Por
Alexandre Giesbrecht
Eu nunca vi Alexander Ovechkin jogar, e é possível que
nunca venha a ver (ao vivo, é claro). Mas ele meio que já
fazia parte do futuro dos Penguins para mim. Um futuro brilhante, por
sinal. E, tirando a Filadélfia, não haveria lugar pior
para ele ir, na opinião de um torcedor dos Penguins.
Os Capitals ganharam o sorteio realizado na terça-feira, em Nova
York, e garantiram a primeira escolha do próximo recrutamento,
desbancando o time de Pittsburgh. É altamente improvável
que o Washington não use esta escolha para selecionar Ovechkin,
tido por muitos como o melhor prospecto dos últimos 20 anos.
Não que isso signifique que ele será mesmo uma estrela
de grande magnitude, mas as chances são grandes, pois o garoto
não mostra apenas talento: mostra também atitude, vontade
de vencer. É até estranho que o gerente geral dos Caps,
George McPhee, venha declarando que pode considerar propostas de troca,
mesmo que certamente ele saiba que essa possibilidade é remota.
O jornal Washington Post, inclusive, não deu grande destaque
para o sorteio, mesmo sabendo que Ovechkin é o tipo do jogador
em torno do qual se pode montar um time competitivo. E ele não
poderia ir em melhor momento para a capital norte-americana, já
que o time acaba de dar início a um vasto processo de reconstrução,
em busca de competitividade.
Nos últimos dois meses, McPhee dispensou os serviços de
caros veteranos como Jaromir Jagr, Robert Lang, Sergei Gonchar e Michael
Nylander, recebendo sempre prospectos em troca. Com um goleiro de verdade
no elenco (Olaf Kolzig) e outro a caminho (Maxime Ouellet), o futuro,
sombrio até segunda-feira, parece mais promissor do que nunca
agora.
Mas o futuro dos Penguins não se tornou, de repente, sombrio.
Só não é tão promissor quanto parecia, mas
ainda é motivo para otimismo. Confesso que, quando eu recebi
a notícia, fiquei chateado.
Pensei nas seis séries em que os Penguins bateram os Capitals
entre 1991 e 2001, e que agora tinham a sua vingança —
num prato que foi convenientemente servido frio. Pensei na seqüência
de 18 derrotas entre janeiro e fevereiro, que praticamente garantiu
a lanterna da liga — e agora não significava absolutamente
nada. Pensei que até a torcida nas últimas semanas da
temporada para que o time ficasse em último foi em vão.
Mas nada disso tem a ver. A vingança dos Capitals precisa ainda
ser concretizada. Os Penguins não ficaram com a primeira escolha,
mas também não caíram mais que uma posição,
que ainda deve garantir um jogador de impacto. E, mais importante, se
você pode garantir uma probabilidade maior para alguma coisa,
você tem mais é de aproveitar esta chance. As chances que
os Pens tinham, 48,8%, não significavam 100%, mas eram muito
mais que os 14,2% que o Washington tinha. Se, antes do sorteio, alguém
perguntasse aos Caps se eles gostariam de trocar de lugar, eles nem
piscariam antes de dizer sim. Acho que ninguém recusaria tal
oportunidade.
E o que tenho lido por aí é mais animador. Não
é garantido que os Penguins escolham Evgenii Malkin, do Metallurg
Magnitogorsk (time russo do coração do nosso colega Eduardo
Costa), mas ele parece ser um consenso como segundo melhor jogador disponível
no recrutamento, embora outros também sejam cogitados pela imprensa
local.
Não, ele não é nenhum Ovechkin. Para se ter uma
idéia, neste exato instante, ambos treinam com as seleções
russas. As seleções. Ovechkin está com os adultos;
Malkin, com os juniores. É essa a distância que os separa.
Mas, apesar de não ser das menores, Malkin não parece
ser um simples prêmio de consolação.
"Ele está no segundo escalão do recrutamento [Ovechkin
estaria no primeiro]", opina Kyle Woodlief, editor do Red Line
Report. "Mas ele está sozinho neste escalão."
Um diretor de recrutamento de um time da NHL citado pelo jornal Pittsburgh
Tribune-Review vai mais longe: "Se eu tivesse a primeira escolha,
pensaria em recrutar Malkin. Eu provavelmente me acovardaria no final
e selecionaria Ovechkin, mas eu pensaria [na outra opção]."
Tim Bernhardt, diretor de recrutamento do Dallas Stars, também
é todo elogios: "Não acho que ninguém em Pittsburgh
vai chorar se os Penguins ficarem com Malkin. Ele sabe trabalhar o disco.
Ele sabe chutar e é um competidor nato. Todas as jogadas importam
para ele."
Colunistas em Pittsburgh também se apressaram em defender o fato
de que não ter Ovechkin não será nenhum desastre.
Bob Smizik escreveu os seguintes parágrafos:
"Em 1984, os Penguins terminaram em último, (...) selecionaram
Mario Lemieux [ainda não existia o sorteio] e o resto, como dizem,
é história. Lemieux ressuscitou a franquia e liderou os
Pens rumo a dois títulos da Copa Stanley.
"O que é quase sempre esquecido é que o New Jersey
Devils, que quase roubou o último lugar dos Penguins naquela
temporada, escolheu em segundo lugar naquele recrutamento. Ninguém
estava sequer perto da categoria de Lemieux, então os Devils
escolheram Kirk Muller, que teve uma bela carreira na NHL, mas não
era nenhum Lemieux.
"Ah, aliás, a franquia de New Jersey acabou por conquistar
três Copas Stanley."
Mark Madden também coloca Muller na história: "Preparem-se
para Evgenii Malkin. Ele não é nenhum Lemieux. Mas ele
pode vir a ser melhor que Kirk Muller."
O grande ponto de interrogação a respeito de Malkin é
a sua saúde. Ele ficou de fora de parte da última temporada
russa, cortesia de uma concussão, problema sempre preocupante
na NHL. Aparentemente, essa foi sua única concussão, mas
os Penguins pretendem fazer exames detalhados com ele, para avaliar
a extensão do problema e saber se isso interferiria em sua carreira.
Outras opções seriam o atacante tcheco Rostislav Olesz,
os centrais canadenses Robbie Schremp e Kyle Chipchurra, o defensor
canadense Cam Barker e o goleiro norte-americano Al Montoya. Este último
parece ter poucas chances de ir para os Penguins, que já têm
Marc-André Fleury, selecionado com a primeira escolha no ano
passado, além de outros dois goleiros de futuro, Andy Chiodo
e Sebastien Caron.
Só no dia 26 de junho, em Raleigh, na casa do Carolina Hurricanes,
é que se confirmarão (ou não) as especulações
sobre as escolhas. Já as especulações sobre o futuro
de cada uma delas durarão mais algumas temporadas.
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Alexandre
Giesbrecht, 28 anos, bem que tentou achar uma foto de Evgenii
Malkin para ilustrar esta matéria, chegando a tentar decifrar
o russo do site do Metallurg Magnitogorsk, mas não conseguiu. |
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