Por
Eduardo Costa
Quer uma coisa para se preocupar além da provável paralisação da NHL
dentro de bem pouco tempo? É que ela ajudará a acelerar o processo de
aposentadoria de Mario Lemieux, Steve Yzerman, Mark Messier (se bem
que esse, com todo respeito, já parou e não avisou), Al MacInnis entre
outros ídolos da NHL. Sem falar de Peter Forsberg e Nicklas Lidstrom
que podem retornar para o Velho Continente.
Por isso tudo esse recém terminado recrutamento ganhou tanta importância.
Por tudo que foi dito sobre ele, de toda a profundidade que os olheiros
falaram, é dele que se espera que saiam as "peças de reposição" da liga
para os próximos anos.
Mas vários fatores que tornam difícil analisar esses prospectos. Evidente
que a distância é o primeiro. Mal assistimos partidas da NHL, que dirá
das três grandes ligas juniores canadenses, da NCAA e das ligas européias.
De onde saem a imensa maioria dos recrutados.
Outro é um fator pessoal. Eu aqui, 23 anos nas costas, catando milho
no teclado e fazendo obscuros comentários sobre a NHL para meus três
e meio leitores, enquanto jovens com bem menos idade já visualizam belos
contratos na NHL, já dão entrevistas para a ESPN... Onde foi que eu
errei? Ah lembrei! Maldito dia, doze anos atrás, quando preferi uma
camisa do Fluminense a um par de patins naquela maldita Lojas Americanas.
Se o Rumun Ndur conseguiu eu também conseguiria, afinal aqui faz menos
calor que na Nigéria. Mas chega de lamentações, antes que meus amigos
leitores apertem aquele "X" no canto superior direito da tela.
Vamos ao recrutamento desse ano.
Ao contrário dos últimos anos, esse recrutamento foi dominado por canadenses
e americanos. Apenas dois alunos da escola soviética foram selecionados
na primeira rodada. Ambos frutos do HC CSKA Moscou.
A equipe do CSKA ganhou fama como a equipe do exército russo e, como
ninguém mandava mais que os militares na antiga União Soviética, eles
possuíam os melhores jogadores disponíveis. Quem se recusasse a atuar
pela equipe era simplesmente mandado para a Sibéria ou obrigado a virar
motorista de teste para Lada. Todos os grande passaram por lá: Slava
Fetisov, Valeri Kharlamov, Vladislav Tretiak, Igor Larionov, Sergei
Makarov, Vladimir Krutov, Pavel Bure, Sergei Fedorov, Sergei Zubov,
Alexander Mogilny, entre muito outros.
Após a queda do regime comunista a equipe se enfraqueceu e viu seu rival
moscovita Dínamo (o time da KGB) passar a dominar a cena local e posteriormente
viu o crescimento das equipes do interior como Metallurg Magnitogorsk,
Ak Bars, Lada Togliatti e Torpedo Yaroslavl.
A única coisa que se manteve no CSKA além das lembranças dos tempos
de glória, foi o "ditador" Viktor Vasilievich Tikhonov. O treinador
cujo nome causa arrepios até hoje em jogadores como Kasparaitis e Larionov,
que tiveram o ancião como treinador na seleção russa nos anos 80 e 90.
Curiosamente foi a vontade de ser treinado por Tikhonov que levou Nikolai
Zherdev a escolher o CSKA para atuar. O jogador viu que poderia aprender
o mesmo que os consagrados jogadores citados acima aprenderam com o
treinador.
Fui buscar informações do Zherdev, de apenas 18 anos de idade, em um
fórum sobre hóquei russo. Passaram-me tantos elogios sobre o rapaz que
me fez crer por um momento que se tratava de uma mistura de Wayne Gretzky,
Mario Lemieux e Pavel Bure.
Mas vamos ao que mais se aproxima do normal.
Nikolai Zherdev esteve por muito tempo no topo da lista dos olheiros
da NHL, mas foi apenas o quarto selecionado (Columbus Blue Jackets).
O principal motivo disso se deve ao seu poder ofensivo. Fiel ao estilo
da escola russa (na verdade ele é ucraniano, mas dá no mesmo) sua habilidade
para controlar o disco é sua maior virtude. Isso aliado à sua velocidade
e controle do tempo da jogada o torna sempre uma referência para os
companheiros.
No CSKA trabalhou sua maior deficiência que era segurar demais o disco.
Por ser fominha ele enfrentou problemas no último mundial júnior (que
sua The Slot BR cobriu com exclusividade para toda América Latina) e
teve reduzido tempo de gelo. Mesmo assim teve sua importância na conquista
do ouro pela sua seleção. Tamanho ainda é uma preocupação, mas os Blue
Jackets já disseram ter um planejamento para que o russo ganhe mais
força muscular e se torne menos propício a contusões quando for enfrentar
os marcadores norte-americanos.
Em sua última temporada na liga russa ele contabilizou 12 gols e o mesmo
número de assistências em 44 partidas. Segundo o treinador e gerente
geral dos Blue Jackets, Zherdev era mesmo a preferência da equipe antes
do recrutamento.
O outro membro do CSKA selecionado na primeira rodada é Andrei Kastsitsyn,
também de apenas 18 anos. Selecionado 10.º geral pelos tradicionais
Montreal Canadiens, o atacante estava bem ranqueado pelos olheiros da
liga e apenas o fato de sofrer de epilepsia deixava uma grande interrogação
sobre sua possível escolha.
Bielorusso, o jogador esteve no Canadá nesse ano para exames com um
médico em Toronto que avaliou suas condições. Os resultados positivos
certamente ajudaram na decisão de Bob Gainey e cia. de contar com o
jogador.
Assim como Zherdev, ele precisa se ajustar ao jogo mais físico da NHL.
Como destaque tem sua velocidade, considerada acima da média. Apesar
de pequeno não teme jogar em meio ao tráfego intenso na frente do gol
adversário. Bom chute é outra de suas qualidades. Teve muito pouco tempo
de gelo na liga russa, mas foi um dos líderes da Bielorússia nos mundiais
sub-20 e sub-18 nos últimos dois anos.
Os dois ajudaram no renascimento do CSKA no cenário russo e levaram
de volta os torcedores à arena, e, como devem ficar pelo menos mais
uma temporada da equipe, a promessa é que o time brigue por algo mais
do que se manter entre os dez primeiros no próximo ano. Depois sim será
a vez de pensar na NHL. A julgar pelo sucesso dos atletas que vestiram
a camisa da equipe moscovita e hoje atuam na NHL, o futuro parece promissor
para ambos.
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Eduardo Costa aproveita essa última edição da temporada e agradece
a todos os amigos que prestigiaram a Slot nesse período, dos colaboradores
aos ilustres leitores. Valeu galera! |
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NIKOLAI ZHERDEV Jogador de
Kiev, Ucrânia, veste a camisa do Columbus Blue Jackets depois
de ser recrutado (Ryan Remiorz/AP - 21/06/2003) |
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ANDREI KASTSITSYN O jogador
bielorusso veste o uniforme e o boné do Montreal Canadiens
(Ryan Remiorz/AP - 21/06/2003) |
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