Por
Marco Aurelio Lopes
Todo ano, um novo campeão é coroado com a Stanley Cup,
jogadores revelações surgem, veteranos dão um último
gás e mostram que ainda têm o que mostrar, equipes pouco
cotadas surpreendem nos playoffs etc., etc., etc. Mas há que
se levar em conta também que, por trás de toda esta alegria,
não podemos negar que sempre que uma nova temporada começa,
expectativas que são criadas em torno de equipes e jogadores
acabam não sendo correspondidas.
Assim, com o término da temporada 2002-03, a exemplo das escolhas
dos melhores da temporada, vou fazer uma pequena seleção
das decepções, mencionando alguns nomes que você
(e nós também) certamente imaginava que fariam furor,
e que nos deixaram a ver navios. A eles.
Curtis Joseph -– Talvez a maior decepção
da temporada. Contratado a peso de ouro para manter a hegemonia dos
Red Wings, substituindo o recém-aposentado Dominik Hasek (que
encerrou a carreira após o título de 2002), CuJo simplesmente
não conseguiu em momento algum lembrar o "Dominador"
ou mesmo suas performances muitas vezes espetaculares dos tempos de
Toronto. Ao contrário, uma sucessão de falhas gritantes,
rebotes tolos e erros que por muitas vezes custaram vitórias
aos Wings. Nos playoffs, quando se podia imaginar um novo Joseph, mais
desilusão, com a eliminação precoce dos campeões
para o (então) modesto Anaheim. Falta de experiência não
pode ser fator para um goleiro que já caminha para a aposentadoria.
Peso de responsabilidade? Pode ser. Mas que em 2003-04 isso não
se repita, pois, com Manny Legace amadurecendo, os dias de CuJo em Detroit
estarão contados.
Carolina Hurricanes -– Tudo bem que, já em 2002,
os Canes eram um azarão, mas, já que o time chegou às
finais, o mínimo que se podia imaginar era que o Carolina brigaria
por uma vaga nos playoffs (ainda mais na fraca Divisão Sudeste).
Ledo engano... O time, que conta com os experientes Ron Francis, Rod
Brind'Amour e Bret Hedican, simplesmente foi uma caricatura e, após
perder, via trocas, Sami Kapanen e Glen Wesley, além da situação
indefinida quanto ao técnico Paul Maurice e o rodízio
constante entre os goleiros Arturs Irbe e Kevin Weekes, o que se viu
foi um grupo que nunca ameaçou ficar "entre os oito".
Talvez no que tenha sido a maior queda de uma equipe na história
da NHL, o time de Raleigh conseguiu pasmem passar de vice-campeão
a lanterna absoluto da liga, ficando em 30.º lugar entre as 30
equipes da NHL. Certamente não era isso que os torcedores que
assistiram seu filme na final passada queriam ou imaginavam.
San Jose Sharks -– Um time que tinha Nabokov no gol, Stuart
na defesa, Nolan, Damphousse e Selanne no ataque fatalmente estaria
entre os favoritos em qualquer previsão sobre possíveis
finalistas da NHL. Mas o tubarão afundou e feio. Dentro
e fora do gelo. Um time que jamais conseguiu sair das últimas
posições na Conferência Oeste, mesmo com a chegada
do desejado xerife Kyle McLaren, parecia mais um bando que uma equipe.
Sobrou para o técnico Darryl Sutter, que sequer emplacou 2003
no comando da equipe, dando lugar ao defensivo Ron Wilson, e até
para o bastante conceituado gerente geral Dean Lombardi (sempre tido
como um dos melhores da liga), que montou um ótimo plantel ao
longo dos anos, com boas trocas, contratações e recrutamentos.
No gelo, após ver a temporada ruindo, a última vítima
foi o capitão Owen Nolan, que marchou para Toronto (onde, aliás,
também não vingou), em busca de um título que os
Sharks certamente não conseguiriam.
Tony Amonte -– Talvez o mais cobiçado entre os agentes
livres na última pré-temporada, o formidável atacante
trocou a passividade do Chicago pelo ambicioso projeto de Wayne Gretzky
e seu Phoenix Coyotes, na busca de ser o líder de um time de
jovens e levá-los, quem sabe, a uma final de Stanley Cup. Mas
o sonho virou pesadelo: a inexperiência dos Coyotes falou mais
alto, e Amonte não foi o atacante incisivo e matador de outros
tempos. Para sua sorte, veio o chamado do Philadelphia Flyers, onde
poderia realmente competir pelo título em uma equipe já
formada e que contava com LeClair e Recchi em suas linhas. No entanto,
mais uma vez Amonte decepcionou, seguindo a trilha deixada em Phoenix
e sem produzir o que dele se esperava. Os Flyers não foram longe
de novo nos playoffs, e Amonte, em uma de suas piores
temporadas, nada pôde fazer para evitar o fato. Mas seu passado
ainda o deixa com crédito.
Equipes de expansão -– Claro que não se exige
que equipes tão jovens quanto estas briguem pela Stanley Cup,
mas, ao mesmo tempo, com ao menos três temporadas disputadas em
suas histórias, Blue Jackets, Thrashers e Predators ainda não
conseguiram sequer causar um "alvoroço" na classificação
e na briga por vagas aos playoffs. Pelo contrário, estas equipes
vêm constantemente ocupando a parte mais baixa da tabela. Das
três, apenas os Predators conseguiram por vezes ameaçar
chegar pela primeira vez aos playoffs, para rapidamente voltar a despencar.
Entrando em mais uma temporada, já está na hora de essas
equipes brigarem mais e deixarem de desapontar a torcida, que rapidamente
pode perder sua paciência. Para piorar as coisas, o Minnesota
Wild, que em três anos já chegou a uma final de conferência,
pode ser um parâmetro desafiador a essas equipes.
As estrelas de 2002 -– Poucos imaginavam que o artilheiro
e o melhor goleiro da temporada de 2002 simplesmente desapareceriam
na temporada seguinte. Pois Jarome Iginla e José Théodore
foram meras sombras do que foram há um ano. Iginla, confinado
em um Calgary Flames que jamais parece retomar o rumo, nunca pareceu
que chegaria a repetir a temporada com mais de 50 gols, totalizando
apenas uma fração disso (o que também pode ser
explicado, ao menos em parte, pela saída de seu parceiro no ataque,
Dean McAmmond, que partira para Colorado na pré-temporada). Théodore,
que fora comparado a Roy (ou ao menos apontado como legítimo
sucessor), também foi vítima da mediocridade do Montreal
Canadiens, que parecia ver nele o pilar que o levaria mais uma vez aos
playoffs, mas esqueceram que goleiro sozinho não leva taça.
Com um fraco elenco à sua frente, Théodore jamais provou
ser candidato ao bis do Vezina e ainda viu por muito tempo seu reserva
Jeff Hackett ser mais consistente, brigando de igual para igual pela
vaga de titular. Para sua sorte, ao menos, Hackett acabou indo parar
em Boston.
Os gastões de sempre -– Claro que, para montar um
time vencedor, é preciso uma boa quantidade de dólares
nos cofres para manter ou trazer novos craques. Porém, em Toronto
e em Nova York, entra ano e sai ano, dois dos times mais ricos da NHL
continuam a torrar dinheiro em contratações muitas vezes
furadas (Nolan? Holik?) e que não trazem a tão sonhada
taça. Para o Toronto, a espera já vai a mais de 30 anos,
enquanto nos lados dos Rangers já se vão mais de cinco
anos sem sequer chegar aos playoffs. Prova que comprar jogadores simplesmente
porque se tem cacife não é o caminho para construir um
vencedor. Os Leafs vêm investindo em veteranos em final de carreira,
que parecem não agüentar mais o tranco de uma pós-temporada
(Belfour talvez tenha sido a exceção, após uma
brilhante campanha). Já o caso dos Rangers parece mais grave
ainda. De uma leva só, Kasparaitis, Holik e Kovalev, jogadores
caríssimos que não repetiram as boas temporadas de outros
clubes, e só aumentaram a folha salarial do Rangers e a frustração
da torcida. Outra equipe que começa a merecer uma nota nesta
seção é o Washington, de Bondra, Jagr e Kolzig,
que investiu altíssimo em um jogador mediano como Robert Lang
e mais uma vez morreu na praia.
Além desses exemplos clássicos de decepções
na temporada 2002-03, ainda há que se notar outras decepções,
que, embora não tenham sido determinantes na temporada, acabaram
por entristecer suas torcidas.
Antigos campeões -– É uma pena ver equipes
que já tiveram a glória de erguer a Stanley Cup sofrendo
com a falta de bons elencos (muitas vezes causada pela falta de verbas)
e sem a menor chance de sequer disputar uma vaga nos playoffs. Assim,
Calgary, Chicago e Pittsburgh parecem caminhar rumo a um abismo de que
é difícil sair. Sem equipes fortes e sem condição
de manter seus principais jogadores, estas equipes parecem fadadas a
simplesmente fazer número na NHL. No caso de Calgary e Pittsburgh,
então, talvez a saída seja a mudança para outra
cidade, onde possam ter times capazes de voltar às glórias
de campanhas passadas.
Favoritos no meio do caminho -– Quem imaginaria que Detroit
e Colorado sairiam logo na primeira rodada? Ou que Dallas e Philadelphia
cairiam antes da final de conferência? Sem dúvida, estas
equipes, que certamente estavam cotadas para chegar ao título,
foram as grandes decepções dos playoffs, ao não
conseguirem superar equipes emergentes, como Anaheim e Minnesota. No
caso do Philadelphia, a decepção foi por mais uma vez
não ter ido tão longe quanto seu elenco supunha. Mas a
derrota acachapante para o Ottawa Senators fez a torcida em Philadelphia
voltar para casa mais cedo, de novo. E, por que não?, os Senators
também podem ser considerados uma decepção, já
que, sendo o melhor time da temporada regular e chegando às finais
de conferência como favoritos para chegar à sua primeira
Stanley Cup, acabaram sendo frustrados mais uma vez, agora frente ao
New Jersey Devils, em plena Ottawa, no jogo decisivo.
Certamente você deve ter suas indicações para a
decepção da temporada. Mas certamente você vai concordar
que aqui temos alguns nomes para, digamos, iniciar o debate. Agora,
é relembrar a temporada e parar para lembrar o que você
achava que aconteceria e não se concretizou. Só espero
mesmo é que você não tenha se decepcionado com a
temporada. Até a próxima!
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Marco Aurelio Lopes, de 27 anos, está muito decepcionado
com a situação de seu Pittsburgh Penguins, mas espera
que em breve Super Mario possa levá-lo de volta à
"Terra Prometida" – as finais da Stanley Cup. |
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