Por
Alessander Laurentino
O Vancouver Canucks continua na batalha para tentar tomar o título de
campeão da Divisão Noroeste, que é praticamente de posse definitiva
do Colorado Avalanche. De vez em quando os Canucks cismam em jogar fora
as chances de ultrapassar e abrir vantagem sobre o adversário. Um exemplo
disso é o desempenho recente do time jogando em casa, tendo inclusive
perdido para time mais fracos ou em jogos que deveria ter vencido. No
dia 17 foi derrotado pelos Mighty Ducks por 2-1 em pleno GM Place após
ter começado o jogo vencendo.
A última vitória dos Canucks jogando em casa foi no dia 14 de dezembro,
e, mesmo assim, foi na prorrogação, assim como as outras três vitórias
anteriores, deixando o recorde negativo de ter conquistado a última
vitória em casa no tempo regular no longínquo 8 de novembro de 2003.
Nesse período o time acumula seis derrotas e quatro empates jogando
em casa, com as únicas quatro vitórias tendo sido conquistadas na prorrogação.
O que mais impressiona negativamente é o fato do time ter começado a
temporada com nove vitórias e um empate jogando em casa.
Como então se manter na disputa com os Avs pelo título da divisão se
os Canucks não conseguem vencer em casa?
A resposta é simples: fazendo fora de casa o dever de casa. Desde 24
de novembro de 2003 o Vancouver acumula 11 vitórias, apenas três derrotas
e um empate jogando em outros domínios, e, graças a esse excelente desempenho,
tem conseguido se manter entre os três primeiros do Oeste, seguindo
de perto os Avs e os Red Wings. Porém os Blues vêm logo atrás, trazendo
os Sharks com eles.
Algumas contusões vêm pesando negativamente no desempenho do time. Talvez
o jogador que mais faça falta seja o talentoso e valente Matt Cooke.
Junte a isso as contusões de Magnus Arvedson e Artem Chubarov e os Canucks
ficam desfalcados de dois centrais.
Outra estatística que à primeira vista parece ser um grande problema
é a falta de gols de Todd Bertuzzi, mas basta olhar seus números com
mais calma e se conseguirá ver o que realmente isso quer dizer. Bertuzzi
sempre foi conhecido como um atacante peso pesado, com muita força e
talento, capaz de fazer jogadas sensacionais, mas também com enorme
tendência a fazer besteiras históricas. Foi assim quando ficou suspenso
por dez partidas duas temporadas atrás, em conseqüência de uma briga,
e também nas diversas vezes em que acabou deixando o time em situação
de desvantagem numérica quando a equipe estava passando por um bom momento
na partida. Além disso, o seu aspecto defensivo sempre foi sofrível.
O que tem acontecido nessa temporada é que não apenas Bertuzzi, mas
toda a primeira linha dos Canucks parece ter finalmente tomado consciência
defensiva. Bertuzzi continua sendo um dos líderes no time em minutos
de penalidade, mas parece ter recebido um transplante de neurônios.
O seu mais/menos é o melhor do time, registrando +21, seguido pelo capitão
Markus Naslund.
Outro ponto crítico no desempenho ofensivo da equipe é a queda livre
no desempenho em vantagem numérica. Na temporada passada os Canucks
eram detentores do terceiro melhor time de vantagem numérica da liga,
e agora o time está afundado na 18.ª colocação neste critério. É nesse
ponto que os gols de Bertuzzi têm feito mais falta. Jovanovski, Sopel,
Ohlund, Naslund e os irmãos Sedin não vêm conseguindo resolver esse
problema, talvez até pelo fato do time ter se acostumado com Bertuzzi
comandando o time neste aspecto, jogando próximo do goleiro adversário
e congestionando a frente do gol, fazendo com isso que surgissem espaços
para os companheiros ou mesmo abrindo espaço para si mesmo.
Nesse momento, chegamos a um pensamento óbvio: será que os outros times
conseguiram entender os Canucks e agora estão preparados para enfrentar
Bertuzzi, Naslund, Morrison e companhia?
Do meu ponto de vista pessoal a resposta é não. O que se passa em Vancouver
é mais um daqueles momentos em que o time se acostumou com bons desempenhos
na temporada regular e já espera pelos playoffs na metade da temporada.
E os fracassos e decepções nos últimos três anos nos playoffs parecem
ter criado uma ansiedade geral na torcida, na imprensa e até mesmo nos
jogadores, que sabem que a torcida não se satisfaz mais com apenas boas
vitórias na temporada regular. Hoje se espera mais do time, se espera
que realmente entre na pós temporada como um "contender", não como um
"pretender" (trocadilho no inglês, relacionando um time como pretendente
ao título ou apenas uma farsa).
E por mais que o time vença na temporada regular, por mais recordes
que sejam quebrados, a dúvida vai permanecer até os playoffs novamente:
Dan Cloutier é o goleiro capaz de levar o time às finais, ou novamente
vai jogar a temporada inteira do time no lixo?
Há cerca de quatro ou cinco anos, jogar nos Canucks era difícil porque
o time ia mal, a franquia de mal a pior e a torcida fugia do GM Place.
Com desempenhos medíocres, quatro temporadas consecutivas fora dos playoffs,
uma rotatividade incrível de jogadores e técnicos, nesse cenário ninguém
parecia se importar com nada, nem mesmo a passagem de Mark Messier foi
capaz de alterar essa rotina (e Messier viu sua majestade manchada,
pelo menos nesse lado do Canadá). Os jogadores que passavam por Vancouver
pareciam alheios à situação da franquia, sabendo que em breve seriam
negociados e que estavam apenas passando uma chuva em Vancouver. Aliás,
como chove em Vancouver.
Daquela época, jogadores como Adrian Aucoin e Bret Hedican se destacavam,
talvez pelo time ser muito fraco ou porque eles fossem uns dos poucos
que se importavam. É surpreendente que jogadores como Markus Naslund
tenham sobrevivido àquela idade das trevas na franquia, quando inclusive
a venda da franquia esteve para ser concretizada e o time esteve muito
perto de sair de Vancouver.
A pedra fundamental na virada foi a chegada de Brian Burke para ser
o gerente geral da franquia e, com ele, o técnico Marc Crawford. Burke
foi capaz de montar um time competitivo e que trouxe a torcida de volta
ao estádio, devolveu o prazer de assistir o time jogar e o orgulho de
ser torcedor do Canucks.
Com um time bastante ofensivo, jovem e talentoso, mas que também tem
uma boa defesa, Burke não se esqueceu do goleiro. Após as fracassadas
passagens de Garth Snow, Kevin Weekes, Sean Burke, Corey Schwab, Felix
Potvin entre outros, Burke resolveu apostar em Dan Cloutier. O que aconteceu
até agora já sabemos, o que queremos saber é se nos playoffs de 2004
Cloutier será Cloutier ou se enterrará de vez seu futuro na franquia,
porque um novo fracasso quase certamente lhe custará o lugar.
Quem não lembra do famoso frango do meio do gelo que virou o momento
na série contra os Red Wings em 2002? E as falhas e a contusão contra
os Avs em 2002? Sem falar nas péssimas atuações contra Blues e no final
da série contra o Wild em 2003.
Por essas e outras razões que os torcedores e a imprensa de Vancouver
são quase unânimes em acreditar que o time poderia ser melhor se tivesse
um goleiro também nos playoffs e o ataque voltasse a produzir como no
passado recente.
Dá para acreditar, mas sonhar é algo que os fãs dos Canucks não estão
mais acostumados.
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Alessander Laurentino é torcedor incondicional
do Vancouver Canucks há quase dez anos. |
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DÚVIDA NO GOL Dan Cloutier
terá sua úlitma chance no gol dos Canucks nesses playoffs
(Lyle Stafford/Reuters - 25/04/03) |
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FORÇA NA FRENTE O
atacante Todd Bertuzzi, um raro e legítimo exemplar de power
forward tem buscado melhorar seu jogo defensivo (Eric Miller/Reuters
- 02/05/2003) |
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