Ao invés de se
atirar ao gelo para fazer alguma cena com os árbitros, ou apenas se
contentar com a falta, Ville manteve a concentração, se desvencilhou
do marcador e girou 180º enquanto descortinava toda a zona ofensiva.
Serviu Nilson na medida e este marcou de primeira, abrindo 2-0.
Sorte e frieza -- Kiprosoff é um bom goleiro em todos os sentidos.
Quando jogava nos Sharks há dois anos, substituiu o contundido Nabokov
em alguns jogos da série contra os Blues e seus números não decepcionaram
em relação ao que o time poderia ter obtido do titular. No jogo de segunda-feira,
ele foi sim um felizardo nos chutes de Damphousse e Korolyuk, um em
que ele sentou no disco imobilizando-o; outro em que rebateu um disco
com endereço certo em direção a sua própria trave. Mas mesmo assim,
que sangue gélido desse escandinavo! Cair e permanecer estático sobre
um disco que pelo mínimo deslize poderia ter empurrado para o gol, e
depois se recompor na jogada após fazer uma defesa instantânea e ver
um disco atingir o travessão de seu gol, girando em torno de si mesmo
e isolando o disco em seguida? Salve Kiiper!
Marleau não passa e as zebras não apitam -- Patrick Marleau é o
Jarome Iginla dos Sharks, o único jogador do time que ofensivamente
pode desequilibrar. E Sutter sabe disso, mandando sempre um jogador
desafiá-lo fisicamente enquanto outro espera o desenvolvimento a dois
ou três metros. O que, obviamente, deixaria algum Shark livre. Mas Marleau,
vice-líder em gols da pós-temporada, raramente tem honrado essas chances
de passe e tenta carregar a posse do disco pelo meio de dois Flames.
Some-se isso à permissividade da arbitragem em relação às enganchadas
e seguradas que o franco-canadense recebe e Calgary acaba anulando a
maior arma adversária.
Velocidade -- Não era o San Jose o time mais rápido da Conferência
Oeste? Pois bem, eles podem ter defensores mais rápidos que os cavalos-de-batalha
do Calgary, mas seus atacantes perderam na maioria das disputas em velocidade
para os Flames nesse jogo.
Que venha o jogo 6, e não descartem ainda San Jose dessa série. A não
ser que Calgary volte a sair na frente ou faça dois gols rápidos nos
próximos jogos. Time treinado por Ron Wilson e grandes viradas não combinam.
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