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9 de abril de 2004
Dissecando a série Red Wings x Predators

Por Marcelo Constantino

Até os últimos dias havia uma expectativa em Detroit quanto ao adversário a ser enfrentado na primeira fase dos playoffs. A torcida maior era pelo St. Louis, freguês cativo e passagem obrigatória para os Wings chegarem ao título da Copa Stanley. Chegou uma hora que ficou entre Edmonton e Nashville, até que o Vanvouver selou o fim do sonho canadense.

Para os Wings, melhor os Preds que os Oilers. É um time que chega pela primeira vez aos playoffs, ao contrário de um time de tradição, que conta com torcedores de longa data e mídia fervorosa (como qualquer outra canadense). Em Nashville há uma boa quantidade de torcedores dos Wings que comparecerão aos jogos e há também a sensação de que o gol já foi alcançado com a classificação. Isso naturalmente joga toda a pressão e obrigação nas costas do Detroit, já que os Preds não têm nada a perder. Time que quer ser campeão sabe lidar com isso.

Aos que acham que o time onde joga Greg Johnson (aquele mesmo que começou a carreira no Detroit, na temporada recordista de 1995-96) irá amolecer por já estar classificado, esqueçam. Darren McCarty, um verdadeiro porta-voz do Detroit, atesta: "Eles são muito bem comandados, sempre jogam duro. Sempre chegam junto, não desistem."

O pau comeu nos primeiros encontros entre Detroit e Nashville nesta temporada, quando os Preds estavam vencendo os confrontos, precisamente até dezembro. Numa das três partidas vencidas por eles, os Wings venciam por 3-0 e acabaram derrotados por 4-3, ainda no terceiro período, numa virada que acendeu o alerta em Detroit. Foi criada uma certa rivalidade entre os dois, em função de entradas ríspidas e brigas subseqüentes nesses jogos iniciais. Mais tarde, já na fase declinante do goleiro Tomas Vokoun, neste ano, os Wings se recuperaram e venceram as três seguintes.

Vamos dissecar os pontos básicos de cada time, começando pelo que mais se preza em playoffs, goleiro e defesa:

Goleiros --
Tomas Vokoun começou tão bem que chegou a ser chamado para o Jogo das Estrelas (ainda que esta relação seja falsa), mas entrou em declínio dali em diante. O temor geral em Detroit é que ele dê uma de Giguere e feche o gol, mas é algo que dificilmente ocorrerá da mesma forma. Já Manny Legace cumpriu trajetória singular na temporada. Tido como reserva número 1 da liga, conviveu com Curtis Joseph e Dominik Hasek lado a lado durante algum tempo. E foi assistindo aos dois sofrendo contusões, um após outro, e lhe abrindo um espaço cada vez maior. Com isso ele simplesmente foi o goleiro que mais atuou pelo time na temporada e que teve os melhores números dentre os três. Quando o Detroit esteve repleto de jogadores da AHL, era ele que segurava -- e muito bem -- as pontas no gol. Vantagem: Empate.

Defesa --
Nicklas Lidstrom, Chris Chelios, Derian Hatcher e Mathieu Schneider formam um quarteto absolutamente inigualável na NHL de hoje. Somente estes quatro já têm mais experiência em playoffs do que todo o plantel dos Preds, comissão técnica inclusive. Isso não quer dizer, evidentemente, que os Wings possuem a melhor defesa da liga -- e não têm. Lidstrom fez boa temporada, mas foi a de menor produção em sua carreira na liga. Schneider, pelo contrário, fez uma das melhores da sua vida. Hatcher passou meses se recuperando de contusão e voltou somente no último mês, sendo ele a esperança do time para que atacantes sejam devidamente removidos da frente da área de Legace.

Do lado dos Preds, há bons e subvalorizados defensores: Kimmo Timonen (tanto na defesa como no ataque), Mark Eaton (na defesa, líder disparado do time em +/-) e o surpreendente Marek Zidlicky (este especialmente no ataque, de preferência em vantagem numérica). Embora o plantel defensivo do Nashville não seja fisicamente impostado ou intimidador, é veloz (mais veloz até que o do Detroit). Vantagem: Detroit.

Ataque --
Aqui é onde reside o desequilíbrio. Vamos lá: Brett Hull, Brendan Shanahan, Robert Lang, Pavel Datsyuk, Henrik Zetterberg, Steve Yzerman. Uma carga dessas é areia demais para os bons Steve Sullivan e Scott Walker & cia. Mas observemos aqui o alarme Sullivan: ele obteve 30 pontos nas 24 partidas disputadas pelo Nashville. Vantagem: Detroit.

Vantagem numérica --
Vale praticamente o mesmo de cima, a quantidade e variedade de armas ofensivas dos Red Wings é letal. Ali tem de tudo o que é necessário a um bom time de VN: o armador de jogadas (Datsyuk, Zetterberg), o matador (Hull, Shanahan), o quarterback (Lidstrom, Schneider), os extras (Yzerman, Lang), o homem-de-frente-da-área (Holmstrom, e apenas ele). O dos Preds também é bom, mas num patamar bem abaixo. Mas voltemos ao alarme Sullivan: dos nove gols marcados por ele pelo Nashville, sete foram em VN. Vantagem: Detroit.

Desvantagem numérica --
O mais interessante é que são dois dos times que mais marcaram gols em DN na temporada. Greg Johnson e Scott Walker marcaram um total de sete gols assim pelos Preds enquanto a dupla Kris Draper e Kirk Maltby marcou nove pelos Wings. Portanto, temos times que matam penalidades, mas que preocupam-se também em surpreender o adversário constantemente. Fora isso, os Wings têm o melhor time de DN da liga, enquanto o dos Predators não é lá muito bom. Encarando todos aqueles astros pela frente então, aí é que a coisa pode ficar feia para o time azarão. Vantagem: Detroit.

Profundidade --
Falar de profundidade com os Wings chega a ser piada. Basta lembrar que a (suposta) quarta linha do time é a Grind Line, que atua junto desde 1997 e que o líder da linha, Kris Draper, fez a melhor temporada de sua carreira, com 40 pontos. Uma linha composta por Boyd Devereaux, Jason Williams e Mark Mowers seria titular em diversos times na liga, eventualmente até atuando como terceira. Em Detroit são todos reservas imediatos. Vantagem: Detroit.

Técnicos --
Dave Lewis faz um trabalho que não é fácil como parece, herdando um time fortíssimo do técnico mais famoso da história do esporte. Isso sem ter experiência na liga como treinador principal. E ainda tem o mérito de ter mantido os Wings no topo, mesmo quando o time estava repleto de contusões. Mas Barry Trotz possivelmente será indicado ao Troféu Jack Adams este ano pelo belo trabalho com o Nashville, e com merecimento. São cinco anos no comando do time, sempre com um grupo que batalha duro no gelo, conseguindo extrair deles o máximo possível. Vantagem: Trotz, ligeiramente.

Marcelo Constantino lamenta profundamente a programação da ESPN Latin America para os playoffs da NHL deste ano. E conclama a todos que reclamem através do e-mail international.networks@espn.com.
MAIS UM Steve Yzerman levanta mais um Troféu dos Presidentes para os Red Wings, o quarto em dez anos (Carlos Osorio/AP - 03/04/2004)
 
DETROIT RED WINGS Sempre com alguns jogadores importantes contundidos, mesmo assim os Wings manteiveram-se no topo da NHL durante a temporada (David Zalubowski/AP - 04/04/2004)
 
NASHVILLE PREDATORS Os Preds obtiveram um excelente reforço em Steve Sullivan, que chegou arrebentando e praticamente tornou-se o líder do ataque do time (Bill Kostroun/AP - 19/03/2004)

 

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Página publicada em 7 de abril de 2004.