Por
Marcelo Constantino
Nesta primeira fase nós tivemos três séries chegando ao derradeiro jogo
7, e em todos eles havia um time canadense na disputa. Na verdade, duas
das séries eram disputas entre times canadenses. Vancouver x Calgary,
Boston x Montreal, Toronto x Ottawa. Sobre a saga entre Flames e Canucks
o leitor já encontrará duas outras matérias nesta edição, vamos nos
ater aos confrontos que classificaram Maple Leafs e Canadiens para a
fase seguinte.
A história se repete para os Habs -- Tudo parecia tranqüilo para
o Boston Bruins. Vencendo a série por 3-1 sem grandes dificuldades,
o goleiro adversário não atemorizava e faltava apenas um jogo para fechar.
Nem mesmo era necessário obter uma produção ofensiva maior de seu melhor
jogador, Joe Thornton, que jogou toda a série apesar de estar contundido.
É bem verdade que as coisas não estavam acontecendo de forma tão tranqüila
assim, os jogos eram apertados e o 3-1 na série só veio na segunda prorrogação
do jogo 4. De volta a Boston para o jogo 5, prontos para selar em definitivo
a classificação, eis que José Théodore começa a dar show. Na vitória
dos Habs por 5-1 ele fez nada menos que 43 defesas. Não só isso, a linha
principal do time (Zednik-Koivu-Kovalev) começava a se firmar e a pontuar.
De volta a Montreal para o jogo 6, mais do mesmo do ocorrido no jogo
anterior. E o goleiro-revelação Andrew Raycroft não fazia os mesmos
milagres que Théodore. Deu Habs novamente, e mais uma vez por um placar
mais elástico, 5-2.
No jogo 7, a partida seguia amarrada até que Richard Zednik conseguiu
abrir o placar. Théo pegou tudo atrás, Martin Lapointe -- o homem de
cinco milhões de dólares -- cometeu uma penalidade besta no fim do jogo,
quando o time corria desesperadamente pela reação, e os Habs, pela primeira
vez em sua história, conseguiram virar uma série em que perdiam de 1-3.
Ao mesmo tempo em que os Bruins, também pela primeira vez em sua história,
perderam uma série em que venciam por 3-1.
A história de dois anos atrás praticamente se repetiu e Théodore mais
uma vez saiu como o grande pesadelo de Boston em mais uma surpreendente
vitória dos Habs sobre os Bruins. Alexei Kovalev começou a jogar
o que se espera dele e o técnico Claude Julien tem dado bastante
tempo de jogo para a linha principal. Yanic Perreault, mestre das reposições
de disco, esteve barrado, mas voltou ao time e foi um importante jogador
nas últimas partidas.
Na temporada que tem tudo para ser a última de uma era, o
time mais tradicional da NHL avança para a segunda fase, quando
poucos acreditavam sequer que chegaria aos playoffs.
A Batalha de Ontário -- É fácil, embora simplista, resumir a série
entre Leafs e Senators. Basta dizer o seguinte: Ed Belfour. Isso já
foi escrito aqui, mas não custa repetir: era o goleiro que tinha à sua
frente a pior defesa dentre os 16 times nos playoffs jogando contra
o time de melhor ataque da NHL. Durante o jogo acontecia exatamente
o esperado, com o Ottawa no ataque disparando o que podia a gol e a
defesa dos Leafs, desesperada, fazendo de tudo para retirar o disco
da sua zona. Quem assistiu aos jogos 6 e 7, que a ESPN transmitiu (em
horários insanos, mas esmola é esmola), pôde comprovar isso.
Não que o corpo defensivo dos Maple Leafs seja ruim, não é. Eles se
esforçavam, na base de muita raça, para aliviar o disco e tinham
sucesso em boa parte das vezes. Mas ainda assim não era suficiente,
Belfour encarou uma média de 34 disparos por jogo!
A série ganhou mais ainda em promoção na mídia
depois da derrota do Ottawa no jogo 5. O capitão Daniel Alfredsson veio
à imprensa e declarou, a la Mark Messier de 1994, que os Sens
iriam vencer a série. O jogo 6 foi em Ottawa e a promessa foi mantida,
com um gol salvador na segunda prorrogação. As câmeras da ESPN sempre
focavam uma notícia de jornal na torcida, em letras garrafais, onde
estava a declaração do capitão: "We'll be back".
Mas a promessa foi quebrada no jogo 7, de volta a Toronto, em que a
tônica do jogo era exatamente a mesma dos anteriores. Isso até que Patrick
Lalime sofresse dois frangos seguidos, do mesmo lugar e para o mesmo
Joe Nieuwendyk. Com 3-0 logo no primeiro período e a grave dificuldade
de superar Belfour, ainda que com todas as facilidades oferecidas pela
defesa dos Leafs, a derrota era tiro certo.
Saiu Lalime, entrou Prusek, cada time marcou mais um gol e os Senators
deram adeus novamente à corrida pela Copa Stanley. Pela quarta vez em
cinco anos, frente aos Maple Leafs. E justo no ano em que, antes da
temporada começar, quase todos acreditavam que finalmente tinha
chegado a vez deles.
Vencendo com Belfour e Théodore -- Ambas as
séries demonstram sobretudo o valor de um goleiro nos playoffs.
Belfour e Théodore foram os goleiros que mais defesas fizeram
nesta primeira fase, com médias superiores inclusive à
do badalado Tomas Vokoun, do Nashville. Tanto Toronto quanto Montreal
sabem que, não fossem Eddie e Théo, estariam de férias
mais cedo. Principalmente o Toronto.
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ADEUS, BRUINS! José
Théodore fechou o gol e Richard Zednik marcou duas vezes
no jogo 7, selando a virada histórica dos Canadiens sobre
os Bruins (Charles Krupa/AP - 19/04/2004) |
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A TÔNICA DA SÉRIE Foi
assim mesmo. Jogador do Ottawa mandando para o gol de Belfour, que
defendia quase tudo. E assim os Leafs eliminaram os Senators mais
uma vez (Adrian Wyld/AP - 20/04/2004) |
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