Por
Bruno Bernardo
Sem TV a cabo em casa, minha única chance de ver esse jogo foi
apelar para minha querida avozinha. Cheguei à casa dela por volta
das seis horas e, após uma dose cavalar de Belmont Stakes (foram
umas duas horas de programação para uma corrida que durou
uns três minutos; pelo menos era um lugar bonito) e de pão
com mortadela (realmente, estava esperando mais do jantar da vovó),
vamos ao jogo.
Uma bela abertura da ABC. Digamos que fiquei um pouco surpreso ao ver
figuras como Chris Berman numa transmissão de hóquei,
e me assustei com o nariz do Barry Melrose.
Na arena, tínhamos David Hasselhoff, Mike Myers, Meg Ryan, Cuba
Gooding Jr. e o primeiro técnico dos Ducks, Emilio Esteves. No
quarto da televisão, eu, a cadeira de balanço e minha
amiga Natasha, com duas pedrinhas de gelo.
Logo no inicio do primeiro período, os Ducks atacam a todo vapor,
e o chute de Rucchin bate em Stevens e entra no gol: 1-0 para o Anaheim.
Logo após Stevenson perde uma chance incrível, numa “semi-rede-vazia”.
Não pude deixar de notar a boa marcação que Salei
fazia nos contra-ataques dos Devils. Giguere fez umas boas defesas no
primeiro período. A primeira vantagem numérica do Anaheim
gerou três chutes a gol, e os Devils procuravam o gol de empate.
Kariya vinha sendo bem marcado, até que, num lance oportunista,
passa o disco para Rucchin marcar seu segundo gol da partida, no canto
direito de Brodeur, a meia altura.
Uma paradinha de intervalo comercial, e fui até a despensa procurar
alguns amendoins, pistaches, castanhas ou assemelhados, sem sucesso.
Quando volto, vejo uma briga entre Langenbrunner e Salei. O primeiro
leva uma dupla penalidade menor, ou seja: quatro minutos no banco de
penalidades. Salei só leva dois.
A penalidade estúpida cometida por Langen transforma-se num gol
dos Ducks. Kariya acerta a trave e Thomas marca no rebote.
Kariya, a essa altura, já vinha se destacando como uma das estrelas
da partida, afinal ele não teve nenhum ponto nos quatro primeiros
jogos e só nesta partida já tinha dois.
Fim do primeiro período, e a Natasha, como quase toda mulher,
continuava gostosa, e, assim como elas, já começava a
me dar uma dor de cabeça desgraçada. Achei melhor parar
com ela um pouco, e chamei meu amigo Johnnie Walker (que usava uma roupa
vermelha), para ver se a dor de cabeça melhorava um pouco.
O Anaheim estava com 3-0 ao fim do primeiro período. Eles jogavam
com paixão e ganhavam a maioria das jogadas divididas, sendo
que dois gols foram resultado disso.
Começo do segundo período. New Jersey em vantagem numérica,
e Madden jogando com 16 pontos no rosto. Isso mostra a garra deste jogador,
garra que foi fundamental no primeiro gol dos Devils: após uma
dividida atrás do gol, Madden passa o disco para Pandolfo, que
diminui para o time da terra de Bon Jovi.
Outro jogador que me chamava a atenção era Keith Carney:
vez por outra, ele tentava algo na zona ofensiva e fazia uma excelente
marcação. Giguere continuava bem, fazendo defesas difíceis
até em discos sendo desviados duas vezes na mesma jogada.
Daí vem o susto. Stevens acerta Kariya no meio da zona neutra,
e o atacante dos Ducks cai, imóvel, no centro do gelo. Ele já
tem um passado com problemas de concussões, então a situação
era um pouco preocupante, porém ele consegue se levantar sozinho
e vai para o vestiário.
Outra pausa para o intervalo, e fui fazer um Irish Coffee. Café,
whisky e creme de leite (essa é a versão light do drink).
Langenbrunner comete outra falta desnecessária em plena zona
defensiva, e os Ducks vão outra vez para a vantagem numérica.
Desta vez, os Devils não se intimidaram com a falta de um homem
no gelo e até pressionaram um pouco. O time da casa só
conseguiu dar um chute.
Stevens continua desgovernado no gelo. Seu jogo é inteligente,
dá trancos e não comete muitas penalidades. Com isso,
dá uma moral para seu time ele estava com seis trancos
a essa altura do jogo. Só que dessa vez as coisas não
saíram do jeito que ele queria. Kariya voltou ao gelo, intacto,
e, alguns minutos depois, participaria de uma jogada que quase deu o
quarto gol aos Ducks, só que o disco acertou a trave.
A tática de Mike Babcock, técnico dos Ducks, era de defender
na zona ofensiva, e Carney continuava fazendo isso muito bem.
O jogo estava muito empolgante, com chances para lá e para cá,
até que, numa sobra, Kariya ele mesmo deu um chute
que mais pareceu um laser da linha azul e marcou um golaço. Brodeur
está procurando o disco até agora.
Kariya ainda tentou o mesmo lance no final do período, mas, desta
vez, o goleiro dos Devils fez boa defesa.
Fim do período. Assistindo a um anuncio da Lacoste, deu-me uma
baita saudade da Natasha, mas ainda estávamos nervosos um com
o outro. Fui então pedir alguns conselhos ao Velho Barreiro,
que, dizem, é um bom psicólogo de bar.
Tive a oportunidade de ver um pouco do filme "Miracle on ice",
que fala sobre a vitória americana em Lake Placid, em cima dos
soviéticos. Será que lançam por essas bandas? Bom,
isso é outro assunto.
Voltando ao terceiro período, teriam os Devils a chance de voltar
ao jogo? Quando Sykora fez o gol para os Ducks, tive a resposta.
Daí para a frente, o jogo foi administrado, mas foi um bom jogo.
Brodeur foi substituído por Corey Schwab, claramente para poupar
o titular para o jogo 7.
O New Jersey ainda faria mais um gol, com Marshall desviando um chute
de Rafalski.
Ao final da partida, algumas considerações:
- Que placa era aquela anunciando as finais da NBA em plena Stanley
Cup? Que mau gosto!
- Todos os jogos foram vencidos pelo time da casa. Isso significa que
os Devils vão vencer o próximo, certo? Quem sabe?
- Nieuwendyk estava no aquecimento, mas não o vi o jogo inteiro.
- Kariya, que entre os jogos 1 e 5 tinha apenas uma assistência
e um mais/menos de 0, teve um gol, duas assistências e +2 no jogo
6.
- Oates, sumido: não vi ele tocar no disco.
As três estrelas da partida, na minha opinião, foram:
3 - Keith Carney: indo para o ataque, dando bons passes e fazendo boas
marcações na defesa, tendo calma quando necessário.
2 - Steve Rucchin: dois gols, uma assistência. Ponto.
1 - Paul Kariya: levou tranco, fez gol, deu assistência. Ele foi
a primeira escolha da história do Anaheim, e apareceu quando
o time mais precisava dele.
Três horas depois do início do jogo, estava na hora de
ir, feliz, claro, pois iria ver mais um jogo nesta temporada. Natasha
e eu deixamos nossas diferenças de lado e resolvemos dar uma
esticada juntos. Dei boa noite ao simpático elefante cor de rosa
que se sentava ao meu lado e saí de fininho da casa da vovó.
Ela já estava dormindo, e não quis acordá-la.
Deixei um bilhete dizendo: "Vó, segunda-feira eu volto.
Por favor, desta vez sem mortadela, tá? Beijos!"
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Bruno Bernardo adora a sua avozinha. |
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