Por
Marcelo Constantino
Na temporada passada nós observamos o calvário do goleiro José Théodore,
MVP do ano anterior, que esteve péssimo e foi determinante para a não
classificação do Montreal Canadiens para os playoffs. Observamos também
a ascensão de outro goleiro à elite, Jean-Sébastien Giguere, até então
muito pouco conhecido na liga. Ele liderou o Anaheim Mighty Ducks a
uma mágica campanha nos playoffs, chegando ao jogo 7 das finais da Copa
Stanley.
Mudou a temporada e mudou a posição de cada um na gangorra. Giguere
amarga o início pavoroso dos seus Mighty Ducks, enquanto Théodore parece
ter recuperado aquela forma que o levou a ser reconhecido como o MVP
de 2002.
É bem verdade que não se pode culpar Giguere por qualquer uma das derrotas
que o Anaheim sofreu até aqui. De certa forma ele tem feito sua parte,
mas falta aquele brilho do goleiro que conquistou vitórias e números
inacreditáveis nos playoffs até ser campeão da Conferência Oeste. Era
disparado o que mais via borracha pela frente e, ainda assim, era o
que apresentava os melhores números. As vitórias nas séries contra os
Wings, Stars e Wild já lhe valeram antecipadamente o Troféu Conn Smythe,
como o jogador mais importante dos playoffs, mesmo estando no time que
não foi o campeão.
A magia que acompanhou Giguere até a final contra o Minnesota Wild já
havia se dissipado nas finais da Copa, esta é a verdade. Adicione a
isso a velha cantilena de que todo time azarão que faz uma bela campanha
nos playoffs e perde no fim, faz uma péssima temporada no ano seguinte,
e temos o Anaheim de hoje. Foi assim recentemente com Florida Panthers,
Washington Capitals e Carolina Hurricanes. Tem sido assim nesta temporada
com os Ducks e o Wild. Claro, ainda é cedo para qualquer indicativo
mais eficaz, mas o fato é que Giguere está em baixa.
E quem está em alta novamente é José Théodore, com seu Montreal Canadiens.
Ele é a chave do time mais tradicional e vitorioso da NHL, que, de certa
forma surpreende neste começo. Depois de uma péssima campanha e sem
adição de reforços, o time tem em Théodore novamente o líder a guiar
rumo aos playoffs.
Em 2001-2002 ele liderou os Canadiens rumo aos playoffs, onde eliminaram
o Boston Bruins, primeiro colocado na Conferência. Com números expressivos
na temporada (GAA de 2,11 e 93,1% de aproveitamento de defesas) e atuações
mais ainda, ele acabou vencendo os Troféus Hart e Vezina, e isso numa
temporada que foi uma das melhores da carreira de um goleiro chamado
Patrick Roy. Era sua consagração individual.
Veio a temporada seguinte, um novo e gordo contrato para os padrões
canadenses, e uma nuvem negra instalou-se permanentemente sobre sua
cabeça. Atuações fracas, chutes defensáveis entrando, derrotas. Jeff
Hackett, seu reserva durante boa parte da temporada, ganhava cada vez
mais tempo de jogo e geralmente fazia bonito. Nada parecia dar certo
para Theo.
A temporada passada foi tão ruim para ele que alguns já o consideravam
disponível para ser negociado este ano, chegando a fazer torcedores
dos Avs sonharem. A gerência repetia que isso não aconteceria, por preço
algum, mas boatos não respeitam declarações. Théodore perdeu onze partidas
a mais do que venceu e terminou com números ruins para seu porte: GAA
de 2,89 e 90,8 % de aproveitamento. Como ele era a chave do sucesso
do time, os Canadiens não abriram porta alguma e não foram aos playoffs.
José Théodore apresentou-se para esta temporada na melhor forma em que
já esteve, graças a um programa especial de condicionamento físico exercitado
nas férias. E despontou com um bom começo. Vitórias, atuações sólidas,
shutouts.
Já são dois shutouts acumulados, exatamente a mesma quantidade obtida
em toda a temporada de 2002-2003. Sim, esta temporada tem tudo para
bater o recorde de quantidade de zeros no placar, mas, ainda assim,
é um bom indicativo de que o ano passado é para ser esquecido.
No fechamento desta edição, na segunda-feira, Theo estava com GAA de
2,38 e aproveitamento de defesas de 91,3%, números bons, porém já bastante
arranhados pelas duas goleadas seguidas sofridas recentemente, por 6-2
frente ao Senators e 5-0 frente aos Flyers.
As duas derrotas recentes demonstram que ajustes são necessários, ainda
que deva ser levado em consideração que o time dos Habs é realmente
bem inferior a Sens e Flyers. Na temporada MVP de Théodore, ele também
passou por maus momentos no início, como numa série de quatro derrotas
seguidas entre outubro e novembro de 2002, em que o time marcou apenas
quatro gols e sofreu 18.
Tal qual 2001-2002, ele vem sendo o principal jogador do time, constantemente
figurando entre as três estrelas dos jogos dos Habs. Na quinta-feira
passada os Canadiens receberam os Islanders em Montreal. A defesa jogou
mal e permitiu 34 chutes contra o gol de Théodore, sendo 17 deles no
terceiro período, enquanto o time disparou apenas 21 sobre o goleiro
Rick DiPietro. A partida foi dominada amplamente pelo time de Long Island.
O resultado? Montreal 3-0. Isso mesmo, shutout para Théodore, seu segundo
na temporada. Possivelmente seu melhor momento este ano. Estrela número
um da partida.
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Marcelo
Constantino já estava com esta matéria praticamente
pronta antes de José Théodore sofrer 11 gols em
duas partidas, seis contra os Senators no sábado e mais
cinco contra os Flyers na segunda-feira. Não queime a fita,
Theo! |
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