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21 de maio de 2004
Embalo? Não no Oeste

Por Alexandre Giesbrecht

Enquanto escrevo estas linhas, a cidade de Calgary se prepara para o "Mar Vermelho" no Pengrowth Saddledome, na esperança de que os Flames encerrem as finais de conferência contra os Sharks em seis jogos. Mas, se a esperança for baseada em estatísticas e no histórico recente, os torcedores mais fanáticos podem desde já reservar sua passagem para San Jose, a fim de assistir ao jogo 7: pela terceira vez na história da NHL, os cinco primeiros jogos de uma série foram vencidos pelo time visitante.

É claro que estatísticas não decidem um jogo, muito menos uma série. E o histórico recente, que costuma embalar uma ou outra equipe, também não está tendo influência nesta série. Os Flames venceram as duas primeiras partidas, em San Jose, e voltaram para casa pensando até em varrer a série, mas o que se viu foram duas vitórias convincentes do time de San Jose em Calgary. Para o jogo 5, esperava-se outra performance sólida dos Sharks, confirmando o favoritismo e virando a série, mas o que se viu foi um time totalmente perdido no gelo, derrotado com facilidade, embalando o adversário.

Eu escrevi "embalando"? Acho que não. O momento não tem sido de ninguém nesta série. A não ser dentro de cada jogo. O time que abriu o placar sempre acabou ficando com a vitória. E não por atuações brilhantes dos dois goleiros. À exceção do jogo 1, em que Miikka Kiprusoff, goleiro dos Flames, parou 49 chutes na vitória de seu time por 4-3 na prorrogação, os goleiros não foram dominantes. No jogo 5, Kiprusoff até conseguiu o shutout, mas só precisou parar 19 chutes de um apático San Jose. Já Evgeni Nabokov, dos Sharks, parou 34 chutes dos Flames no jogo 3, conseguindo o shutout, mas não teve de se esforçar muito.

De novo excluindo o primeiro jogo, a tônica da série tem sido a de um time que some no gelo contra outro que não precisa se superar para vencer.

Fica parecendo que a única explicação para o placar atual é mesmo o endereço do estádio em cada partida. Vale lembrar que os problemas de ambos os times em casa não começaram nas finais de conferência. Os Sharks não vencem no HP Pavilion desde 24 de abril, quando derrotaram os Avs no jogo 2 da segunda fase. Já os Flames ganharam apenas três dos oito jogos que disputaram no Pengrowth Saddledome. Essa particularidade dá a eles a chance de bater o recorde de vitórias fora de casa nos playoffs, detido pelos Devils de 1995 e de 2000 (dez vitórias).

E uma vitória no jogo 6 (ou no 7) dará a eles a primeira vaga de um time canadense nas finais da Copa Stanley desde 1994.

• Depois de cinco jogos das finais do Leste, nem o Philadelphia nem o Tampa Bay conseguiu ganhar duas partidas seguidas. Isso significa que, como os Bolts ganharam o jogo 1, eles podem seguir esse padrão até alcançar primeiro a quarta vitória. E agora os Flyers são obrigados a conseguir as duas vitórias seguidas para conseguir chegar às finais.

Isso até é possível, mas eles vão ter de duplicar o esforço do meio do jogo 5, quando perdiam por 3-0 e, em 38 segundos, conseguiram diminuir a diferença para 3-2. E também vão ter de evitar repetir o que fizeram logo depois, que foi não aproveitar o embalo. Ah, sim, esta série tem time que embala.

O mais engraçado é que a única área em que os Flyers têm sido consistentes é no gol, justamente o que apontavam ser o ponto fraco do time antes de os playoffs começarem. O goleiro Robert Esche não conseguiu impedir que o Lightning fizesse 2-0 logo no primeiro período, mas certamente impediu que essa vantagem fosse ainda maior, ao defender 16 dos 18 chutes disparados contra ele. Sim, 18 chutes. Apenas no primeiro período.

• Tradição é tudo no futebol. Até acontece, mas é raro ver uma final como a do Paulistão deste ano, em que o São Caetano derrotou o Paulista de Jundiaí. Já no hóquei, ainda que os últimos anos tenham visto um domínio das mesmas equipes, há uma alternância das potências. Ainda assim, uma possível final entre Calgary e Tampa Bay ainda soa como algo estranho.

Nem tanto pelo Calgary, que chegou a ser uma potência na temporada regular entre a segunda metade da década de 80 e a primeira metade da década de 90. Mas o Tampa Bay foi, por muitos anos, uma das piadas da liga. Seu "irmão gêmeo" Ottawa Senators também foi motivo de piada, mas acabou por conquistar respeito — e em menos tempo.

Dois anos atrás, nenhum dos dois times foi aos playoffs. Nenhum deles alcançava os mata-matas desde 1996. Vislumbrar uma final com qualquer um deles seria risível. No ano passado, o Lightning conseguiu se classificar. Foi até a segunda fase, enquanto os Flames estavam jogando golfe desde o início de abril.

Isso é o que se pode chamar de virada. E dupla, ainda por cima. Mesmo que um time ou ambos não cheguem às finais.

• Eu ainda não apostaria que estas séries vão acabar no jogo 6. Só faria isso nos últimos segundos do terceiro período, se — e somente se — um dos times tiver uma vantagem de mais de dois gols.

• Chegaram às minhas mãos duas cópias do tablóide Toronto Sun e dois cadernos de esportes do jornal Toronto Globe & Mail. Mesmo com acesso à Internet e coisa e tal, ter os referidos jornais em papel é outra coisa, ainda que tenham chegado com atraso de dois ou três dias. E bateu, claro, uma inveja dos canadenses, que têm páginas e páginas de informação de hóquei sem precisar queimar a retina olhando para o monitor.

Mas o que mais chamou a atenção no meu "pacote" foi uma cópia de The Hockey News desta semana, com Mike Commodore, dos Flames na capa. O THN é certamente tudo o que nós gostaríamos de ser, tanto é que foi ele a nossa inspiração antes de começarmos. Naquela época, a minha única referência eram as páginas amareladas de uma edição das férias de 1994, em papel jornal.

Eu imaginava que a publicação não teria mudado muito, mas mudou bastante. Ainda é em papel jornal, mas do tamanho dos cadernos nacionais em formato tablóide, como o caderno Boa Viagem d'O Globo ou o Folhateen, da Folha de S. Paulo. A diagramação também ficou bem mais moderna visualmente, embora não seja lá tão fácil achar as matérias, que ficam muito desagrupadas.

Ainda assim, é uma publicação de qualidade. Um dia chegaremos lá. Com uma versão impressa.

Alexandre Giesbrecht, 28 anos, não se cansa de folhear a sua nova cópia de The Hockey News.

 

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Página publicada em 19 de maio de 2004.