Por
Marcelo Constantino
Muito se fala que o dia-limite de troca na NHL é um dia de aluguel de
jogadores, que é uma festa selvagem de times ricos sobre times pobres,
que deveria ser antecipado, etc. Mas ninguém questiona que é um dos
pontos altos da temporada. Nenhum outro esporte tem um dia-limite tão
concorrido e movimentado como a NHL.
Desta vez não tivemos um dia tão agitado assim, e por diversas razoes:
vários dos jogadores mais procurados já haviam sido rifados antes do
dia-limite, boa parte das atenções foram desviadas pelo triste espetáculo
protagonizado por Todd Bertuzzi, e todos os times estavam mais arredios
tendo em vista as expectativas quanto ao futuro da NHL. Vamos então
observar como cada time sai para a reta final rumo aos playoffs da Copa
Stanley. As trocas realizadas dias antes do dia-limite também entram
no foco desta matéria.
Anaheim Mighty Ducks -- Eles ainda estão em dúvida se chegarão ou
não aos playoffs. Na dúvida, ficaram parados no muro, sem assumir uma
postura de comprador nem de vendedor. E não fizeram nada.
Atlanta Thrashers -- Falharam em não conseguir detonar Byron Dafoe,
mas quem iria querer? O bom foi manter Shawn MacEachern, jogador que
sempre faz boas temporadas, onde quer que esteja.
Boston Bruins -- O time tido como o mais sovina da liga (Martin
Lapointe fora) agiu com boa desenvoltura nessa reta final. Sergei Gonchar
era o que havia de melhor entre defensores disponíveis. Mas ainda chegou
Andy Delmore, criticado defensor estilo Sandis Ozolinsh, que ajuda e
muito nas linhas de vantagem numérica.
Buffalo Sabres -- O mais interessante é que eles mantiveram Alexei
Zhitnik e Miroslav Satan, que estiveram em vários boatos de troca durante
a temporada. Mike Grier vem, Curtis Brown vai; saldo positivo, ainda
que levemente. Jeff Jilson é uma boa aquisição para um time que parece
seguir na luta por uma vaguinha nos playoffs. Com toda aquela cortesia
dos Islanders, a esperança está de volta em Buffalo.
Calgary Flames -- Chris Simon foi uma boa aquisição para tornar
o time mais forte. Lembrem-se que os Flames não são uma franquia rica
e que somente agora passaram de vendedores a (quase) compradores no
dia-limite.
Carolina Hurricanes -- Pelo preço certo eles teriam limpado a casa,
mas havia obstáculos: Sean Hill tem cláusula que impede sua troca, Jeff
O'Neill está machucado pelo resto da temporada e Rod Brind'Amour tem
ainda três anos de contrato valendo cerca de US$ 5 milhões cada. Então
foram apenas Ron Francis e Bob Boughner.
Chicago Blackhawks -- O que faz no dia-limite um time que já entra
eliminado no primeiro jogo da temporada?
Colorado Avalanche -- Pierre Lacroix, jamais o subestime. Os Avs
desfizeram-se do erro Derek Morris e trouxeram um "ex-erro", Chris Gratton,
que hoje em dia sabe qual seu exato papel. Não parou por aí: num claro
movimento em direção a mais força física, além do inconfundível Matthew
Barnaby, ainda trouxeram Bob Boughner, Kurt Sauer e Ossi Vaananen. São
três defensores, significa que metade da defesa está renovada na reta
final. Se vai dar certo ou não, vamos ver. Mas o que conta é que são
defensores de forte presença física no lugar de outros mais leves, como
Derek Morris e Martin Skoula. Reparem bem: Lacorix vem sempre alvejando
jogadores fisicamente fortes nos dias-limite dos últimos anos: Rob Blake,
Darius Kasparaitis, Bryan Marchment. Não faria qualquer sentido trazer
um goleiro para o lugar de Dave Aesbisher e Lacroix fez o esperado,
trazer um goleiro (Tommy Salo) com alguma experiência (no caso, péssima)
para ser o reserva.
Columbus Blue Jackets -- O aluguel de Geoff Sanderson vale mais
que uma escolha de terceira rodada, mas pelo menos seguraram o cobiçado
Jaroslav Spacek.
Dallas Stars -- Uma piada. É fato que é um dos times que mais vem
subindo de produção na temporada, mas Chris Therien e Valeri Bure é
muito pouco. Therien foi estranhamente esculhambado por Bobby Clarke.
Bure vem sendo constantemente esculhambado onde quer que seja. Tudo
bem, o cara era o líder em pontos dos Panthers na temporada, mas isso
só demonstra o estado em que aquele time se encontra.
Detroit Red Wings -- Simplesmente não há espaço no elenco para mais
jogadores. Mais um atacante significaria a saída de Darren McCarty,
ou seja, nem pensar. O time que chegou a ter dez titulares de uma só
vez na enfermaria e tudo parecia estar perto do fim, até Derian Hatcher
estava voltando. Mas então o surto voltou elevou Kris Draper e Mathieu
Dandenault até o fim da temporada, logo depois levou também Pavel Datsyuk
e Robert Lang... E eles seguem vencendo mesmo assim.
Edmonton Oilers -- Petr Nedved foi pra dizer que o time está na
briga pelos playoffs, mas sem nenhuma pretensão de avançar da primeira
fase.
Florida Panthers -- Têm um time jovem, cheio de futuro pela frente,
mas já vimos esse filme antes. No dia-limite, fizeram o que tinha de
ser feito.
Los Angeles Kings -- Anson Carter não é tudo que falavam dele, mas
é um bom reforço para os playoffs.
Minnesota Wild -- O Wild não tem muita coisa disponível que encha
os olhos, não é?
Montreal Canadiens -- Alexei Kovalev era um dos melhores atacantes
à venda no mercado. Não se iludam, uma coisa é um jogador em qualquer
time, outra é nos Rangers, time que afunda qualquer carreira atualmente.
Não esperem pelo Kovalev dos Rangers em Montreal, mas também não esperem
pelo Kovalev dos Penguins. Muitos apostam que ele seguirá no feijão-com-arroz
atual, mas aposto isso seria surpreendente. Como pode um jogador não
jogar melhor quando sai de Nova York?
Nashville Predators -- Se há uma contratação de sucesso durante
esta temporada é a de Steve Sullivan pelos Preds. Ele chegou arrasando
em Nashville, possivelmente feliz da vida de sair de Chicago. Brad Bombardir
e Sergei Zholtok trazem alguma experiência e agregam profundidade ao
hóquei mediano do time na corrida pelos playoffs. Shane Hnidy também
agrega força ao setor defensivo.
New Jersey Devils -- Existe toda uma supervalorização em cima de
Lou Lamoriello, como se ele fosse o gerente que dispara o gatilho no
dia-limite. Não é assim, Pierre Lacroix é o homem. No ano passado era
consenso de que os Devils precisavam de um atacante goleador; eles não
contrataram nenhum e foram campeões assim mesmo. Esse ano a necessidade
era a mesma e eles trouxeram dois bons atacantes: Jan Hrdina e Viktor
Kozlov, que certamente melhorarão o time. Também se falava que os Devils
estavam na corrida por Brian Leetch e Sergei Gonchar. Mas, convenhamos,
reforçar a defesa é reforçar o que eles têm de melhor. Agora, isso considerando
esse time COM Scott Stevens jogando. Sem ele a coisa fica esburacada.
New York Rangers -- Liquidação total. Claro que não haveria louco
que arcasse com o salário de Bobby Holik e seria necessário um jogador
compulsivo para apostar em Eric Lindros a essa altura. Tom Poti estranhamente
também sobreviveu. Mas faltou sair o principal deles: Glen Sather, o
gerente.
New York Islanders -- Alexander Karpovtsev? Steve Webb? Eles dizem
que o grande reforço será o retorno de Alexi Yashin. Estão perdidos.
Ottawa Senators -- Sempre é alardeado que os Sens prescindem de
mais jogo físico. Zdeno Chara e Rob Ray jogam lá, por favor! Esse ano
foi a história do "central grande e forte" e de um goleiro. Central
daquele tipo já vimos que não havia disponível, mas goleiro?! Patrick
Lalime pode estar vazando mais que o habitual, mas ele faz bonito nos
playoffs. Peter Bondra de graça foi qualquer coisa de sensacional e
Greg de Vries chega para melhorar ainda mais uma defesa que já é boa.
Esse é um time pronto para chegar ao título.
Philadelphia Flyers -- Bobby Clarke fez algumas coisas estranhas,
mas o fato é que ele se movimentou bem dessa vez. Há dúvidas se Sean
Burke é realmente o tão aguardado bom goleiro para os playoffs de que
os Flyers precisam, se Vladimir Malakhov é realmente uma opção melhor
que Chris Therien e se Jeremy Roenick e Keith Primeau voltam ao time
em tempo. Se não retornarem a coisa fica realmente feia porque isso
significaria Alexei Zhamnov como principal central do time. Ou seja,
não mete medo.
Phoenix Coyotes -- Os Yotes agiram bem. Levar alguma coisa por
Brian Savage, quando ele estava sendo oferecido de graça pela liga,
é um gol. Pavimentaram bem o futuro, com dois defensores ofensivos,
Derek Morris e Keith Ballard. Em Denver Morris era apenas mais um numa
defesa com Rob Blake e Adam Foote, em Phoenix ele terá bem mais tempo
de gelo, o que deverá lhe garantir bem mais pontos. Com Mike Comrie
na frente o time já tem boas e jovens peças em que pode construir um
time para a nova era da NHL.
Pittsburgh Penguins -- Ah, sim, os Pens estão na NHL...
San Jose Sharks -- Protagonizaram uma troca em três vias com Buffalo
e Boston e trouxeram Jason Marshall nessa história. E ainda o atacante
Curtis Brown. Resultado final: tudo na mesma.
St. Louis Blues -- É piada? Pagar, que sejam sacos de patins, por
Brian Savage? O ex-Mr. Outubro esteve durante toda a temporada sendo
rifado pelos Coyotes a custo zero e agora os Blues o apresentam como
"reforço"? Eric Weinrich chega para diminuir o buraco defensivo provocado
pelas contusões de MacInnis e Jackman, mas no geral é muito pouco, até
mesmo para chegar aos playoffs.
Tampa Bay Lightning -- Stan Neckar?! Isso não conta. O fato de estarem
muito bem ultimamente deve ter pesado para que ficassem parados no dia-limite.
Parece que tentaram repatriar Vaclav Prospal, mas o preço era alto.
Toronto Maple Leafs -- Só a vinda de Brian Leetch já seria suficiente.
Mas sem essa de que Ron Francis está acabado. Pegue um bom jogador daquele
time de Carolina e coloque num time de verdade e você verá a diferença.
Esperem por um Francis renovado na sua última corrida pela Copa Stanley.
Vamos relevar essa coisa de retirar Calle Johansson da aposentadoria
e trazer o chove-e-não-molha Chad Kilger e acreditar que eles são apenas
para emergência.
Vancouver Canucks -- Martin Rucinsky era o que havia sobrado de
bom na liquidação de ponta de estoque dos Rangers e Geoff Sanderson
veio a um bom preço. Bons negócios, ainda que todos esperassem mais.
Marc Bergevin é de lascar. Porém, com Todd Bertuzzi fora da temporada
e dos playoffs, adeus Canucks.
Washington Capitals -- Mandou o que tinha de bom e caro pra outro
canto, mas faltou o goleiro Olaf Kolzig, que é bem caro e já não é tão
bom assim.
|
|
|
|
COLORADO MAIS FORTE Pierre
Lacroix trabalhou, e não foi pouco, no dia-limite de trocas.
O resultado são várias caras novas no time para essa
reta final (NHL/Reuters) |
|