Por
Alexandre Giesbrecht
Quando escrevi, há quatro edições, sobre os Penguins,
achei que seria a minha única oportunidade de escrever sobre
eles na temporada, depois de ter deixado passar a chance de escrever
sobre eles quando o goleiro novato Marc-André Fleury estava numa
fase surpreendente, em outubro. Depois de 18 derrotas consecutivas,
o time venceu uma partida, e até escrevi sobre o assunto uma
semana antes do previsto, já que nossas edições
geralmente cobrem apenas até a rodada de segunda-feira.
Uma vitória era algo quase inédito para os lanternas da
liga. Hoje, meras quatro semanas depois, tornou-se algo quase corriqueiro.
Uma reviravolta mais que surpreendente, sem dúvida. Algo que
deveria deixar a torcida feliz.
Deveria, mas não deixa.
Quando os Penguins venceram os Coyotes na prorrogação,
acabando com a seqüência de derrotas, diminuíram em
dois pontos a diferença para o penúltimo colocado, o Columbus,
diferença essa que passou para 13 pontos. Parecia impossível
sair da lanterna, mas, após os resultados de domingo, a diferença
já estava em meros três pontos para os mesmos Blue Jackets.
E, com, respectivamente, um e dois pontos a mais, estavam Capitals e
Blackhawks.
O acúmulo de pontos dos Penguins desde então tem sido
num ritmo impressionante. Se a temporada tivesse começado naquele
25 de fevereiro em Phoenix, o time de Pittsburgh estaria em segundo
lugar na NHL, apenas um ponto atrás do Tampa Bay Lightning (ver
quadro ao lado).
Em outros anos, não faria muita diferença sair da lanterna,
e a reabilitação seria algo a se comemorar bastante. Mas
não neste ano. Este é o ano em que o recrutamento trará
o que promete ser o melhor prospecto em 20 anos a chegar à liga:
o russo Alexander Ovechkin. Os outros jogadores disponíveis não
parecem chegar aos pés dele, por isso não há dúvidas
de que ele será o primeiro jogador escolhido.
Ficar em último, é claro, não garante a primeira
escolha. Há um sorteio em que o ganhador sobe cinco posições.
Mas ficar em último dá a melhor chance de conquistar a
primeira escolha. O lanterna tem 25% de chances de ganhar o sorteio.
Somando-se a isso os 23,2% de chances dos times que terminaram a temporada
entre a 17.ª e a 25.ª colocações (e que, subindo
cinco posições, não chegarão à primeira
no recrutamento), a probabilidade de o lanterna acabar com Ovechkin
nas mãos é de nada menos que 48,2%. Subir da última
para a penúltima colocação custa ao time 29,4 pontos
percentuais de chances, já que o vice-lanterna tem 18,8% de chances
no sorteio (a tabela completa encontra-se ao lado).
E não nos esqueçamos do fato de que ninguém sabe
o que poderá acontecer no recrutamento de 2005 caso não
haja temporada em 2004-05, ameaçada de locaute por parte dos
donos de time. Nesse recrutamento também haverá uma gema
única, o canadense Sidney Crosby. Sem a temporada, existe a possibilidade
de que a NHL leve em consideração a classificação
da temporada de 2003-04 para determinar as posições no
recrutamento.
Por tudo isso, a torcida não tem gostado muito de ver os Penguins
ganhando jogo atrás de jogo, algo comparável ao que se
viu em São Caetano do Sul há duas semanas, quando a torcida
do São Paulo gritava "entrega, entrega", na esperança
de que o time cedesse a virada para o Juventus, o que rebaixaria o arqui-rival
Corinthians.
Para piorar as coisas, os jogos que os Pens têm pela frente são
teoricamente mais fáceis que os de seus rivais diretos na briga
pela lanterna (!). Os Hawks têm pela frente apenas dois times
que não irão aos playoffs, e enfrentam duas vezes os Predators,
que deverão brigar até o fim por uma das últimas
vagas no Oeste. Os Blue Jackets pegarão os Wings duas vezes,
além dos Predators e dos Sabres, estes também tentando
conquistar uma pouco provável vaga. Os Capitals jogariam na última
terça contra os Islanders, que tentam defender a oitava posição
no Leste, e têm ainda jogos contra Lightning e Boston. Já
os Penguins não enfrentam mais nenhum time que irá aos
playoffs, embora tenham dois compromissos contra os Sabres e dois confrontos
diretos com os Caps.
Isso também não significa tanta coisa, ao menos no caso
dos concorrentes que enfrentam favoritos ao título. As vitórias
que os Pens acumularam nas últimas semanas não vieram
apenas contra times fracos: eles venceram os Stars por shutout e os
Leafs em Toronto. Só que também foram goleados por 6-1
pelos Devils e sofreram seis gols em vantagem numérica (recorde
negativo da franquia) dos Predators na derrota por 9-4.
Como não podem pedir aos jogadores que entreguem o jogo, restam
poucas possibilidades de interferência da diretoria nos resultados
do time. Fizeram o que podia ser feito. Quando o goleiro Jean-Sébastien
Aubin se contundiu, há duas semanas, substituíram-no com
Martin Brochu, reserva no time de baixo, com uma experiência de
apenas oito jogos na NHL, que acabou só entrando em uma partida
que o time já perdia por 5-1. Quando Aleksey Morozov teve de
ficar de fora de dois jogos, o substituto foi Matt Hussey, autor de
dois gols em 53 jogos na AHL. E não é que o até
então inepto Hussey marcou dois gols em duas partidas na semana
passada?
"Sabe, é engraçado", diverte-se o defensor Brooks
Orpik. "Quando você não está ganhando, perguntam:
'Por que eles não estão ganhando?' Então você
começa a ganhar e perguntam: 'Por que eles estão ganhando?'"
E não é difícil imaginar por que eles estão
se dedicando tanto. Quem no elenco se importa com um jovem jogador que,
sem ter ainda provado nada, deve tirar a vaga de alguém? Isso
sem falar que, dos 20 jogadores no elenco atual, apenas cinco têm
contrato garantido para a próxima temporada, por isso os demais
têm algo a provar, seja para a diretoria dos Penguins, seja para
observadores de outros times. E não se pode esquecer também
do orgulho ferido, já que o time foi motivo de risada na NHL
durante mais de quatro meses.
Eu já não me arrisco a palpitar a posição
final dos Penguins na temporada. Na nossa primeira edição
de 2003-04, eu escrevi que eles não seriam os últimos
colocados. Mais tarde, em fevereiro, escrevi que não havia mais
como eles saírem da lanterna. Agora, torço para a minha
previsão inicial estar errada. Mas é difícil torcer
contra o time do coração, ainda que seja melhor para o
seu futuro.
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Alexandre
Giesbrecht, publicitário, também não
conseguiu torcer contra o seu São Paulo na partida contra
o Juventus, que poderia significar o rebaixamento do Corinthians. |
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SONHO DE CONSUMO Para que
Ovechkin passe a vestir a camisa dos Penguins, é necessário
que o time perca mas isso tem acontecido pouco nas últimas
semanas (Jacques Boissinot - 2002) |
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CAMPANHAS DESDE 25/02/2004 |
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V |
D |
E |
DP |
Pts |
Tampa Bay |
10 |
4 |
1 |
0 |
21 |
Pittsburgh |
9 |
3 |
2 |
0 |
20 |
Montreal |
9 |
1 |
1 |
1 |
20 |
Dallas |
8 |
2 |
3 |
0 |
19 |
Edmonton |
7 |
1 |
2 |
3 |
19 |
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AS CHANCES DE CADA UM |
30.º colocado |
25,0% |
29.º colocado |
18,8% |
28.º colocado |
14,2% |
27.º colocado |
10,7% |
26.º colocado |
8,1% |
25.º colocado |
6,2% |
24.º colocado |
4,7% |
23.º colocado |
3,6% |
22.º colocado |
2,7% |
21.º colocado |
2,1% |
20.º colocado |
1,5% |
19.º colocado |
1,1% |
18.º colocado |
0,8% |
17.º colocado |
0,5% |
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