Por
Alexandre Giesbrecht
Agora, sim. Quem trocou trocou. Quem não trocou não troca
mais.
Agora, sim, já sabemos qual vai ser a cara de cada time nos playoffs,
daqui a um mês. Não sabemos ainda exatamente quais serão
esses times, mas a quantidade deles no funil diminui a cada dia, e já
não são mais tantos na briga. Gerentes gerais correram
atrás do que precisavam, conseguiram alguma coisa que cobiçavam,
deixaram de conseguir outra, viram ícones e desconhecidos mudar
de cidade.
Todo ano é assim. Mas este ano teve algo de diferente. Com o
apocalipse que se aproxima – só mais seis meses até
expirar o atual acordo coletivo de trabalho (ACT) –, os times
fora da briga tiveram um motivo a mais para fazer trocas. Estrelas de
grande magnitude saíram dos clubes com que se identificavam,
para brigar pelo título e esperar pelo que vai acontecer a partir
de 15 de setembro.
Este foi o caso de Brian Leetch, um símbolo dos Rangers, que
hoje a também azul camisa dos Leafs, numa troca inimaginável
até algum tempo atrás, principalmente na época
em que o time de Nova York se dava ao luxo de contratar jogadores a
peso de ouro, na busca por uma vaga nos playoffs que não vem
desde o já longínquo 1997. Junto com ele, deixaram a cidade
Martin Rucinsky, Greg deVries, Vladimir Malakhov, Matthew Barnaby, Chris
Simon, Petr Nedved e Alexei Kovalev, todos de renome na liga e salários
de alguns milhões de dólares por temporada.
A liqüidação em Nova York teve tudo a ver com o que
vai acontecer nas negociações do próximo ACT. À
exceção da associação de jogadores, todos
parecem querer ver implantado um teto salarial a partir da temporada
que vem, seja ela quando for. Com uma folha de pagamento que atingia
astronômicos US$ 80 milhões, os Rangers não se podiam
dar ao luxo de manter tantos jogadores caros, que, para piorar a situação,
produziam muito pouco.
Nos tempos em que podiam gastar a torto e a direito, fazia sentido.
Se um jogador não correspondia, esperava-se que seu milionário
contrato vencesse e procurava-se a estrela de algum time que não
podia mais pagar os salários crescentes deste jogador. Com o
futuro da liga indefinido, essa solução deixou de ser
não apenas atraente, como também possível.
Os Penguins já vinham fazendo tal liqüidação
nos últimos anos, até chegarem ao ponto em que estão,
com inúmeros prospectos e desconhecidos Zé-Ninguéns
compondo o elenco. E, antes dos Rangers, Chicago e Washington também
viram seus times fazer a mesma coisa. Nesses três casos, foi uma
questão de sobrevivência, independentemente do surgimento
de um teto salarial.
O time de Pittsburgh foi o primeiro a fazer, e muitos levantaram a hipótese
de o time estar se afundando em dívidas e tentando conseguir
o máximo possível pelo seu patrimônio (no caso,
os jogadores), algo que empresas prestes a pedir falência constantemente
fazem. O tempo passou, e viu-se que não era o caso. O clube simplesmente
precisava se manter em dia com seus compromissos, para poder rolar suas
dívidas – menores que a da imensa maioria da liga, diga-se
de passagem. O que ocorreu com os outros times meramente foi a prova
disso.
Por tudo isso, este dia-limite não teve trocas bombásticas,
como costumava ocorrer. Houve trocas de estrelas por prospectos e escolhas
no recrutamento, houve trocas de desconhecidos. Ron Francis, a maior
estrela da história da franquia Carolina/Hartford e um dos principais
jogadores dos Penguins do início da década de 1990, foi
parar em Toronto. O retorno? Uma escolha de quarta rodada no recrutamento
do ano que vem. Tudo bem que Francis já passou dos 40, mas ele
ainda consegue produzir alguma coisa. Não é sempre que
você vê o quarto maior artilheiro da história ser
trocado por uma escolha que possivelmente trará um jogador de
quarta linha, no máximo.
Na liqüidação de Washington, Sergei Gonchar, o defensor
com mais pontos nos últimos anos, foi para Boston. O prospecto
Shaone Morrisonn, que veio em troca de Gonchar, ainda vai levar um tempo
para contribuir, isso sem falar nas baixas escolhas de primeira e segunda
rodada no próximo recrutamento.
Voltando aos Rangers: Alexei Kovalev fez muito sucesso em Pittsburgh,
foi para Nova York durante a liqüidação dos Penguins
e não chegou nem perto de ser o mesmo jogador de antes, que chegou
ao quarto lugar na artilharia há apenas três anos. Por
ele, os Rangers conseguiram uma escolha de quarta rodada e Jozef Balej.
(Início do sarcasmo.) Sim, aquele Jozef Balej. (Fim do sarcasmo.)
A que mais se aproximou de uma troca bombástica foi a que envolveu
Avalanche e Coyotes. O time de Phoenix mandou o central Chris Gratton,
o defensor Ossi Vaananen e uma escolha de segunda rodada no ano que
vem para Denver, recebendo em troca os defensores Derek Morris e Keith
Ballard. Se os Coyotes ainda estivessem na briga pelos playoffs, esta
troca teria muito mais importância.
Considerando-se todas as trocas realizadas na última semana,
vários favoritos melhoraram suas chances, como Boston, Colorado,
Ottawa e Toronto. Outros, como Detroit e Tampa Bay, preferiram ficar
parados, o que não pode ser considerado uma má escolha,
afinal ambos os times estão no topo de suas respectivas conferências.
As cartas não estão mais escondidas na mão dos
GGs. Estão na mesa. Ou melhor, no gelo.
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Alexandre
Giesbrecht, publicitário, assistiu ao famoso filme
de hóquei (conhecido no Brasil como Vale Tudo) pela
primeira vez no último fim de semana. E comprou o DVD. |
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CAMISA NOVA Ron Francis é
apresentado como reforço dos Leafs. Leetch, ícone
dos Rangers, também veio (Dave Sanfor/Getty Images - 09/03/04) |
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