Por
Alexandre Giesbrecht
Há pouco mais de dois anos e meio, os Penguins mandaram Jaromir
Jagr para Washington, recebendo em troca três prospectos –
Kris Beech, Michal Sivek e Ross Lupaschuk – e dinheiro. O gerente
geral do time, Craig Patrick, foi duramente criticado pela troca, já
que ainda não tinha assumido publicamente a decisão de
cortar drasticamente os custos, à espera do novo acordo coletivo
de trabalho, o que ainda custaria as cabeças de Darius Kasparaitis,
Robert Lang, Alexei Kovalev e Martin Straka, entre outros.
É bem verdade que os prospectos recebidos ainda não se
desenvolveram, e já nem há certeza de que um dia se desenvolverão,
mas o negócio conseguiu ser ainda pior para os Capitals. Jagr
nunca produziu o que se esperava dele, mesmo tendo algum talento a seu
redor. Seu salário de US$ 11 milhões por temporada passou
a ser um peso insuportável para um time que nunca consegue ir
longe nos playoffs. Por isso ninguém ficou surpreso quando foi
anunciado, na última sexta-feira, que Jagr iria para os Rangers,
que poderiam absorver seu salário com seu orçamento quase
ilimitado.
O que surpreendeu a muitos foi o retorno para o time da capital norte-americana.
Apenas o mediano Anson Carter. Aliás, apenas Carter, não.
Houve ainda um "retorno negativo": os Capitals vão
desembolsar algo entre US$ 4 milhões e US$ 4,5 milhões
do salário anual de Jagr, até o fim de seu contrato, em
2007-08. Com isso, a troca de 11 de julho de 2001 resume-se agora a
Anson Carter pelos três prospectos, que ainda estão em
Pittsburgh, mais os US$ 5 milhões que o Washington desembolsou
à época, mais cerca de US$ 21 milhões em salários
que o time terá de pagar para ver sua ex-maior estrela marcar
gols com outra camisa. De acordo com o jornal New York Post, os Caps
terão ainda de pagar dois terços do que faltar ser pago
a Jagr se os Rangers rescindirem o contrato após a temporada
de 2005-06.
Para os Rangers, não foi um mau negócio. Tentando se classificar
para os playoffs, depois de seis temporadas de frustrações
proporcionais ao tamanho da folha de pagamento, cumprem um ritual quase
anual de trazer uma estrela para tentar se salvar. No ano passado, quem
veio foi Alexei Kovalev. Apesar de o time ter conseguido 11-8-3-2 depois
da chegada do russo, não foi o suficiente para continuar jogando
em abril. No ano anterior, a chegada de Pavel Bure serviu apenas para
um final de temporada com 6-6, também sem playoffs.
Aos poucos, vai-se percebendo a fórmula do time: "se é
bom para os outros, deve ser bom para mim também." Foi assim
em 1993-94, quando o título foi parar em Nova York com boa parte
do elenco tendo vindo dos Oilers supercampeões da década
de 1980. A diferença é que agora os Rangers vão,
aos poucos, comprando (essa é a palavra que melhor se encaixa
aqui) o time dos Penguins que se mantinha nos playoffs na década
passada. Além de Kasparaitis, Kovalev e Jagr, ainda estão
na "Grande Maçã" Matthew Barnaby e Dan LaCouture.
Se o GG Glen Sather for rápido, quem sabe ele não consegue
trazer de Washington também o atual artilheiro da temporada,
Robert Lang, que, claro, é um ex-Penguin? Uma pena que Mario
Lemieux está machucado, pois ele poderia se divertir com novos
rumores de que estaria de partida para Nova York.
Por que essa fórmula não dá certo, então?
Não é difícil explicar. Como os ambientes (e, obviamente,
nem todos os jogadores) não são os mesmos, os jogadores
também tendem a não ser os mesmos, isso sem falar que
já estão mais velhos, o que começa a fazer diferença
nos jogadores que já passaram dos 30. E ainda há o fato
de que os Rangers vão estocando o que aparece pela frente, sem
se preocupar se haverá um lugar para o novo jogador. Se for uma
estrela, mas acabar relegado à terceira linha, onde não
vai produzir, de que adianta?
Quando se olha para o elenco dos camisas azuis, vê-se que eles
têm goleiros pouco confiáveis, uma defesa suspeita e um
técnico (por sinal, o próprio GG Sather) que parece não
saber direito o que está fazendo. Larry Brooks, colunista do
New York Post, escreveu em um artigo sobre como se pode começar
a resolver os problemas do time: "(Bobby) Holik tem de se tornar
um central de linha de tranco. (Eric) Lindros tem de receber mais tempo
no gelo e ao menos um ponta que consiga marcar. Linhas e pares de defesa
têm de ser igualados contra os adversários. Quem joga mal
tem de ficar no banco ou de fora, independentemente do nome, do salário
ou da lenda. Mas isso é básico. Isso é um curso
de hóquei para iniciantes em pleno século XXI. Infelizmente
para os Rangers, seu professor está repetindo de ano."
Em Washington, problemas diferentes levam a um resultado parecido. Já
está praticamente decidido que o time vai começar a ser
reconstruído. Caras novas devem chegar, e jogadores que já
são a cara do time podem estar de saída, como parecem
ser os casos do goleiro Olaf Kolzig e do atacante Peter Bondra. A saída
de Jagr significa definitivamente que os Caps jogaram a toalha em relação
a esta temporada.
Não que a torcida veja tudo isso com bons olhos. O dono do time,
Ted Leonsis, foi bastante vaiado na partida contra os Flyers, no domingo.
Tão vaiado que, quando um torcedor se aproximou dele, ao fim
do jogo, com um cartaz na mão, Leonsis partiu para cima dele.
Há duas versões para o episódio: uma simples troca
de empurrões e uma agressão mais grosseira por parte do
milionário, que é um dos principais acionistas do provedor
de Internet America Online (AOL). No cartaz, lia-se: "Hóquei
dos Capitals, ações da AOL. Você vê alguma
semelhança?"
Mas não é só o hóquei dos Capitals que parece
estar caindo. Como bem apontou Michael Wilbon, colunista do jornal Washington
Post, a capital dos EUA é um cemitério de estrelas. Michael
Jordan não deu certo lá, assim como Jagr. Só que
há uma grande diferença: Jordan chegou lá para
ser um executivo dos Wizards, mas acabou retornando às quadras.
Aos 39 anos. Já Jagr chegou no que deveria ser o ápice
de sua carreira, vindo de quatro artilharias seguidas da liga. Entretanto,
suas duas temporadas com menos pontos desde 1992 vieram com os Caps.
Ele era uma aposta certa que… bem, deu errado.
Ele tem a chance de mostrar em Nova York que sua carreira não
acabou, mas começou com o pé esquerdo. No seu primeiro
jogo, os Rangers tomaram uma goleada de 9-1 dos Senators, e Jagr saiu
do gelo sem gols, sem pontos e com -2 de mais/menos. No segundo jogo,
vitória por 5-2 sobre os Panthers, marcou um gol e uma assistência,
mas também foi diretamente responsável por um dos gols
do adversário.
É, ele já não é mais uma aposta certa.
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Alexandre Giesbrecht, publicitário,
andou a pé no asfalto da Avenida 23 de Maio pela primeira
vez, graças ao aniversário de 450 anos da cidade
de São Paulo. |
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JARO "CALÚNIA"
A contra-capa do jornal New York Post mostra que as cobranças
não demoram a chegar em Nova York (reprodução) |
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