Por
Alexandre Giesbrecht
Desta vez, sem jogo 7 de 1994 antes das finais. Desta vez, eu estava
preparado para o jogo 7 do ano que aparece no meu calendário.
Eu tinha a certeza de que iríamos para a prorrogação,
a primeira em jogo 7 das finais em 49 anos.
Algo que eu imaginava ser como o jogo 7 entre Penguins e Sabres nas
semifinais de conferência de 2001. Um jogaço, que foi para
a prorrogação e lá foi decidido pelo mais improvável
dos heróis, Darius Kasparaitis. A emoção de fazer
gol ou ser eliminado instantaneamente por um gol do adversário.
Era isso que eu esperava. Ao invés disso, assisti a um time acanhado,
tentando de todas as maneiras adiar o inevitável. Os Devils nem
precisaram ser chatos embora não tenham perdido a oportunidade
de ser para levar esse jogo, e, com ele, a taça. Não.
Um outro herói improvável, Mike Rupp, decidiu tudo com
o desvio de um chute de Scott Niedermayer.
Ali eu tive certeza de que a Stanley Cup de 2003 passou a ter dono.
Os gols que vieram depois, que também tiveram o dedo de Rupp
(com duas assistências), foram mera formalidade. A torcida, que
daqui a quatro meses terá se esquecido de que os Devils existem,
comemorava, embora não tão apaixonadamente quanto a torcida
de Montreal comemorou em 1993, a mais esfusiante demonstração
de carinho de uma torcida que já vi.
Menciono a decisão de dez anos atrás porque a comemoração
dos Devils começou a dez segundos do fim, atrás do gol
de Martin Brodeur. A dos Canadiens começou também com
antecedência de quase dez segundos, embora mais para o meio do
gelo. Quer coisa melhor do que comemorar um título que você
sabe que já veio, mesmo antes da buzina final? Mesmo que o disco
sobrasse no taco de algum jogador dos Ducks, este não teria a
coragem, a petulância e a estupidez para mandá-lo na direção
do gol de Brodeur.
Outro acontecimento que me deixou com uma sensação de
dèja-vu foi a entrega do Troféu Conn Smythe a Jean-Sébastien
Giguere, o goleiro vice-campeão. Não foi nenhuma novidade,
claro, pois já aconteceu no passado, mas a única vez que
vi a performance de um jogador vice-campeão merecer consideração
para o Conn Smythe foi em 1994.
Naquele ano, Pavel Bure, então nos Canucks, só não
levou o Conn Smythe porque Brian Leetch realmente mereceu pelos Rangers
(isso sem falar em Mark Messier, que, na falta de Leetch, poderia ganhá-lo)
e porque ele não foi o único grande responsável
pela bela campanha do time de Vancouver: o goleiro Kirk MacLean também
foi bastante importante.
Aliás, todas essas memórias de decisões de Stanley
Cup da última década me fazer pensar qual será
o futuro deste time dos Mighty Ducks. Afinal, nas 12 decisões
anteriores, sempre que uma zebra chega à final seu futuro não
é dos mais brilhantes. A única exceção?
Os Devils de 1995, os únicos da minha lista a ganharem o título,
que, ainda assim, ficaram de fora dos playoffs na temporada seguinte.
Estou me referindo aos North Stars de 1991, que só foi chegar
às finais novamente em 1999, já como Dallas, aos Kings
de 1993, que ficaram de fora dos playoffs por anos a fio e até
hoje não chegaram sequer perto de uma final, aos Canucks de 1994,
que só agora começam a ser respeitados, mas não
têm feito grandes campanhas nos playoffs, aos Panthers de 1996,
aos Capitals de 1998, aos Sabres de 1999, que inclusive estão
em concordata, e, principalmente, aos Hurricanes do ano passado, que
amargaram o fiasco de cair para a 30.ª e última posição
na NHL.
Seria esse o destino dos Ducks? Ainda é difícil dizer,
porque não se sabe como serão os moldes da NHL a partir
da metade do ano que vem, quando as negociações do acordo
coletivo de trabalho prometem pegar fogo. Tudo indica que, se for mantido
o mesmo grupo, o time pode fazer uma campanha melhor na temporada regular
e disputar até o título da sua divisão. Mas nem
isso é garantia, já que os Canucks de 1995 mantiveram
a mesma base do time vice-campeão do ano anterior, e nem isso
garantiu sucesso nos playoffs.
Enquanto isso, os Devils não estão muito preocupados com
mais nada. Bebendo champanhe direto da Stanley Cup, por que se preocupariam?
Ter um GG como Lou Lamoriello, que faz milagres com um orçamento
razoavelmente limitado, é quase uma garantia de sucesso. O time
continua chato e burocrático, mas vence. Vence e continua sem
torcida. Os mesmos que lotaram a Continental Airlines Arena nas finais
(e só nas finais) dificilmente vão ocupar os lugares na
próxima temporada regular.
E não estou falando de um time que foi uma surpresa. Todos sabiam
que os Devils eram sérios candidatos ao título, e o segundo
lugar no Leste só confirmou essa teoria. Ainda assim, o número
de vezes que o time lotou o estádio nos 82 jogos da temporada
regular é igual ao número de Stanley Cups que eles agora
têm na sala de troféus: três.
Estranho, não?
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Alexandre
Giesbrecht, publicitário, está decepcionado com
a escolha de Ed Olczyk como técnico dos Penguins. |
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DEPOIS DO JOGO O goleiro ganhador
da Stanley Cup cumprimenta o goleiro ganhador do Troféu Conn
Smythe: numa decisão com dèja-vu, o futuro é
uma incógnita (Charles Krupa/AP - 09/06/2003) |
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