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23 de maio de 2003
Minnesota: O estado do hóquei - Parte 2

Por Bruno Bernardo

Continuando o artigo da semana passada, hoje falarei sobre a segunda parte da história do Minnesota North Stars, mais especificamente de três momentos importantes da história da equipe.

A temporada de 1971 -- Esta era a quarta temporada dos times de expansão e, graças à idéia da liga de colocar esses times numa mesma conferência, todo o Oeste era considerado fraco e sem chances de vitória na Stanley Cup. Nas três temporadas anteriores o St. Louis Blues foi o representante do Oeste nos playoffs e, em doze partidas, eles só conseguiram vencer uma. Por causa dessa disparidade o Chicago Blackhawks foi deslocado para o Oeste e a forma dos playoffs também foi alterada.

Na sua primeira temporada como técnico dos Stars, Jack Gordon teve um pouco de dificuldades, mas ainda assim a equipe conseguiu a classificação para os playoffs com uma campanha de 28-34-16, graças ao novato Jude Drouin, que teve 68 pontos e foi líder da equipe.

Na primeira rodada dos playoffs os Stars encararam novamente os Blues. O time de St. Louis era favorito, mas dessa vez Minnesota não tomou conhecimento e venceu a série em seis jogos. Gump Worsley era o goleiro da equipe e foi bastante sólido na série, contando com a ajuda de outro goleiro já conhecido, Cesare Maniago.

A série seguinte foi contra o Montreal Canadiens, que havia eliminado o então campeão da Stanley Cup, o Boston Bruins, em sete jogos. Mesmo assim eles eram os favoritos para o confronto contra os Stars.

O primeiro jogo foi vencido por Montreal no Forum por 7-2, mas no jogo 2 houve uma brilhante atuação de Maniago, que deu a vitória aos Stars por 6-3 frente a uma platéia incrédula em Montreal. De volta ao Met Center os Habs tiveram a vingança vencendo também por 6-3. No domingo seguinte o trio Parise, Hampson e Oliver fez a diferença e os Stars empataram a série em dois com uma vitória de 5-2.

Montreal venceu o jogo 5 por 6-1 e restava ao North Stars a vitória no jogo seis. Os dois times brigaram muito nesta partida. No terceiro período Rejean Houle deu um gol a Montreal, protegendo uma liderança de 3-2. Maniago então foi retirado para dar lugar a um atacante extra nos segundos finais da partida.

Ted Hampson passou pela defesa, deu o chute que bateu Dryden e marcou o que parecia ser o gol de empate, mas aparentemente a luz vermelha de gol não acendeu e sim a verde que marca o fim da partida. Muitos fãs até hoje juram que o disco entrou antes do fim da partida, mas esta dúvida ficou no ar e no fim o Montreal venceu a Stanley Cup em sete jogos contra o time de Chicago.

A temporada de 1981 -- Esta foi a primeira oportunidade de Minnesota lutar pela Stanley Cup e uma combinação de juventude e experiência era a chave do time. No ano anterior os Stars tinham derrotado o Montreal, então campeão, com jogadores como Bobby Smith, Steve Payne, Al MacAdam e Craig Hartsburg, mas nesta temporada os novatos dariam uma grande ajuda. Dino Cicarelli foi chamado de Oklahoma City e quebrou o recorde do companheiro Steve Christoff em gols feitos por um novato (14). No gol estava a sensação de 19 anos de idade, Don Beaupre, e no time ainda havia Neal Broten, que veio para a equipe trazendo grande velocidade.

A batalha dos playoffs começou contra Boston. Não havia respeito entre esses dois times. Em fevereiro daquele ano as duas equipes jogaram uma partida que teve 406 minutos de penalidade, um recorde que persiste até hoje. Todos esperavam uma batalha sangrenta no gelo, mas na realidade o que aconteceu foi uma série muito empolgante. Os Stars venceram o time de Boston por 3-0.

O adversário seguinte foi o Buffalo Sabres, que venceu o Troféu Adams com 61% de vitórias. Steve Payne foi o nome da série marcando um gol decisivo na prorrogação. Os Stars venceram novamente perdendo apenas uma partida na melhor-de-7.

O Calgary Flames foi o ultimo adversário na conferência, mas três vitórias em casa garantiram a passagem de Minnesota para a final da Stanley Cup, numa série contra o New York Islanders. O time de Nova York chegava à final pelo segundo ano seguido. E chegava como favorito, não tendo dificuldades para vencer as séries anteriores. De fato eles venceram as duas primeiras partidas pelo placar de 6-3.

Um estádio cheio esperava Minnesota para o jogo 3, os Stars sentiram essa vibração e abriram 3-1 no inicio da partida, mas os Islanders correram e conseguiram virar a partida por 4-3 no início do último período. Numa bela reação os Stars viraram o jogo novamente para 5-4, mas os Islanders não estavam mortos. Butch Goring marcou seu terceiro gol na partida e um gol na rede vazia deu a vitória para os Isles por 7-5.

Era o jogo decisivo para os Stars, perdendo a série por 3-0 o time teria que mostrar uma garra absurda. Os Isles abriram o placar e deixaram a torcida muda, mas Minnesota contou com uma bela atuação de Don Baeupre e com dois gols no último período de Payne e Smith que deram a vitória por 4-2.

No jogo 5 os Islanders voltaram à boa forma. Butch Goring marcou duas vezes no primeiro período, mas o Minnesota jogou muito mal e o time nova-iorquino venceu a partida por 5-1. Goring ficou com o Troféu Conn Smythe como MVP dos playoffs. Os jogadores Denis Potvin, Bryan Trottier, Billy Smith e Mike Bossy venceram mais duas Stanley Cups para os Islanders, que foram uma das maiores dinastias da liga.

A temporada de 1991 -- Esta temporada parecia desastrosa para os North Stars, alias, apenas 5.730 torcedores apareceram no jogo de estréia. O início de temporada foi de 3-9-3. Nada conseguia atrair mais torcedores para a arena.

Mas essa situação iria mudar. Bob Clarke, o novo gerente geral do time trocou, Larry Murphy para Pittsburgh em troca de Jim Johnson e Chris Dalquist, conseguindo assim melhorar sua defesa. As coisas então começaram a melhorar. Ulf Dahlen veio para o time no lugar de Dino Cicarelli e, depois de um começo lento, marcou pontos importantes para o time: fez 19 dos seus 21 gols nos últimos 42 jogos, incluindo um jogo de três gols no fim da temporada.

O técnico do time era Bob Gainey (em seu ano de estréia) e sua liderança parece ter surtido efeito. De janeiro ate março os Stars estavam com uma campanha de 14-6-6.

O primeiro oponente do time nos playoffs foi o arqui-rival Chicago, que havia ganho a Divisão Norris e o Troféu dos Presidentes. Os Stars jogaram com muita disciplina e eram mortais em situações de vantagem numérica. No jogo 5 os Blackhawks mostraram sua frustração cometendo penalidades bobas. O time de Minnesota aproveitou-se disso e humilhou os Hawks em pleno Chicago Stadium por 6-0. Os Stars tinham se tornado o primeiro time em vinte anos a vencer o primeiro cabeça de chave na primeira fase.

Na segunda rodada, outro velho rival, o St. Louis. Os Blues tinham terminado a temporada com o segundo melhor recorde na liga e Brett Hull e Adam Oates tinham combinado num total de 240 pontos na temporada. Mas os Stars jogaram com a mesma disciplina que havia funcionado com o Chicago. Gatean Duchesne e Stewart Gavin conseguiram neutralizar a dupla dos Blues. O jogo agressivo de Mark Tinordi foi efetivo nos dois lados do gelo e novamente os Stars venceram a série por seis jogos.

Minnesota havia derrotado o primeiro e o segundo melhor time da liga. E agora teria que jogar contra o defensor da Stanley Cup, o Edmonton Oilers. Como nas séries anteriores os Stars fizeram muitos gols capitalizando na vantagem numérica. Jon Casey também esteve espetacular, com um recorde de 99,1% de defesas no final da série.

O jogo 5 foi um grande duelo. Com a partida empatada em 2-2 no início do terceiro período, Stewart Gavin carregou o disco na zona dos Oilers e passou para Bobby Smith, que conseguiu fazer o disco passar por Grant Fuhr, o que se tornaria o gol da vitória. Os North Stars haviam surpreendido a todos ao conseguirem essa proeza.

Pela primeira vez em 57 anos, a Stanley Cup seria disputada por dois times que nunca a haviam conquistado. Os Stars abriram a série como eles haviam feito nas anteriores, vencendo o jogo um por 5-4. No jogo seguinte Pittsburgh teve a vingança e venceu por 4-1. Neste jogo Mario Lemieux marcou um gol que ficará para sempre na memória dos fãs de hóquei. Ele veio de sua própria zona defensiva, passou por dois zagueiros e desviou o disco de Casey enquanto caía ao chão.

Os North Stars voltaram para casa com um recorde de quase 16,000 pessoas no Met Center para o jogo 3. Infelizmente para os Penguins, eles não contariam com Mario, que havia machucado as costas no vestiário minutos antes do jogo. Dave Gagner e Bobby Smith marcaram no segundo período. Os Stars venceram por 3-1 e tomaram conta da série com 2-1.

Lemieux voltou para o jogo 4 e os Penguins marcaram logo três gols nos primeiros três minutos de jogo. Na metade do jogo Trottier marcou para dar uma liderança folgada de 4-1, mas os Stars lutaram. Mike Modano marcou em vantagem numérica no final do segundo período para deixar o placar em 4-3. O time de casa teve varias chances para empatar a partida, mas os Penguins conseguiram suportar a pressão e venceram por 5-3.

O jogo cinco foi quase um replay do jogo anterior. Larry Murphy, o ex-defensor dos Stars, teve quatro assistências e os Pens venceram por 6-4.

Qualquer pessoa que tenha visto o jogo 6 diria que foi duro. Os Penguins marcavam sem parar e os Stars não conseguiam responder. Eles simplesmente não tinham mais chance e perderam por 8-0. O capitão Mario Lemieux recebeu a Stanley Cup enquanto os fãs de Minnesota aplaudiam os novos campeões.

Apesar de Mario ter liderado os playoffs, o jogo de Recchi, Francis, Stevens, Coffey e Jagr eram uma prova de que o time tinha mais do que uma estrela. Dessa maneira os Stars conseguiram o respeito da liga e a lealdade dos torcedores e a frase "Lembre-se de Minnesota em 1991" seria usada sempre para motivar os azarões durante muitos anos.

Duas temporadas depois o time estava se mudando para Dallas. Seus torcedores ficaram deprimidos e o comentarista Al Shaver disse suas últimas palavras na transmissão: "Foi um prazer ter conhecido esse time. A perda de Minnesota com certeza é um ganho para Dallas, um enorme ganho. Nós agradecemos do fundo de nossos corações por todas as alegrias aqui no Met Center e em todas as comunidades da cidade. Sempre lembraremos do Minnesota North Stars."

Os Stars venceriam a sua sonhada Stanley Cup em Dallas no ano de 1999 derrotando o Buffalo Sabres em seis jogos. E Minnesota ficou sem um time de hóquei até 2002, com a chegada do Minnesota Wild. Como vimos nesta temporada parece que o velho espírito guerreiro dos North Stars ainda vive na nova franquia, que teve uma bela campanha com o time sendo eliminado na final de conferência.

Que daqui para frente o lugar de Minnesota esteja sempre guardado na história da liga.

Gostaria de, novamente, agradecer a Ken Avery do site www.northstarshockey.com pela brilhante coleção de fatos sobre o time.

Bruno Bernardo é admirador dos times de Minnesota e não gosta muito do Anaheim (nem do Dallas).
 
  BOBBY SMITH Ele foi um dos pilares do time em 1981 (Arquivo The Slot BR)
   
 
  1971 O "injustiçado" time de 71 (Arquivo The Slot BR)
   
 
  1991 O valente time de 91 (Arquivo The Slot BR)
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Página publicada em 22 de maio de 2003.