Por
Marcelo Constantino
Com uma campanha de 6-1-1 até segunda-feira, janeiro tem sido um mês
de ouro para o Montreal Canadiens. É a melhor fase dos Habs desde quando
emendaram sete vitórias seguidas no fim da temporada de 2001-2002, temporada
em que se classificaram para os playoffs pela primeira vez em quatro
anos.
Na verdade, trata-se de um mês de consolidação do trabalho realizado
pelo técnico Claude Julien, há um ano no cargo. Sabendo do que deve
ser feito para ter algum sucesso hoje em dia na NHL quando você tem
um time mediano nas mãos, Julien tratou de estabelecer um sólido sistema
defensivo, sem qualquer pudor em assumir que pensa primeiramente em
defender-se para depois atacar. Afinal, quem não faz isso hoje em dia
na liga?
Para esta temporada, ele impôs sua própria (e rígida) disciplina, unindo
uma equipe que estava entrando em parafuso. A idéia era mudar a identidade
do time, tornar o Montreal um time duro de se jogar contra. Fazer o
time adversário realmente merecer marcar um gol, nada daquela facilidade
de antes. Na outra ponta, fazer um gol e segurar a vantagem com unhas
e dentes. Enfim, o mesmo que vários tentam e que o Minnesota
Wild fez em 2003 com sucesso, mas sem escancarar para a armadilha da
zona neutra.
Foi necessário treinar e consertar o desastre que eram os times especiais,
um dos piores da liga na temporada passada. Hoje o time de vantagem
numérica tem um bom aproveitamento de 19% (7º na NHL) e o que mata penalidades
está melhorando, com 84,8% (15º). O time ficou mais agressivo, mais
determinado, mais vibrante. E mais fechado.
O gerente geral Bob Gainey também tem seu dedo nessa história. Foi ele
o principal responsável pela decisão de renovar o elenco, detonando
os veteranos Mariusz Czerkawski, Randy McKay e Donald Audette e ainda
mandando Karl Dykhuis e Patrick Traverse para o Hamilton, time da liga
menor.
Julien, ex-técnico do Hamilton, agora assiste a Michael Ryder
liderar a corrida pela artilharia entre novatos. Assiste também ao central
Mike Ribeiro fazendo uma temporada explosiva, a melhor de sua carreira
até aqui.
Nesta temporada Julien sabia exatamente o que queria, depois de conhecer
e observar o time na metade final da temporada passada. Ainda assim,
levou tempo para colher os resultados esperados. Na época do famoso
jogo ao ar livre, o Heritage Classic, os Habs ainda não estavam
nem perto do ponto idealizado por ele. Matar penalidades ainda era um
problema grave e o time não estava fechado como ele queria. Até que
Julien bateu o martelo: quem não estiver no barco para fazer dos Habs
um time mais forte de se jogar contra, que pule fora.
Era verdade, estava fora mesmo. Mike Ribeiro, Yanic Perreault, Joe Juneau,
Andreas Dackell, Chad Kilger, Stephane Quintal, Niklas Sundstrom, Francis
Bouillon, Michael Ryder e Pierre Dagenais, todos eles já foram barrados
para alguma partida este ano. Ribeiro, por exemplo, chegou a ser barrado
mesmo sendo líder do time em pontos.
Esse estilo radical tem sido assimilado pelo grupo, que vem respondendo
bem. Depois da batida do martelo, o time engrenou (15-6-5-1).
Souray e Brisebois -- Quem diria! De tão surpreendente que tem sido
sua temporada, o defensor Sheldon Souray chega a ser cogitado para o
Troféu Norris pela imprensa canadense. Líder disparado de pontos entre
os defensores do time, Souray bateu o recorde de pontos por um defensor
na franquia dos Canadiens, naquilo que foi um verdadeiro jogo-treino
contra os Penguins, quando marcou seis pontos na goleada de 8-0.
Ainda que Souray seja o melhor defensor da equipe, poucos no time têm
estado mais aliviados com a boa fase do que Patrice Brisebois. Único
remanescente do time campeão de 1993, era constantemente vaiado pela
torcida desde a temporada passada. No começo desta, o gerente Bob Gainey
comprou a briga e ofendeu publicamente os torcedores que o vaiavam.
Depois disso, Julien designou-lhe um papel essencialmente defensivo
e Brisebois vem fazendo uma ótima temporada. Ele lidera o time em +/-,
com +11. Não há mais vaias para ele.
Qual a diferença de uma temporada para outra? "A chave é José no gol",
diz Brisebois. "Todos sabemos que ele faz a diferença".
José Théodore, ele faz a diferença -- Em 2001-2002 ele foi o maior
responsável pela classificação dos Habs aos playoffs. Venceu os troféus
Vezina (melhor goleiro) e Hart (MVP), saiu consagrado. Ganhou um novo
e milionário contrato. No ano seguinte, foi uma baita decepção, chegando
a amargar um bom tempo na reserva de Jeff Hackett, hoje nos Flyers.
Agora Théo está atuando como antes e é novamente um dos principais responsáveis
pela boa campanha do time. Não chega a estar arrasador como dois anos
atrás, mas está no ponto onde deve estar um grande goleiro com um time
mediano à frente.
Muitos apostaram -- e muitos ainda apostam -- que os Canadiens ficarão
fora dos playoffs mais uma vez, a quinta em seis anos. É possível, ainda
que no momento eles sejam um dos times mais quentes do Leste, gravitando
ali entre a 5ª e 7ª colocação na conferência.
Ter cinco times canadenses nos playoffs (Vancouver, Ottawa, Toronto,
Montreal e Calgary) já seria algo sensacional para o hóquei. Ter de
volta o time mais tradicional e vitorioso da história é algo significativo
numa temporada que será a última de uma era.
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A DUPLA QUE LIDERA Mike Ribeiro
é o líder do time em pontos na temporada, mas o grande
líder do time é o goleiro José Théodore
(60), de volta à boa forma (Gregory Smith/AP - 14/01/04) |
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NORRIS PARA ELE? O defensor
Sheldon Souray é uma das grandes surpresas do Montreal Canadiens,
liderando de longe os defensores do time em pontos. A exagerada
imprensa de Montreal pede uma indicação ao Norris
para ele (Paul Chiasson/AP - 18/12/2003) |
A CAMPANHA DOS HABS EM JANEIRO |
6-1-1-0 |
Montreal 5-1 Atlanta
Montreal 4-1 Washington
Montreal 3-1 Buffalo
Montreal 1-4 Tampa Bay
Pittsburgh 0-8 Montreal
Montreal 5-2 St. Louis
Atlanta 1-2 Montreal
Montreal 2-2 NY Rangers |
A CAMPANHA NA TEMPORADA |
23-16-6-2
(fechamento: segunda-feira, 19/01/04) |
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