Por
Alexandre Giesbrecht
Estes playoffs prometiam. E, até agora ao menos, têm cumprido.
Surpresas e emoções; gols e prorrogações.
Bem, talvez nem tantos gols assim, mas isso é o que sempre se
esperou dos playoffs, mesmo nos anos 80 e início dos 90, quando
7-5 era um resultado razoavelmente comum - na temporada regular.
Nada é mais surpreendente que a queda dos atuais campeões.
Nem nada foi mais surpreendente na última década. Sim,
eles eram os segundos do Oeste, enquanto muitos primeiros colocados
foram derrubados pelos oitavos recentemente. Mas nunca um favorito tão
disparado foi batido tão rapidamente. Para eu me lembrar da última
vez que um campão foi eliminado logo de cara, tive de voltar
até 1994, quando os Canadiens foram derrotados pelos Bruins em
SETE jogos (os Devils não se classificaram para os playoffs de
1995-96). Um campeão varrido logo de cara? Só uma única
outra vez, em 1952.
A performance do goleiro Jean-Sébastien Giguere foi tão
dominante que é possível que os jogadores do Detroit estejam
achando que foi ele também que marcou todos os gols dos Ducks,
incluindo os dois fatídicos gols nas prorrogações
dos jogos 1 e 4. Nem o fato de ele ter jogado tão bem conseguiu
eclipsar o fato de que os Wings ficaram sem força ofensiva justamente
quando mais importava. Mesmo quando não foram campeões
entre 1999 e 2001, eles pareceram ter aprendido as lições
de 1995 e 1996, quando foram os melhores no Oeste (em 1996, os melhores
da liga toda, disparado), mas acabaram sendo eliminados por times que
batiam forte e sabiam se defender.
A ressaca em Detroit ainda vai ser longa. Até a segunda-feira,
o time merecia menção na primeira página de um
dos principais jornais da cidade, o Detroit Free Press. A torcida ainda
se pergunta como isso pode ter acontecido, procurando culpados. Frases
começando com "e se..." têm pipocado pela cidade
inteira. E se Curtis Joseph tivesse jogado tão bem quanto Giguere?
E se os Wings tivessem ganhado dos horríveis Hawks no último
dia da temporada, deixando o encontro com o Anaheim para o Dallas?
As respostas que a torcida que ouvir são "os Wings teriam
trucidado os Ducks" e "os Wings teriam trucidado os Oilers".
Poderia até ser verdade, mas nunca teremos como saber. A verdade
é que tivemos uma surpresa digna da emoção que
só os playoffs da NHL proporcionam.
Por outro lado, não foi nenhuma grande surpresa o que aconteceu
em Washington no domingo. Mais uma vez, os Capitals desperdiçaram
uma liderança razoável na série e tiveram uma rara
oportunidade de ser eliminados por outro time que não os Penguins.
Das últimas dez vezes que o time foi eliminado, seis foram pelo
time de Pittsburgh. Não desta vez. Desta vez foi o Lightning
que impôs uma agonizante derrota aos da capital norte-americana.
Quando o Washington ganhou os dois primeiros jogos - em Tampa Bay, no
less -, parecia que o destino da série estava selado. Mas o técnico
do Lightning, John Tortorella, fez questão de lembrar que a história
dos Caps em playoffs é rica em colapsos na liderança (por
duas vezes em quatro anos, 1992 e 1995, perderam uma série que
venciam por 3-1, e em 1996 também conseguiram perder outra, nas
mesmas condições que esta de 2003). Foi um golpe baixo,
é verdade - mas deu certo.
E o golpe final não poderia ser em melhor estilo, com uma derrota
em casa, na terceira prorrogação, durante uma penalidade
por (você deve estar imaginando algo como slashing, hooking, interference
ou outro ato agressivo e, até por isso, perdoável, mas...)
homens demais no gelo. E os árbitros não tinham escolha.
O disco veio na direção de Jason Doig, que tinha acabado
de sair do banco. Instintivamente, ele o dominou. Se o tivesse simplesmente
deixado passar, é possível que os juízes, sempre
relutantes em marcar qualquer coisa na prorrogação, teriam
olhado para o outro lado.
Mas, não. Foi muito na cara.
E não demorou nem 20 segundos para Martin St. Louis, o carrasco
dos Caps na série, definir o jogo com um golpe mortal, indefensável.
Jogo este que nos foi oferecido, ao vivo numa tarde de domingo de Páscoa
pela ESPN, que nesta temporada tem-se redimido dos últimos anos,
quando tratou o hóquei como esporte de terceira - nesta temporada,
ele voltou a ser tratado como de segunda, algo menos pior.
Voltando ao Lightning, vai ser interessante ver como esse jovem time
vai lidar com os disciplinados (e chatos) Devils. É bom as linhas
de baixo voltarem a produzir, porque não vão sobreviver
nem cinco jogos se só a linha principal, de Vincent LeCavalier,
Vaclav Prospal e St. Louis, contribuir, como aconteceu contra os Caps.
Nas quatro vitórias seguidas, dos 11 gols marcados 10 foram de
autoria da primeira linha.
Aos Capitals, resta voltar a ponderar o que aconteceu, algo que eles
já estão mais que acostumados a fazer nessa época
do ano. Se no ano passado essa reflexão serviu para demitir o
técnico Ron Wilson, agora deverá servir para mexer na
cara do time. Não adiantou nada trazer a peso de ouro Jaromir
Jagr e Robert Lang, se a cara do time tem sido a mesma praticamente
nestes mais de dez anos que eu tenho acompanhado a NHL. Não adiantou
nada inflar a folha de pagamento para obter os mesmos resultados e,
pior, quase nenhum apoio da torcida.
O dono do time, Ted Leonsis, já declarou que ficou bastante decepcionado
com os baixos públicos nos playoffs e prometeu mudar sua política
de altos gastos. Ele ainda reclamou da empresa Washington Sports &
Entertainment, que opera o MCI Center, por fazer o time jogar em dias
consecutivos, além de jogar nas Páscoas judaica e cristã.
Não foi a primeira vez que a WSE prejudicou os Caps em playoffs.
Em 2000, o time tinha o mando de gelo contra os Penguins, mas, por conflitos
de calendário, foi obrigado a jogar os jogos 2 e 3 em Pittsburgh.
Com isso, voltou ao MCI Center para o jogo 4 perdendo por 3-0.
WHA -- A World Hockey Associaton, liga que fez frente à
NHL nos anos 70, está determinada a voltar à ativa para
a temporada 2004-05, aproveitando-se da possível greve ou locaute
que deverá acometer a NHL nessa temporada. Allan Howell e Nick
Vaccaro compraram os direitos da extinta liga e já publicaram
um anúncio de página inteira para apresentar as 32 cidades
consideradas "potenciais oportunidades para franquias".
Das 32 citadas, sete já têm alguém comprometido
a possuir uma franquia: Birmingham (Alabama), Hamilton (Ontário),
Jacksonville (Flórida), Los Angeles, Miami, Orlando e Pittsburgh.
Howell disse que espera que a WHA funcione mesmo que a NHL acabe conseguindo
um acordo que evite o "apocalipse", mesmo com apenas cerca
de 12 times.
"Perguntam a nós por que as pessoas iriam querer entrar
nesse negócio com tudo o que está acontecendo no hóquei,
e acho que a pergunta é a própria resposta", disse
Howell. "Várias pessoas com dinheiro têm-nos procurado
atrás de participação em hóquei profissional
de primeira linha, mas não estão preparados para pagar
uma taxa de expansão de US$ 75 milhões ou dispostas a
operar em um sistema viciado."
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Alexandre
Giesbrecht, assistiu a mais hóquei ao vivo na última
semana do que nos últimos dez anos. |
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ESTÁTUA DA LIBERDADE
Repetindo (só que com sucesso) o gesto de Patrick Roy no
ano passado, Giguere mostra o domínio que manteve sobre os
Wings (Jeff Gross/Getty Images - 16/04/2003) |
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O CARRASCO Depois de marcar
o gol que deu a série ao Lightning, St. Louis recebe o abraço
de seus colegas (Jonathan Newton/The Washington Post - 20/04/2003) |
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