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25 de abril de 2003
Até mais, Stanley

Por Mitch Albom, Detroit Free Press

E é isso.

Nada de bicampeonato. Nada de parada de comemoração. Nada de Colorado ou Dallas. Nada de maio. Nada de junho. Nada de nada, realmente — que é o que acontece quando vocês ofre do maior nada de todos: nada de vitórias.

Por quatro vezes os Red Wings levaram seu orgulho e poder ao gelo contra o Anaheim Mighty Ducks, um time com um nome ridículo e sem nenhuma tradição, e por quatro vezes saíram do gelo humilhados. A quarta-feira passada viu o último insulto, uma noite em que os Wings prometeram mostrar do que eram feitos.

Isso é do que eles são feitos: eles já estão em casa agora, com a temporada arruinada, o primeiro time eliminado dos playoffs deste ano. O time se trocou. O avião decolou.

E é isso.

"Quatro seguidas?" era o que você podia ouvir dos sussurros da torcida dos Wings, depois que o Detroit foi varrido para fora dos playoffs com a derrota por 3-2 na prorrogação do jogo 4. "É uma piada, certo? Não pode ter acontecido de verdade. Quatro seguidas?"

Aconteceu. Lá estava Mathieu Dandenault, dormindo no volante, deixando Adam Oates roubar o disco como um ladrão de bolsas no metrô. Oates passou para Paul Kariya, Kariya chutou no alto do gol de Curtis Joseph, e a única liderança dos Wings no jogo se acabou.

Lá estavam Brendan Shanahan, Brett Hull, Sergei Fedorov, as maiores armas do arsenal do Detroit, disparando contra Jean-Sébastien Giguere como se ele fosse feito de Kevlar. Nada além de arranhões.

Lá estava o terceiro período, com um chute de um cara de quarta linha chamado Jason Krog zunindo por Joseph, agora um goleiro-problema.

"Jason Krog?" era o que você ouvia a torcida dizer. "JASON KROG?!"

E finalmente, na prorrogação, lá estava Steve Rucchin mandando a inevitável punhalada para trás de Joseph e para dentro dos livros de história.

"Varrida! Varrida!" era o que a multidão em Anaheim gritava.

Varridos. Daqui a alguns dias, daqui a alguns meses — talvez até daqui a alguns anos —, esses momentos vão voltar para assombrar os Red Wings com o pior tipo de eco. As traves ressoando, as jogadas de defesa perdidas, o goleiro se perdendo fora do gol — todas aquelas costuras no tecido, voltando descosturadas em uma constatação atormentante: você só tem algumas chances para conquistar a Stanley Cup.

E em 2003 uma máquina muito bem equipada nem chegou a sair da garagem.

A longa estrada de volta -- Mesmo nos instantes antes do jogo, os Wings falavam em fazer história. Eles sabiam que apenas dois times viraram uma série que perdiam por 3-0 na história dos playoffs da NHL, mas eram unânimes ao dizer que achavam que estavam destinados a ser o terceiro.

"Se algum time pode...", disse o técnico Dave Lewis.

"Se algum time pode...", disse Shanahan.

"Se algum time pode...", disse Fedorov.

Então talvez nenhum time possa. Mas, lembrem-se, os Wings não falharam apenas em virar a série. Eles falharam em ganhar um jogo. Você pode reescrever do jeito que quiser. E isso ainda vai ser igual a fracasso. Na noite de quarta, eles chegaram ao ápice da frustração no fim do segundo período, quando mesmo sua melhor atuação não conseguiu render um gol. Honestamente, foi como assistir a uma luta de um homem só, de tão dominantes que estavam os Wings no ataque. Mas assistir às tentativas de trespassar Giguere era como assitir a ladrões tentando trespassar um cofre de banco suíço. Os Wings mandaram tudo o que tinham contra ele. Darren McCarty, com dois chutes fortes — negado! Shanahan, numa bela assistência de Steve Yzerman — negado! Yzerman, tentando sua própria abertura, giro, chute — negado! Fedorov, com dois chutes violentos — nada! Era como tentar derrubar com um machado uma árvore petrificada [N. do T.: lembram-se daquele desenho do Pica-Pau, em que ele tentava derrubar uma árvore petrificada de tudo quanto é jeito?].

Em um certo ponto, um chute desviado por Mathieu Schneider voou no ar como uma moeda, aterrissando nas costas de Giguere e ainda batendo na lateral do gol. Essa foi praticamente a história do jogo para os Wings. Mesmo a gravidade estava do lado do Anaheim.

No final, ao patinar em direção ao verão norte-americano, os Wings pareciam abalados. Um time que, na última parte da temporada regular, teve média de quatro gols por jogo não conseguiu marcar seis em uma série?

"É impensável", podia-se ouvir a torcida do Detroit dizer. "Não é?"

Não mais. Na última semana, os Red Wings eram um ogro sendo esmurrado por um leprechau, dizendo "não doeu, não doeu" — e então desabando morto. Até o amargo final, eles negavam o talento coletivo do Anaheim, privadamente creditando apenas o goleiro, Giguere, como motivo para estar atrás, 3-0, ao invés do contrário.

Sim, isso é verdade, Giguere foi inacreditável. Extraordinário. Não dá para elogiá-lo o suficiente. Mas ele não marcou para os Ducks. Ele não adormeceu na defesa. Ele não sofreu os gols questionáveis que Joseph sofreu. Ele não roubou discos ou fez os passes perfeitos que os Ducks fizeram ao menos uma vez por jogo.

E se Giguere foi o único responsável pela derrota, isso diz mais sobre os Wings do que nós queremos saber. Lembrem-se, Giguere estava nos primeiros playoffs de sua carreira. Seu técnico, Mike Babcock, está em seu primeiro ano. Krog é considerado um jogador inferior — e marcou dois gols nessa série —, o que dá um a mais que Hull, Fedorov, Yzerman ou Nicklas Lidstrom. Os Ducks nunca tinham vencido os Wings em playoffs. Quanta história os Wings poderiam jogar no lixo em uma série?

Muita. Fazia mais de meio século que um campeão da Stanley Cup não era varrido na primeira rodada da defesa de seu título. De um jeito ou de outro, os Wings estão de volta aos livros de história.

Um verão sem hóquei -- As repercussões disso são gigantes. Essa máquina de hóquei de Detroit é feita de alto faturamento e altos gastos, com o capital gerado pelos playoffs financiando muitas das manobras nas férias e durante a temporada. A devoção da família Ilitch ao telento caro — tanto o atual como o potencial — será duramente testada agora. Esse é um time idoso, com jogadores mais velhos sugando uma grande parcela da folha de pagamento. Você não pode trocá-los. Se você cortá-los, perde sua liderança. Se perder sua liderança, você não vai se tornar igual a vários times lá fora?

Vocês entendem o problema. E a tinta vermelha nos balanços não se compara ao olho roxo do orgulho dos Red Wings. Perder uma série de primeira fase difícil não é novidade — os Wings o fizeram há dois anos, contra o Los Angeles Kings. Mas perder quatro seguidas para o sétimo colocado quando se tem um elenco de Hall da Fama e um bom grupo de jovens talentos não é apenas histórico, é inexplicável.

Essa charada agora vai consumir nossas horas da primavera e do verão norte-americanos, antes separadas apenas para hóquei. Ao invés de ir aos estádios fechados no meio da primavera, pode-se cortar a grama e dizer: "Não acredito que os Wings perderam assim." Ao invés de se procurar um bar de esportes no início de junho, pode-se ir à praia e dizer: "Ainda não acredito que os Wings perderam assim."

E enquanto se estiver fazendo isso, pode-se provavelmente dizer adeus a rostos familiares: Luc Robitaille, Igor Larionov, talvez até Fedorov e McCarty, todos agentes livres que parecem menos essenciais depois de um sonoro zero nos playoffs.

Mais do que isso, dizemos adeus à expectativa, à adulação e ao júbilo. Eles serão trocados por frustração, nossa e deles. Por 18 meses, Detroit vinha sendo um lugar feliz para o hóquei, um tipo de Discolândia mágica, onde os melhores jogadores jogavam e os melhores torcedores assitiam.

Tudo se acabou agora. O melhor conjunto de ratos e homens foi nocauteado pelos Ducks. O time se trocou. O avião decolou. Não há alegria na Discolândia; os poderosos Red Wings foram eliminados.

Mitch Albom é colunista do jornal Detroit Free Press. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
ANTES Joseph sofre o gol na prorrogação... (Julian H. Gonzalez/Detroit Free Press - 16/04/2003)
 
DEPOIS ...e os Ducks comemoram a classificação e a varrida (Julian H. Gonzalez/Detroit Free Press - 16/04/2003)
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Página publicada em 24 de abril de 2003.