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30 de abril de 2004
O Calgary Flames é a esperança do Canadá

Por Marcelo Constantino

Um final do Leste entre Montreal e Toronto era um sonho para qualquer torcedor tradicionalista do hóquei. Além do valor histórico, seria a garantia de ao menos um time canadense na final da Copa Stanley, fato que não ocorre desde 1994, quando o Vancouver perdeu a final para o NY Rangers em sete jogos.

Era sonho e permanece assim, porque o cenário mais provável do Leste é uma final entre Tampa Bay e Philadelphia. A esperança canadense está no Oeste, com o Calgary Flames. Vejamos a situação de cada time canadense na primeira semana de jogos das semifinais de conferência.

Montreal Canadiens --
O Montreal simplesmente não consegue superar o Tampa Bay. Os Bolts demonstram novamente que não estão aqui apenas porque a Divisão Sudeste é um lixo, o time deles tem muito talento. Os Habs têm evoluído a cada partida. No jogo 2, depois de marcarem o primeiro gol na série, até que dominaram o adversário. Mas o Lightning tem Khabibulin e logo esfriou o ataque canadense para vencer mais uma.

No jogo 3 eles dominaram a maior parte do tempo e tinham a vitória nas mãos até o meio minuto final, quando os Bolts empataram e levaram a partida até a vitória, logo no começo da prorrogação. Um verdadeiro banho de águas gélidas. É até provável que os Canadiens vençam a próxima partida, mas uma virada na série seria de um ineditismo ímpar.

Toronto Maple Leafs --
O caso dos Maple Leafs é diferente, a série contra os Flyers tem sido mais equilibrada, só que parece cada vez mais claro que o time canadense não é páreo para o time da Pensilvânia nesses playoffs. Toronto fez uma ótima partida no jogo 2 e ainda assim não foi suficiente, ainda que aquele tiroteio para cima de Ed Belfour nem tenha se repetido. O time de Hitchcock está demonstrando a que veio, dominou o terceiro período e marcou o gol da vitória em vantagem numérica.

Os Leafs têm dificuldades em superar o esquema fechado dos Flyers, mesmo com a volta de Mats Sundin. Joe Nieuwendyk contundiu-se e não participou do jogo 2, o que só agravou ainda mais a situação.

Quando um goleiro como Robert Esche começa a se destacar dessa forma e quando um atacante como Alexei Zhamnov segue sendo decisivo, temos de admitir que este é um time iluminado.

Aliás, temos de nos redimir em relação a Esche. Goleiro é a posição mais problemática dos Flyers há cerca de uma década e este jovem foi alçado à condição de titular apenas dias antes de começarem os playoffs. É bom lembrar que Sean Burke foi contratado para ser o número 1. Esche encarou pela frente, em sua primeira participação efetiva em playoffs, nada menos que o time campeão e o melhor goleiro da atualidade, Martin Brodeur. E os derrotou de forma sólida. Agora encara aquele que é (ou era, até começar esta fase) o goleiro mais quente do momento, que praticamente deu a classificação para seu time, Ed Belfour. E o está derrotando.

Calgary Flames -- No Oeste, os Flames não chegam exatamente a surpreender os Red Wings, afinal quem fica surpreso hoje em dia com o Detroit tendo problemas em vencer um time supostamente mais fraco nos playoffs?

Com a exceção natural do jogo 2 -- partida estranha, em que os Wings dos playoffs realmente pareciam os Wings da temporada regular; foi a primeira vez em 12 jogos de playoffs que o supostamente poderoso ataque do time marcou cinco gols numa partida --, os Flames seguem fielmente seu plano de jogo, jamais desistem de uma jogada ou do jogo em si, e mantém vivo o fantasma que assola o Detroit desde a temporada passada.

Seja lá o for o fantasma, a diferença básica dos Red Wings para os Flames é indiscutível: os jogadores do Calgary demonstram muito mais vontade de vencer e batalham intensamente do começo ao fim. Não existe disco perdido, não existe jogada para ser deixada para o adversário.

Muito se fala de Jarome Iginla e os Wings o têm alvejado como podem, Derian Hatcher à frente. Chega a ser patético como o assunto toma conta da pauta: o time que supostamente rolaria quatro fortes linhas e que tem possivelmente o melhor plantel defensivo da liga fica preocupado em como parar um único jogador -- cujo sobrenome nem é Lemieux e cuja camisa nem é #66. Coloca Lidstrom, coloca Hatcher e Chelios, coloca os grinders, distribui trancos sempre que puder para cima dele. De nada adianta, o restante do time faz os gols e Iginla ainda encontra espaço para marcar o seu, em vantagem numérica no jogo 3. No mais, o filme é o mesmo.

E o mais interessante: os Flames estão jogando sem alguns de seus principais defensores.

Não há a menor dúvida de que o Calgary Flames é a aposta mais certeira para que um time canadense se classifique para as finais de conferência. Em resumo, basta manter a vontade inabalável que os jogadores vêm demonstrando nesses playoffs e esperar pelo natural desespero dos Wings -- que dificilmente se traduz em tornar-se um time mais batalhador. Praticamente não fica ninguém na frente de Kiprusoff quando Holmstrom não está no gelo, o que facilitará bastante as dezenas de discos que os Wings dispararão ao gol dos Flames. E será ótimo para aumentar o percentual de defesas e o moral do goleiro para a fase seguinte.

Entretanto, sem ilusões: não está sendo e não será nada fácil. Esta tem sido a única série equilibrada desta fase.

Marcelo Constantino lamenta pelo Montreal e pelo Toronto.
A UM PASSO DO ADEUS Mesmo jogando o que se espera dele, Alexei Kovalev não tem sido suficiente para o Montreal Canadiens superar o Tampa Bay Lightning (Paul Chiasson/AP - 27/04/2004)
 
DURÃO QUE PRODUZ Com a ausência de Sundin e Nolan, Tie Domi tem sido um dos mais produtivos jogadores dos Maple Leafs nesses playoffs (Mike Cassese/AP - 16/04/2004)
 
CENTRO DAS ATENÇÕES Jarome Iginla é o centro das atenções, seja dos Red Wings, seja da imprensa. Ele tem sido realmente um dos melhores jogadores desses playoffs (Jeff McIntosh/AP - 09/04/2004)

 

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Página publicada em 28 de abril de 2004.