Edição n.º 74 | Editorial | Colunas | Rankings da Slot | Notas | Fotos
 
12 de março de 2004
Um dia-limite diferente

Por Alexandre Giesbrecht

Agora, sim. Quem trocou trocou. Quem não trocou não troca mais.

Agora, sim, já sabemos qual vai ser a cara de cada time nos playoffs, daqui a um mês. Não sabemos ainda exatamente quais serão esses times, mas a quantidade deles no funil diminui a cada dia, e já não são mais tantos na briga. Gerentes gerais correram atrás do que precisavam, conseguiram alguma coisa que cobiçavam, deixaram de conseguir outra, viram ícones e desconhecidos mudar de cidade.

Todo ano é assim. Mas este ano teve algo de diferente. Com o apocalipse que se aproxima – só mais seis meses até expirar o atual acordo coletivo de trabalho (ACT) –, os times fora da briga tiveram um motivo a mais para fazer trocas. Estrelas de grande magnitude saíram dos clubes com que se identificavam, para brigar pelo título e esperar pelo que vai acontecer a partir de 15 de setembro.

Este foi o caso de Brian Leetch, um símbolo dos Rangers, que hoje a também azul camisa dos Leafs, numa troca inimaginável até algum tempo atrás, principalmente na época em que o time de Nova York se dava ao luxo de contratar jogadores a peso de ouro, na busca por uma vaga nos playoffs que não vem desde o já longínquo 1997. Junto com ele, deixaram a cidade Martin Rucinsky, Greg deVries, Vladimir Malakhov, Matthew Barnaby, Chris Simon, Petr Nedved e Alexei Kovalev, todos de renome na liga e salários de alguns milhões de dólares por temporada.

A liqüidação em Nova York teve tudo a ver com o que vai acontecer nas negociações do próximo ACT. À exceção da associação de jogadores, todos parecem querer ver implantado um teto salarial a partir da temporada que vem, seja ela quando for. Com uma folha de pagamento que atingia astronômicos US$ 80 milhões, os Rangers não se podiam dar ao luxo de manter tantos jogadores caros, que, para piorar a situação, produziam muito pouco.

Nos tempos em que podiam gastar a torto e a direito, fazia sentido. Se um jogador não correspondia, esperava-se que seu milionário contrato vencesse e procurava-se a estrela de algum time que não podia mais pagar os salários crescentes deste jogador. Com o futuro da liga indefinido, essa solução deixou de ser não apenas atraente, como também possível.

Os Penguins já vinham fazendo tal liqüidação nos últimos anos, até chegarem ao ponto em que estão, com inúmeros prospectos e desconhecidos Zé-Ninguéns compondo o elenco. E, antes dos Rangers, Chicago e Washington também viram seus times fazer a mesma coisa. Nesses três casos, foi uma questão de sobrevivência, independentemente do surgimento de um teto salarial.

O time de Pittsburgh foi o primeiro a fazer, e muitos levantaram a hipótese de o time estar se afundando em dívidas e tentando conseguir o máximo possível pelo seu patrimônio (no caso, os jogadores), algo que empresas prestes a pedir falência constantemente fazem. O tempo passou, e viu-se que não era o caso. O clube simplesmente precisava se manter em dia com seus compromissos, para poder rolar suas dívidas – menores que a da imensa maioria da liga, diga-se de passagem. O que ocorreu com os outros times meramente foi a prova disso.

Por tudo isso, este dia-limite não teve trocas bombásticas, como costumava ocorrer. Houve trocas de estrelas por prospectos e escolhas no recrutamento, houve trocas de desconhecidos. Ron Francis, a maior estrela da história da franquia Carolina/Hartford e um dos principais jogadores dos Penguins do início da década de 1990, foi parar em Toronto. O retorno? Uma escolha de quarta rodada no recrutamento do ano que vem. Tudo bem que Francis já passou dos 40, mas ele ainda consegue produzir alguma coisa. Não é sempre que você vê o quarto maior artilheiro da história ser trocado por uma escolha que possivelmente trará um jogador de quarta linha, no máximo.

Na liqüidação de Washington, Sergei Gonchar, o defensor com mais pontos nos últimos anos, foi para Boston. O prospecto Shaone Morrisonn, que veio em troca de Gonchar, ainda vai levar um tempo para contribuir, isso sem falar nas baixas escolhas de primeira e segunda rodada no próximo recrutamento.

Voltando aos Rangers: Alexei Kovalev fez muito sucesso em Pittsburgh, foi para Nova York durante a liqüidação dos Penguins e não chegou nem perto de ser o mesmo jogador de antes, que chegou ao quarto lugar na artilharia há apenas três anos. Por ele, os Rangers conseguiram uma escolha de quarta rodada e Jozef Balej. (Início do sarcasmo.) Sim, aquele Jozef Balej. (Fim do sarcasmo.)

A que mais se aproximou de uma troca bombástica foi a que envolveu Avalanche e Coyotes. O time de Phoenix mandou o central Chris Gratton, o defensor Ossi Vaananen e uma escolha de segunda rodada no ano que vem para Denver, recebendo em troca os defensores Derek Morris e Keith Ballard. Se os Coyotes ainda estivessem na briga pelos playoffs, esta troca teria muito mais importância.

Considerando-se todas as trocas realizadas na última semana, vários favoritos melhoraram suas chances, como Boston, Colorado, Ottawa e Toronto. Outros, como Detroit e Tampa Bay, preferiram ficar parados, o que não pode ser considerado uma má escolha, afinal ambos os times estão no topo de suas respectivas conferências.

As cartas não estão mais escondidas na mão dos GGs. Estão na mesa. Ou melhor, no gelo.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, assistiu ao famoso filme de hóquei (conhecido no Brasil como Vale Tudo) pela primeira vez no último fim de semana. E comprou o DVD.
 
  CAMISA NOVA Ron Francis é apresentado como reforço dos Leafs. Leetch, ícone dos Rangers, também veio (Dave Sanfor/Getty Images - 09/03/04)

 

Edição atual | Edições anteriores | Sobre The Slot BR | Contato | Envie esta matéria para um amigo
© 2002-04 The Slot BR. Todos os direitos reservados.
É permitida a republicação do conteúdo escrito, desde que citada a fonte.
Página publicada em 11 de março de 2004.