Por Rafael Roberto e convidados

A revista The Slot BR sempre procura inovar. Aliás, ela por si própria foi uma grande novidade para todos os amantes do hóquei no país. Então aqui vai outra: essa é a primeira mesa redonda virtual em português que temos notícia, algo nunca visto em canto algum.

Para debater sobre o New York Rangers, as soluções para melhorar o hóquei, David Aebischer e outros assuntos, Rafael Roberto reuniu alguns outros membros da revista. Estão presentes na mesa virtual Daniel Rocha, Humberto Fernandes, Marco Aurélio Lopes e o convidado especial Alexandre Ribeiro, além do âncora Rafael, autor dos temas.

O debate aconteceu na tarde de domingo e os comentários estão transcritos exatamente como foram proferidos naquele momento, incluindo o bom humor tradicional.

Tema 1 — O New York Rangers vai para os playoffs nesta temporada?

Daniel — Vai, mas não por méritos próprios. Acho que mais pela incapacidade dos adversários. Continua claro o desnivelamento entre conferências e é difícil considerar os times da Divisão Sudeste melhores do que os Rangers. O Buffalo Sabres também não é páreo para os Rangers, além do Pittsburgh Penguins, que é um time de liga inferior jogando numa liga nacional.

Marco — Vai, ao menos tem elenco para isso. Continua tendo alguns jogadores desconhecidos e outros produzindo abaixo do que devem, mas não há oito elencos melhores que os Rangers.

Alexandre — Olhando para a classificação atual, eles estão em nono lugar, logo atrás de seu maior rival, o New York Islanders. Elenco para estar entre os oito eles têm, mas acredito que ficarão fora. Atrás deles está o Tampa Bay Lightning que apareceu bem no início da temporada, foi aos playoffs ano passado e pode se recuperar. Dos times que estão à frente deles, apenas o Atlanta é uma surpresa.

Rafael — Vou contra a maioria, acho que eles não vão para os playoffs. Eles estão "embalados", mas graças a uma tabela fácil. Os Rangers não venceram nenhum time de expressão, exceto o Ottawa Senators mês passado e o Detroit Red Wings no começo da temporada. Fora isso só vencem times que não vêm bem. Mesmo tendo um bom elenco, o pessoal lá está jogando muito abaixo do que sabe e isso vai deixá-los de fora mais uma vez.

Marco — Mas a defesa deles melhorou, tem Brian Leetch e Greg DeVries. E Tom Poti parou de fazer besteiras.

Rafael — DeVries está bem abaixo do jogava no Colorado Avalanche.

Marco — Mas é melhor que os purintons que jogavam lá ano passado.

Humberto — Eles devem conseguir a classificação sim. O elenco é irregular, mas há muito talento. É certo que falta um goleiro (Curtis Joseph e Tommy Salo no mercado), mas os Rangers melhoraram em relação ao ano passado. Visivelmente, eles podem competir em um nível maior. Sem falar que não é difícil ir aos playoffs quando se enfrenta os Penguins seis vezes e os times da Divisão Sudeste.

Daniel — Com certeza a defesa melhorou. Mas, apesar do que o Humberto disse, considero Jussi Markkanen e Mike Dunham uma dupla suficiente para levá-los aos playoffs.

Rafael — Dunham também não vem bem. Markkanen tem números melhores que os dele.

Humberto — Você pode ver a evolução do time pelo +/-. Eles terminaram o ano passado com -18. Atualmente estão com +99.

Tema 2 — Pegando um gancho na série de matérias de Marcelo Constantino sobre a crise na NHL, o que vocês fariam para melhorar o jogo?

Daniel — Eu sou bastante tradicionalista, acho que mudanças devem ser as mínimas possíveis. Espero somente a mudança em relação aos salários e no desnível entre os times devido a isso.

Humberto — Eliminar Columbus Blue Jackets, Nashville Predators, Carolina Hurricanes e mais alguns times; mandar Gary Bettman pra lua e convidar Brett Hull para ser o novo comissário. A TV deveria explorar mais o jogo, utilizando a imagem dos jogadores, mostrando ao público como eles são. É uma idéia de Jeremy Roenick, que aliás poderia ser o braço-direito de Hull no comando da liga.

Marco — Fazer com que as vantagens numéricas durem o tempo todo da penalidade e não acabe no gol. Assim, fatalmente chegaria o dia que os caras pensariam duas vezes ao fazer faltas tolas.

Humberto — Marco, mas os juízes marcam faltam inexistentes. Se um erro desses já prejudica e pode definir um jogo, imagine com uma vantagem numérica inexistente de dois minutos inteiros?

Marco — Mas aí cabe à direção da NHL punir os maus árbitros também.

Alexandre — Das idéias que li, uma que achei interessante foi do Paul Kariya: diminuir o espaço entre a rede e as bordas do fundo do gelo. Com o disco atrás do gol, ele dificilmente irá parar dentro da rede. Além do quê, o espaço atrás da rede facilita para os defensores "esconderem" o disco.

Marco — Alex, depois institua a linha de fundo e o escanteio.

Rafael — Eu deixaria o gelo maior, como nas partidas internacionais,
começaria a ser mais rigoroso com faltas e deixaria as vantagens numéricas com tempo integral, como Marco disse. Também aumentaria a zona neutra, para diminuir o número de impedimentos.

Marco — Gelo maior seria impossível, seria necessário diminuir o número de assentos no estádio e os donos não aceitariam isso. As arenas já estão preparadas, elas não estão prontas para isso.

Rafael — Os jogos europeus, segundo tenho lido, são bem mais
emocionantes porque os jogadores têm mais espaço no rinque para criar belas jogadas.

Daniel — São dois estilos bastante diferentes de jogo. Eu particularmente prefiro o jogo com um elemento mais físico, como na NHL.

Rafael — Eu sei que os estilos são diferentes, mas uma coisa que chama o público para os estádios é o gol. Se você notar, pode ate ser coincidência, mas os times com melhores ataques têm as melhores médias de público.

Humberto — Não vejo relação nenhuma nisso. Alguns times enchem suas arenas independentemente se marcam gols ou não.

Daniel — A coincidência é que, quem marca mais gol, ganha mais. E o Minnesota Wild tem uma média de público maravilhosa, jogando naquela eterna armadilha.

Marco — O New Jersey Devils enche a arena porque todo mundo sabe que vai ver um time que joga para se defender, mas vence Copas. E também porque tem um grande goleiro. O Buffalo enchia estádio porque todos queriam ver o Dominik Hasek.

Humberto — O Devils estão longe de encher arena. E são os atuais campeões.

Rafael — Devils não enchem nem 75% da arena. Segundo Joe Sakic, os jogos dos Devils são os mais chatos de se assistir, e isso deve explicar o fato de ser bem raro ter jogos do New Jersey na televisão americana. Mesmo sendo o campeão, nem sua torcida vai ao estádio.

Marco — Pergunto a todos: se mudar a classificação, com três pontos por vitória, incentivaria mais o ataque ou teria o efeito inverso?

Humberto — Provavelmente incentivaria as equipes a buscarem a vitória, mas quando você lida com pessoas do calibre de Jacques Lemaire, nunca se sabe.

Daniel — Desde que colocaram os três pontos no futebol, a diferença não foi tão brutal quanto se desejava.

Rafael — Acho que incentivaria a vitória, mas não a ponto de mudar a atual mentalidade dos times: jogar para não perder ao invés de jogar para vencer.

Daniel — Eu, particularmente, sou fã do jogo defensivo bem aplicado.

Humberto — Eu também não sou desses que quer 11-9. Um 1-0 bem jogado vale muito mais.

Marco — Não precisa ser assim tão alto o placar, mas se os 6-3 fossem mais freqüentes seria mais atraente.

Rafael — Odeio jogo defensivo, chega de 1-0 e 0-0.

Humberto — Um último comentário: reduzir o equipamento dos goleiros é uma opção.

Rafael — Concordo com Humberto.

Daniel — Isso já vem ocorrendo, problema é que as técnicas usadas por eles evoluíram muito.

Tema 3 — O Colorado Avalanche precisa ou não adquirir um goleiro experiente?

Humberto — Não. Eles já têm em David Aebischer um goleiro capaz de levá-los aos playoffs e de ajudar o time na eventual corrida pelas 16 vitórias.

Marco — Acho que se a defesa estiver inteira (Rob Blake, Adam Foote, Martin Skoula...), não há tanto problema porque eles seguram o rojão. E como o Humberto disse, o Aebischer já foi bem preparado para essa situação.

Humberto — Se algum time quiser um goleiro, é melhor investir alguns anos de escolhas no recrutamento e vários bons prospectos para trazer Roberto Luongo. Se ele faz aquilo tudo jogando no Florida Panthers, imagine em um time de verdade.

Alexandre — Aebischer está tendo uma sólida temporada, tem bons números e conquistou a confiança do time e da torcida. É verdade que ele não tem nenhuma experiência em playoffs, mas Patrick Roy também não tinha quando levou o Montreal Canadiens ao título.

Rafael — Acho que Aebischer é um goleiro capaz de vencer jogos, mas não de roubar partidas quase perdidas, ainda. E ele só poderá provar que pode roubar jogos quando a pós-temporada chegar. Ele melhorou muito em relação às temporadas passadas, parece até outro goleiro. Mas acho que os Avs precisam de um goleiro experiente sim, não como titular e sim como reserva. Não creio que os Avs irão contratar algum goleiro experiente, mas deveriam, para dar suporte a Aebischer no vestiário quando os playoffs chegarem.

Humberto — Isso é verdade, um reserva experiente cairia bem nos Avs. Afinal, qualquer problema com Aebischer e os Avs terão um goleiro sem qualquer experiência como titular (Philip Sauve).

Tema 4 — Qual o melhor time na liga hoje e qual será num futuro próximo?

Alexandre — Se tivesse todo material humano saudável, o melhor time seria o Detroit.

Humberto — Não se pode falar em melhor time da atualidade sem citar o Ottawa Senators. Não é o melhor elenco, mas é muito bem organizado.

Marco — Philadelphia Flyers.

Rafael — O time com o melhor ataque é o Avalanche, o Detroit tem a melhor defesa, os Devils têm o melhor goleiro, mas o time que melhor equilibra tudo isso é o Ottawa. Os Senators são o melhor time para mim.

Daniel — Também considero os Senators como o melhor time da liga.

Humberto — Os Flyers perderam um grande goleiro em Roman Cechmanek. Sem goleiro não se vence.

Marco — Cechmanek não era um goleiro seguro. Concordo que sem goleiro não se vence. Hoje eles têm o Jeff Hackett, que também não é isso tudo, mas pode ser aquilo que falta, o restante do time pode garantir as vitórias e não jogar tudo no goleiro.

Humberto — Os números de Cechmanek são indiscutíveis.

Marco — As falhas dele nos playoffs também.

Humberto — Retomando o Avalanche, não concordo que o melhor ataque seja o dele. Os Avs têm duas linhas boas e o resto vai para o lixo. Diversos times têm três ou quatro linhas boas.

Alexandre — Com Steve Konowalchuk e Andrei Nikolishin na terceira linha, esta pode começar a render algo.

Marco — Konowalchuk e Nikolishin são checkers, nada mais que isso. Mas sinceramente, não dá para dizer qual é o melhor ataque da NHL.

Rafael — Quanto ao time do futuro, acho que será o Chicago Blackhawks.

Daniel — Os Panthers têm muito futuro. Vão dominar o leste, assim como os Senators fazem hoje.

Humberto — Concordo plenamente com Daniel, o time do futuro é o Florida Panthers. Os prospectos são muito bons, começaram a evoluir.

Marco — Os Panthers melhoraram muito. Na minha opinião Panthers e Sabres serão os times do futuro.

Rafael — Não vejo essas coisas todas lá. Tirando Kristian Huselius não sobra muita coisa.

Humberto — Tem Stephen Weiss, Jay Bouwmeester e Nathan Horton.

Marco — Tem também Juraj Kolnik, Niklas Hagman e Olli Jokinen.

Rafael — Não consigo achar Jokinen bom jogador.

Daniel — Jokinen é excelente. Se tivesse um verdadeiro garçom em boa fase ao seu lado, ele virava matador.

Marco — E no Chicago, tem quem? Só consigo lembrar do Tyler Arnason.

Rafael — Mark Bell, Kyle Calder, e Steve Sullivan.

Humberto — Eles têm principalmente prospectos que ainda não foram pra NHL. Os Hawks têm profundidade em todas as posições, essa é a chave.

Marco — Calder, esse é bom jogador. Estava querendo lembrar do nome dele.

Humberto — Arnason já é realidade. Em breve teremos os russos Mikhail Yakubov e Pavel Vorobiev.

Daniel — Mas acho que os Islanders também têm futuro. Não é possível que essa série vitoriosa do Bridgeport Sound-Tigers seja pura sorte.

Marco - Os Islanders já estão no futuro. A fermentação já ocorreu, agora tem que começar a colher os resultados. Daqui a pouco começa a ficar sem condições de bancar os salários.

Humberto — O problema dos Islanders é a falta de profundidade. São poucos aqueles jogadores que você olha e diz: "Esse tem potencial para chegar à NHL".

Tema 5 — Qual a maior decepção da temporada até agora?

Humberto — Brett Hull ter errado um pênalti sem sequer conseguir chutar o disco.

Daniel — Eu fico com o típico time Cinderela: Anaheim Mighty Ducks. Não que seja uma decepção, mas esse conto de time que chega à final e depois decai até o ponto mais baixo está enchendo o saco já.

Alexandre — É difícil escolher entre Ducks e o Washington Capitals, mas fico com os Caps. Um elenco que tem nomes como Jaromir Jagr, Olaf Kolzig, Sergei Gonchar e Peter Bondra não deveria ocupar a penúltima colocação no leste.

Marco — Acho que o Dallas Stars é a decepção. Ficou claro como não se adaptou à perda do Derian Hatcher. Um time com Mike Modano, Sergei Zubov e outros não pode ficar tão mal assim também.

Rafael — Fico na dúvida entre os dois últimos, mas escolho os Capitals.

Marco — Caps já tinham dado mostras de fragilidade nos playoffs passados quando caíram feio para o Lightning.

Rafael — Tinha dado mostra de fragilidade, mas não a ponto se tornar o pior time da NHL. O elenco deles é melhor do que a posição mostra.

Encerra-se aqui a primeira mesa redonda da The Slot BR. A conversa demonstrou ser bastante produtiva e por isso esperamos que os leitores também aprovem a idéia, afinal, esse tipo de recurso permite a análise de um mesmo assunto por vários ângulos. Que esse seja o primeiro de muitos debates!