Por
Alexandre Giesbrecht
Quem poderia esperar que os Sharks encontrariam tamanha facilidade na
série contra o todo-poderoso Colorado Avalanche? Em julho do
ano passado, quando o time de Denver contratou, de uma tacada só,
Paul Kariya e Teemu Selanne, todos se apressaram em apontá-lo
como favorito disparado ao título. Os Sharks? Quando muito, ainda
eram mencionados como a maior decepção da temporada passada,
que seriam meros coadjuvantes em 2003-04.
A temporada regular que se encerrou há quase um mês mostrou
que ambas as previsões estavam furadas, mas, como os playoffs
sempre funcionam como uma temporada à parte, tudo poderia mudar
de figura.
Não mudou.
Nos nossos pitacos para a segunda fase, mesmo quem apostava nos Sharks
lembrava que a série deveria ser longa. Ao que tudo indica, até
isso está errado. Nunca é demais lembrar que apenas dois
times conseguiram virar depois de sair perdendo uma série por
3-0. E nenhum o fez nos últimos 28 anos.
Se o presente parece sombrio para os Avs, o futuro não parece
muito mais promissor. Peter Forsberg tem dado declarações
constantes a respeito de seu desejo de voltar a jogar na Suécia,
sua terra natal. Isso pode acontecer já na próxima temporada.
Com a marcação cerrada que ele tem recebido dos adversários
nesta série, sua decisão parece pender cada vez mais na
direção da Europa.
Essa marcação, com e sem o disco, tem incomodado muitos
amantes do hóquei, pois as estrelas têm tido cada vez menos
espaço para mostrar seu brilhantismo na última década.
Ouviu-se isso dos Wings de Steve Yzerman, dos Penguins de Mario Lemieux
e Jaromir Jagr, dos Bruins de Joe Thornton e de tantos outros times
ao longo dos anos. Agora é a vez de ouvir dos Avs de Forsberg.
"Ao invés de promover seu jogador número 1, a NHL
parece mais empenhada em mandá-lo de volta para casa", escreveu
Woody Paige, colunista do jornal Denver Post. "Parabéns,
Rob Shick e Kelly Sutherland [árbitros que apitaram o jogo 2
da série], por serem ídolos nacionais. Esses apitadores
deveriam ter voltado e agradecido à platéia ao fim do
jogo."
Discussões sobre quem é o jogador número 1 da NHL
à parte, na última frase, ele se referia a um argumento
comum nos EUA e no Brasil de que os árbitros gostam mesmo é
de aparecer. A sua argumentação foi o jogo 2, quando Forsberg
foi atacado de todos os lados sem reação da arbitragem.
Para piorar a situação, a estrela foi mandada para o banco
de castigo por três vezes, todas por interferência no goleiro.
Duas dessas penalidades anularam gols dele.
Como já está claro que a NHL não pretende fazer
nada a respeito, ao menos enquanto Gary Bettman estiver no comando,
não será nenhuma surpresa se Forsberg anunciar, já
nesta semana, que vai voltar a jogar pelo MoDo, seu time do coração.
Antes que alguém pergunte se é só por causa disso
que os Sharks estão na frente, eu respondo que não. A
única vez que eu me lembro de um time superior no papel perder
uma série que acabou em menos de seis jogos por esse motivo foi
nas finais de 1995, quando os Devils conquistaram o título sobre
o Detroit, consagrando o agora famoso esquema tático da armadilha.
Nas outras vezes que o agarra-agarra funcionou contra um favorito, as
séries chegaram a seis ou sete jogos, como nas finais da Conferência
Leste de 1996, quando os Panthers derrotaram os Penguins por 4-3.
O agarra-agarra não é o motivo. Nem está entre
os principais.
O principal, disparado, é Evgeni Nabokov, que tem sido quase
intransponível nestes playoffs. A esta altura, uma simples foto
dele já deve estar causando calafrios no vestiário dos
Avs. Patrick Marleau e Vincent Damphousse também não são
visões lá muito agradáveis para a defesa de Denver.
O primeiro tem quatro gols e três assistências; o segundo,
três assistências e três gols, incluindo o da vitória
por 1-0, na segunda-feira, que ampliou a vantagem na série para
3-0. E ainda há o incansável Jonathan Cheechoo, que tem
atormentado a zaga do Colorado sem dar descanso.
Os três atacantes, aliás, estão na capa desta edição.
Mais do que merecidamente.
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Alexandre
Giesbrecht estará a caminho de uma região gelada
na semana que vem. Infelizmente, não é o Canadá,
mas é um lugar igualmente bonito: a Patagônia chilena. |
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E AGORA, COLORADO? Brad Stuart
(7), Niko Dimitrakos (23) e Kyle McLaren (4) abraçam Vincent
Damphousse (perdido no meio), que acabara de bater o goleiro David
Aebischer (Lou Dematteis/Reuters - 22/04/2004) |
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