Por
Marcelo Constantino
Eu acordei nas madrugadas de terça e quinta-feira da semana passada
para assistir aos jogos 1 e 2 das finais. Só mesmo sendo muito fanático
para dormir mais cedo, acordar de madrugada, voltar a dormir, acordar
às 6 da manhã pra trabalhar; tudo isso para assistir às finais da Stanley
Cup de madrugada, em que nenhum dos times que a disputa é o seu time.
Digo fanático porque as finais estavam um porre. Depois do jogo
2 eu fui dormir pensando: "Os analistas tinham razão, Alexandre Giesbrecht
tinha razão (com exceção da afirmativa de que as proteções de peito
de Giguere são ilegais), as finais estão insuportáveis". As pessoas
sempre lembram, Bruno Bernardo é um deles, que as finais de 1999 entre
Dallas Stars e Buffalo Sabres, foram as piores da última década. Concordo
plenamente. Fiquei com saudade daquelas finais. As desse ano estavam
ainda piores.
Grandes jogadas? Zero. Grandes defesas? Uma ou outra. Emoções, perigos
reais de gol? Muito de vez em quando. Gols? Bom, quanto a isso os Devils
têm feito a sua parte. Os Ducks é que entraram num buraco de apatia
que eu ainda não havia presenciado nesses playoffs.
Uma das asneiras que li após o jogo 2 foi a de que o New Jersey estava
fazendo com o Anaheim exatamente o que o time da Disney fez com os outros
adversários do Oeste nos playoffs. Tipo "prove do seu próprio veneno".
Errado, pura besteira. Os Devils permitiram míseros disparos contra
Brodeur e o Anaheim, como se sabe, era o time que mais sofria chutes
nos playoffs, só tendo dado mais chutes a gol que o adversário em UMA
partida da pós-temporada até então -- contra o Wild. Faltava mesmo era
alguma ação ofensiva dos Ducks. E isso chegou para o jogo 3. Ali a série
mudou da água para o vinho.
Desesperados para conseguir fazer um gol nos Devils, os Ducks abriram
um pouco o jogo e partiram pra cima. Sandis Ozolinsh parecia aquele
defensor-atacante que bem conhecemos -- e fez ótima partida assim.
Fez inclusive jogadas salvadoras na defesa. Grande partida, o jogo 3.
E grande partida, o jogo 4. Isso mesmo, um 1-0 emocionante.
Grandes defesas? Várias, principalmente por parte de Martin Brodeur.
Emoções? Intensas, para ambos os lados, embora de alguma forma me pareça
que os Ducks levavam mais perigo no saldo final. Gols? Boa quantidade
no terceiro jogo apenas, mas o quarto foi ótimo mesmo com o magro 1-0.
Grandes jogadas? Bom, aí você também está exigindo demais desses times,
ambos voltados primordialmente para a defesa.
Outro ponto que mudou bastante foi a torcida. Posso estar ficando bairrista
demais, mas pareceu-me que a torcida em Anaheim é mais barulhenta
e empolgada que a de Nova Jersey. Definitivamente empurrando o time
no final das duas partidas. Talvez porque isso fosse necessário para
os Ducks, já que os Devils já estavam com o jogo nas mãos em New Jersey.
Os goleiros -- Jean-Sébastien Giguere não é o mesmo nessas finais,
embora em Anaheim ele tenha segurado as pontas. A quantidade de rebotes
que ele tem dado, até mesmo em simples chutes, seria perigosíssima se
não houvesse sempre algum defensor para aliviar o disco à sua frente.
Mas nada que ofusque seus atributos para o Conn Smythe.
Do outro lado, Brodeur vem fazendo muito bonito. É lá que você há de
encontrar as grandes defesas das finais, mas é lá também que você há
de encontrar a grande gafe das finais: aquela do jogo 3, quando o goleiro
perdeu o taco, que deslizou para o chão e perfeitamente desviou o disco
que vinha em sua direção para dentro do gol.
Ele quase protagoniza um outro lance inusitado, no jogo 4, quando um
disco disparado para as bordas tomou uma estranha direção e foi direto
ao gol. Dessa vez Brodeur se salvou e defendeu.
As grandes figuras -- Apesar de tudo Brodeur é o grande nome dos
Devils nessas finais. Scott Niedermayer sempre joga bem e teve ótima
atuação no jogo 4. Ofensivamente quem vem carregando o time é a dupla
Scott Gomez e Patrick Elias, os dois mais perigosos atacantes dos Devils,
além de Jeff Friesen, autor de três gols até aqui. John Madden anda
sumido, mas Jamie Langenbrunner tem feito bom papel.
Rob Niedermayer é o grande jogador dos Ducks. Presença física constante
e dominante, seja na defesa, seja no ataque, domina o disco como poucos
no time, faceta que eu mesmo desconhecia nele. É assim que o
time vem passando pela zona neutra dos Devils, buscando entrar na zona
de ataque com o disco dominado. Rob cismou de dar trancos em Scott Stevens
a partir do jogo 3, embora o tenha poupado um pouco mais no jogo 4 (quando
o próprio Stevens não esteve no seu ponto ideal). Paul Kariya? Sei não,
aquele alto salário demanda mais produção.
Do lado negativo, apenas vejo Niclas Havelid, dos Ducks, cometendo erros
e mais erros, alguns deles perigosos. Babcock deveria reconsiderar o
tempo de gelo dele, em detrimento do tempo do defensor Vitaly Vishnevsky.
Pelos Devils, de um modo geral todos têm seguido o plano de jogo de
sempre. Impressionou-me a estréia de Michael Rupp em playoffs.
Sobre aquele bando de números que a ESPN nos apresenta -- sempre há
um novo recorde sendo quebrado, sempre é a primeira vez que alguma coisa
acontece --, é absolutamente incrível o domínio dos Mighty Ducks em
prorrogações nesses playoffs. Giguere já é detentor da mais longa seqüência
da história da NHL sem levar gols em prorrogações nos playoffs. Além
disso, outro recorde, ele venceu as sete primeiras prorrogações de playoffs
que disputou, ou seja, todas até aqui. E o conceito definitivo: quem
marca primeiro, vence.
Aposto em novas e boas emoções na quinta-feira e assim por diante. A
não ser que os Ducks recuem e voltem ao estilo enfadonho e passivo dos
dois primeiros jogos.
...
PS.: É ótimo que sejamos presenteados com uma transmissão genuína da
ABC/ESPN e não o engodo que era aquela apresentação para o público internacional
que a NHL propiciava, geralmente narrada pelo Dave Strader. Mas bem
que poderiam nos poupar daquelas entrevistas idiotas da tal Sam Ryan.
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Marcelo Constantino recomenda o filme-documentário
"Tiros em Columbine". Feitas as devidas ressalvas e descontos,
trata-se de um filme obrigatório para quem tem algum interesse
sobre o tema violência. |
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NA TRAVE Martin Brodeur não
alcança o disco, mas a trave sim. Foi durante o jogo 4, em
que o tempo normal terminou em 0-0 (Shaun Best/Reuters - 02/06/2003) |
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NO GOL Dessa vez Brodeur não
alcançou e o disco entrou. Foi o chute de Steve Thomas logo
no início da prorrogação, que deu a segunda
vitória aos Mighty Ducks na série (Shaun Best/Reuters
- 02/06/2003) |
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