Por
Marcelo Constantino
É desnecessário recordar aqui o passado recente de transações realizadas
por Glen Sather que se revelaram desastrosas para o New York Rangers.
Simplesmente porque foram feitas sem qualquer critério, sem qualquer
responsabilidade fiscal, na base do "vamos trazer mais e mais estrelas
para o time". Raros foram os momentos em que parecia haver algum rumo
nas contratações. Ainda assim, viraram chacota.
Por exemplo: quando todos diziam que os Rangers careciam de um atacante
que fizesse um bom trabalho defensivo, lá foi Sather contratar o bom
central Bobby Holik, exatamente o tipo de jogador que o time precisava.
Ofereceu-lhe um contrato astronômico que virou um dos símbolos do absurdo
que tomou conta dos salários na liga. Holik mergulhou no conhecido pântano
nova-iorquino e nunca mais foi o mesmo, ainda que tenha melhorado recentemente.
Nesta temporada o time está levemente melhor do que nas ultimas em que
não se classificou para os playoffs, mas o velho problema perdura: há
uma forte carência no setor defensivo, agravada pela recente contusão
de Darius Kasparaitis, que ficará de fora por quatro meses. O time,
que já sofre gols a granel na temporada (com a natural exceção dos Penguins,
os Rangers e os Capitals são os times que mais vezes sofreram cinco
ou mais gols numa partida), sofre ainda com seus goleiros, que não inspiram
a confiança de ninguém.
Pois bem, diante de um quadro desses, de séria carência defensiva, o
que faz o insano Glen Sather? Desafia a lógica e a sensatez e contrata
mais um atacante. E um atacante que não defende.
Diferentemente da maioria dos jogadores da atualidade, que buscam cada
vez mais incrementar o aspecto defensivo dentre suas características,
Jaromir Jagr ainda é um jogador essencialmente ofensivo. Possivelmente
o mais habilidoso na liga quando se fala em atacar.
Qual o sentido então de se contratar o Tcheco Maravilha? Simplesmente
porque os Rangers podem, não exatamente porque precisam. Jagr foi para
os Rangers porque era o único lugar que comportaria, anda que sem qualquer
necessidade, o salário dele. E, claro, porque no fim das contas foi
um bom negócio. Afinal, foi uma troca mano a mano por Anson Carter.
Não há a menor sombra de dúvida de que os Rangers melhoram com Jagr.
Chega a ser covardia compará-lo ao supervalorizado Carter, ex-Oiler
que agora poderá dizer aos filhos que um dia foi trocado por um jogador
vencedor de cinco troféus Art Ross. Jaromir Jagr, sozinho, é capaz de
levar esse time dos Rangers aos playoffs e, estando lá dentro, fazer
o time avançar além da primeira fase. Sozinho. Tal qual ele fazia com
os Penguins sem Mario Lemieux.
Porém, os dois anos de Capitals mostram o contrário também, que o tcheco
pode ser apenas mais um. Será necessário ver qual Jagr será o dos Rangers
e o mais provável é que seja o Jagr dos Caps. Afinal, quem é que chega
a Nova York e joga tão bem quanto antes? Ninguém. Não esperem que o
tcheco fuja a esta regra, mas que seja tomado como referencial os tempos
dele de Pittsburgh, não de Washington.
E a defesa? -- Para "reforçar" a defesa, os Rangers contrataram
o rodado defensor Jamie Pushor, que estava jogando na AHL pelo Syracuse,
com passe preso ao Columbus Blue Jackets. Ainda que esse tipo de raciocínio
não pareça ser o forte de Sather, a dedução lógica é simples: um jogador
que não serve para atuar nem como sétimo ou oitavo defensor dos lamentáveis
Blue Jackets serve para ser titular nos Rangers. Alô, Igor Ulanov, você
pode ter uma nova chance em Nova York!
Na festejada estréia de Jagr com a nova camisa, um acachapante desastre.
Simbólico. Os Senators, time de melhor saldo na liga há algumas semanas,
meteram 9-1 jogando em casa. Entra goleiro, sai goleiro, não adianta,
o problema não é (somente) ali. A defesa é que é um verdadeiro mainá.
Era como se alguém dissesse: "Sather, seu imbecil, será que você não
percebe que o problema do time não é exatamente ofensivo?"
Na estréia em casa, uma boa partida de Jagr, com direito a três pontos,
na vitória por 5-2 sobre o fraco Florida Panthers. Pode ser um sinal
de que a equipe terá melhores dias pela frente. Se o time conseguir
seguir o lema "a melhor defesa é o ataque", ótimo. Mas isso não existe
hoje em dia na NHL.
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Marcelo
Constantino terminou a leitura de “A Ditadura Derrotada”,
de Elio Gaspari. Tal qual os dois volumes anteriores, trata-se
de um tijolo recomendadíssimo para quem tem interesse nos
detalhes e meandros da política do período do último
regime ditatorial brasileiro |
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FELIZ ESTRÉIA NO MSG Jaromir
Jagr comemora a vitória em sua estréia no Madison
Square Garden, quando os Rangers bateram os Panthers por 5-2 (Kathy
Willens/AP - 26/01/04) |
MILHÕES E MILHÕES |
Quando Jagr foi apresentado à imprensa como novo contratado, havia
três Rangers ao lado dele: Lindros, Messier e Leetch. Juntos, os
quatro jogadores ganham cerca de US$ 30 milhões por ano, valor superior
às folhas de pagamento inteiras de Edmonton, Atlanta, Pittsburgh,
Florida, Minnesota e Nashville. Com exceção dos Pens, todos os outros
times estão em patamar semelhante ao dos Rangers na tabela. |
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