Por
Alexandre Giesbrecht
Não é uma série histórica. Pode até
acabar sendo, mas não perece muito provável neste exato
instante. Como poderia ser, se um dos times é aquele que tem
sido a piada da NHL desde que os Senators começaram a jogar bem?
Ainda é difícil acreditar que o Lightning está
nos playoffs. Ainda é difícil acreditar que eles viraram
uma série praticamente perdida contra os Capitals. Não,
isso não é. Até os Sens de 1992-93 ou os Penguins
atuais virariam uma série praticamente perdida contra os Capitals.
Mas é difícil acreditar que o Tampa Bay consiga repetir
o feito contra um time do calibre do New Jersey Devils.
Os Devils não são os Capitals. Estão longe de ser.
Os Devils são um time acostumado à pressão, acostumado
a sobreviver às situações mais difíceis.
Um time com um goleiro sempre espetacular. Um time bem arrumado defensivamente.
E um time extremamente chato de se assistir.
É verdade que na segunda-feira eles produziram os gols de que
precisavam, numa fúria de dez minutos que apagou do placar os
3-0 que o Lightning tinha feito, mas, ofensivamente, foi só isso.
Os Bolts, que tinham jogado muito bem no primeiro período e se
autodestuíram no segundo, voltaram a jogar solidamente no terceiro
e garantiram a vitória. Fora esses dois períodos, os Devils
vinham segurando bem o ataque do Lightning, a ponto de não precisarem
de muitos gols para se garantir.
E essa deve ser a tônica pelo resto da série. Jogos de
placar baixo, com domínio dos Devils. No jogo 4, o Tampa Bay
vai precisar muito do apoio da torcida e de um Nikolai Khabibulin inspiradíssimo
para tentar empatar a série. Enquanto isso, em New Jersey, o
técnico Pat Burns continua bolando estratégias para neutralizar
o ataque do adversário e ninar a torcida.
Foi assim no jogo 1. O time não ficou batendo: segurou a pequena
pressão do Lightning (pequena, mesmo: os 15 chutes do time da
Flórida são o novo recorde negativo de sua curta história
em playoffs) e esperou o momento certo para dar o bote contando,
é claro, com a ajuda de Khabibulin. Depois, ainda surpreendeu
ao marcar mais dois gols, configurando uma verdadeira goleada.
No jogo 2, os Bolts estavam na frente, 2-1, quando Marin St. Louis perdeu
uma chance clara, sozinho contra Martin Brodeur. Isso abateu o time,
que cedeu o empate e acabou perdendo na prorrogação.
Brodeur é a chave dos Devils. Sem ele, o time seria mais um dos
que jogam fechados. Um goleiro excepcional, que, na moita, vem se aproximando
de vários recordes. O New Jersey conta tanto com ele, que muitos
não sabem sequer quem é o seu reserva (é Corey
Schwab, ex-Lightning). A defesa é temida, difícil de se
passar. Mas mesmo que se consiga, ainda falta bater Brodeur, uma tarefa
sempre inglória.
Com esses ingredientes, fica difícil achar quem senão
a própria torcida goste de ver os Devils jogar. Eles jogam
para vencer, não para dar espetáculo. Desde que implantaram
o esquema da armadilha com sucesso, em 1995, mais da metade dos times
da NHL passou a imitá-los os Panthers, por exemplo, chegaram
às finais no ano seguinte com um esquema que era pura imitação
da armadilha original. O criador, Jacques Lemaire, hoje é sério
candidato ao Troféu Jack Adams, de melhor técnico, pelo
Wild.
Ninguém joga a armadilha como os inventores Devils. E há
que se levar em conta que já passaram por cinco técnicos
desde que ganharam a Stanley Cup pela primeira vez. O primeiro motivo
disso é a perspicácia do gerente geral Lou Lamoriello.
O segundo, que deriva dessa perspicácia, é que a base
do time sempre foi mantida, tanto é que o zagueiro Ken Daneyko,
por exemplo, esteve presente em todos os jogos de playoffs da história
do time até ficar de fora do jogo 3 contra o Boston, na primeira
fase. Assim, não importa quem esteja comandando o banco, o time
já conhece a tática.
E os adversários ainda não descobriram uma maneira eficiente
de bater os Devils. Sempre que eles foram eliminados, aprenderam com
seus erros. O Boston tentou, na primeira fase, repetir o que os Hurricanes
fizeram no ano passado, abusando do jogo físico. Fiasco total:
foram eliminados em cinco jogos. O Lightning tentou jogar mais no ataque,
mas também não está dando certo. Até agora,
só tiveram sucesso no primeiro período do jogo 3, quando
tentaram emular o jogo dos Devils. No segundo período, Burns
fez o time se adaptar a isso e empatou o jogo. Isso sem Scott Stevens,
seu melhor e mais durão defensor, que foi obrigado a deixar o
jogo depois de um disco acertar seu rosto.
Vincent LeCavalier poderia ser a chave da vitória, assim como
Jaromir Jagr foi contra os Devils em 1999, quando os oitavos colocados
Penguins eliminaram o então melhor time do Leste. Mas LeCavalier
sumiu. Na segunda-feira, teve até alguns lampejos no primeiro
período, mas o time está tendo de se virar sem ele. Mesmo
St. Louis não está brilhante, embora apareça mais.
Com isso, o Tampa Bay precisa de produção de todas as
suas linhas. Com o time sempre muito dependente de sua primeira linha
e um elenco sem muita profundidade, a tarefa torna-se ainda mais difícil.
Para piorar ainda mais as coisas, Khabibulin não está
sendo a muralha que deveria ser numa série como esta. Tudo bem,
sofreu apenas um gol que possa ser classificado como frango, mas ele
tem que fazer as defesas difíceis que podem dar a vitória
a seu time. Com atuações apenas medianas, vai ser duro
chegar ao jogo 6. Em nove jogos até agora nestes playoffs, o
Lightning ficou na frente onze vezes. Destas, sofreu o empate oito vezes.
Não que tenha sido sempre culpa de Khabibulin. Não foi.
Mas uma defesa monumental poderia ter evitado, por exemplo, o empate
dos Devils no terceiro período do jogo 3.
A única chance que os Bolts têm de ganhar esta série
é se aplicar no jogo 4 e dar um jeito de conseguir a vitória
diante de sua torcida, aproveitando-se da possível ausência
de Stevens. Depois, têm de repetir essa atuação,
para ganhar ao menos um dos jogos na casa do adversário, além,
claro, do jogo 6, também em casa. Se perderem o jogo 4, podem
dar adeus aos playoffs, porque o jogo 5 será uma mera formalidade.
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Alexandre
Giesbrecht, publicitário, continua maravilhado e agradece
pela overdose de hóquei ao vivo na ESPN Internacional. Ah,
sim, e pede mais. |
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BOLTS PRECISAM DE MAIS DISTO
St. Louis bate Brodeur no primeiro período do jogo 3: do
jeito que está, gols contra Brodeur vão ser raros
(Dirk Shadd/St. Petersburg Times - 28/04/2003) |
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