Por
Alexandre Giesbrecht
Mais uma vez, está provado que o jogo do New Jersey Devils é
baseado puramente em não deixar o adversário marcar. Foi
assim nos dois jogos que abriram as finais de conferência, contra
o Ottawa Senators. Em Ottawa, uma derrota (na prorrogação)
e uma vitória. Tudo o que os Devils queriam: voltar a New Jersey,
onde ainda estão invictos, com 1-1 na série.
E a tarefa dos Sens vai ser ainda mais difícil, porque provavelmente
estarão sem um de seus principais senão o principal
zagueiros, Wade Redden, que se contundiu no joelho esquerdo depois
de um tranco controverso de Turner Stevenson. Ainda não se sabe
a gravidade da contusão, mas o time pediu para a ligar rever
o lance, que pode render uma suspensão para Stevenson.
No jogo 1, o ataque canadense teve dificuldades e, depois de fazer 2-0
no primeiro período, sofreu o empate, que levou a partida para
a prorrogação. Lá, os Senators dominaram, mas só
ganharam o jogo graças a um atacante que não tinha gol
algum em 54 jogos de playoffs, Shaun Van Allen. Foi o único momento
de desatenção dos Devils, justamente o que custou a vitória.
Com os Sens surpreendentemente imitando o estilo de jogo do adversário
(será que os Devils podem cobrar direitos autorais?), o jogo
não teve muitas chances. A única escapada foi mesmo a
da prorrogação, um 2-contra-1 que Van Allen não
desperdiçou.
"Todos esperavam um jogo chato, mas não acho que tenha sido
tão chato", disse o técnico do New Jersey, Pat Burns.
"Ambos os times tiveram o mesmo número de chances."
O que deve ser muito próximo de zero. Ao contrário do
que Burns disse, o jogo foi, sim, chato. E, para ele, deve ter sido
ainda mais chato, já que seu time perdeu. E os Devils podem até
ser chatos e são , mas sabem aprender com seus erros.
E mostraram isso no jogo 2. O time cumpriu tão à risca
seu plano de jogo, que conseguiu manter sua vantagem de 1-0 mesmo tendo
ficado em desvantagem numérica por 8 dos 12 primeiros minutos
de jogo. Essa equipe especial foi tão decisiva que dois de seus
membros, John Madden e Jay Pandolfo, selaram a vitória com o
terceiro e o quarto gols do time, na vitória por 4-1.
O único gol do Ottawa veio na única bobeada da defesa
do New Jersey, quando Scott Gomez perdeu o disco para Marian Hossa,
que partiu num 2-contra-1 com Radek Bonk, que marcou. Foi o único
dos 31 chutes canadenses que iludiu Martin Brodeur. Do outro lado, Patrick
Lalime pareceu nervoso, com apenas 17 defesas em 21 chutes. Brodeur
fez defesas brilhantes; Lalime, não. Essa foi a chave do jogo.
Quando Madden, quase sem ângulo, bateu Lalime, logo depois de
uma vantagem numérica dos Sens expirar, o Ottawa tinha uma vantagem
de 11-4 em chutes no segundo período. O problema é que
o placar marcava 3-1 para os visitantes. "Eu tenho que fazer essas
defesas", disse Lalime. "Foi um daqueles jogos. Eu não
fiz a grande defesa na hora certa."
É, foi um daqueles jogos típicos dos Devils. O adversário
domina, domina, mas quem sai com a vitória são eles. Chato,
sim. Mas eficiente. E aprendendo com seus erros. Depois de um primeiro
período no jogo 1 em que os Senators conseguiram abrir dois gols
de vantagem, o time se adaptou e conseguiu empatar. Quando os Sens passaram
a jogar o jogo dos Devils, estes demoraram um pouco mais para se adaptar,
e acabaram perdendo a partida na prorrogação.
Mas o jogo 2 não tinha nem um minuto quando o time de New Jersey
se adaptou mais uma vez. Aos 31 segundos, Colin White foi para o banco
de penalidades, deixando o time em desvantagem numérica. Os Sens,
com sua poderosa equipe especial, não conseguiram abrir o placar.
Isso ficou para Tommy Albelin, dos Devils, que não marcava desde
os playoffs de 1995 sim, quando o New Jersey ganhou sua primeira
Stanley Cup. E o time não parou por aí: fez 2-0 no fim
do primeiro período.
Foi a vez de o Ottawa tentar se adaptar, no primeiro intervalo. Deu
certo por dois minutos, quando Bonk diminuiu. Descoberto o segredo?
Pode até ser, mas Brodeur não deixou passar mais nada.
Foi defesa atrás de defesa, inclusive uma em chute de Hossa,
que vinha em um 2-contra-1.
Nestes playoffs, os Sens ainda não tinham perdido um jogo em
que marcaram ao menos um gol (suas três derrotas foram em shutouts),
portanto um tabu já caiu. Agora os canadenses vão enfrentar
um tabu mais difícil de ser quebrado: os Devils ainda não
perderam em casa nestes playoffs. E vão enfrentar também
Brodeur, uma ameaça muito maior que um simples tabu. E possivelmente
sem Redden.
Tarefa difícil, mas não impossível. Quem sobreviver
nesta série sabe que será sério favorito nas finais.
Por melhor que venham jogando Anaheim (principalmente) e Minnesota,
qualquer um deles entrará como azarão nas finais. E a
história nos mostra que os azarões que chegam às
finais não costumam vencer (vou ater-me a alguns exemplos, mas
existem muitos mais: Vancouver, em 1982 e 1994, Minnesota, em 1991,
Los Angeles, em 1993, Florida, em 1996, e Carolina, no ano passado).
É uma vantagem psicológica enorme, que, se não
vai garantir a Stanley Cup nas mãos, ao menos é motivo
suficiente para os dois times quererem ainda mais se classificar. Mais
do que a técnica, o que vai decidir esta série será
a garra e a vontade ganhar. Por enquanto, os Devils estão levando
vantagem.
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Alexandre
Giesbrecht, publicitário, quase perdeu o texto acima
depois de pronto, numa "parada de energia programada"
para testar o gerador de energia da empresa onde trabalha. |
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PARANDO OS SENS Além
de Brodeur vir sendo brilhante nestes playoffs, ainda conta com
a ajuda de uma das melhores zagas da liga (Dave Sandford/Getty Images
- 10/05/2003) |
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