Por
Eduardo Costa
Os Patos Poderosos, (1992). Com Emílio Estevez, Lane Smith, Heidi
Kling. Um advogado (ex-jogador de hóquei) tem que cumprir serviço
comunitário treinando um grupo débil de pequenos jogadores
de hóquei. Desinteressado no princípio, ele se anima após
algumas partidas, depois recruta um par de bons jogadores e o time se
torna "Os Patos Poderosos".
D2: Os Patos Poderosos, (1994). Com Emílio Estevez, Kathryn Erbe
e Michael Tucker. Os Patos têm a chance de jogar em uma competição
internacional onde representam os EUA. Participação do
"The Great One", Wayne Gretzky.
D3: Os Patos Poderosos, (1996). Com Emílio Estevez, Jeffery Nordling,
Joshua Jackson. Os Patos ganham uma bolsa de estudos com chance de jogarem
hóquei em uma escola particular de elite.
D4: Os Patos Poderosos, (2003). Com Jean-Sebastien Giguere, Keith Carney,
Steve Thomas, Paul Kariya. Assim como no primeiro filme, alguns jogadores
foram adicionados aos Patos Poderosos e mais uma vez eles se superaram,
dessa vez eliminando uma equipe bem mais forte. E também meio
arrogantes incluindo sua orgulhosa torcida e com jogadores
bem pagos gastos próximos a US$ 70 milhões por
ano.
Todos os roteiros de qualidade duvidosa, mas esse último nem
Walt Disney teria feito melhor. E é o único baseado em
fatos reais. Não se trata de mais uma alucinação
hollywoodiana ou mais uma idéia infeliz da Disney. Nesse roteiro
há tudo que um filme pode oferecer: um herói, atores coadjuvantes,
vilões, um diretor astuto, entre outras coisas.
Como em todo bom filme, temos o herói, o ator principal. Por
mais sorte que tenha tido ou falta de capricho nos chutes da equipe
adversária, um goleiro que defende 165 de 171 chutes não
pode deixar de ser considerado o "mocinho" da série.
Giguere frustrou os Red Wings nas quatro partidas. Sem nenhuma experiência
em jogos de playoffs, o goleiro de 26 anos parou uma equipe que possui
quatro jogadores que já marcaram 500 ou mais gols na carreira
e que teve o maior número de jogadores com duplo dígito
em pontos na temporada regular.
E, novamente, como em todo bom filme, precisamos daquele momento onde
prendemos a respiração e que invariavelmente serve de
trailler para a divulgação do mesmo. Veja a foto que ilustra
essa coluna: um disco perdido na frente da área de Giguere na
última partida da série. Os tacos de Shanahan, McCarty
e Fedorov acertaram a trave, o goleiro, uma pilha de defensores... a
seguir tivemos cotoveladas e empurrões. Após o caos, eis
que emerge da pilha de corpos Giguere, sem sua máscara, mas com
sua luva erguida em triunfo e nela o disco. Há quase um ano atrás
um goleiro bem mais conhecido tentou fazer algo parecido, e ao errar
deu aos Wings a chance de continuar vivo na vitoriosa caminhada rumo
às finais. Dessa vez foi negada a chance de continuar sonhando.
É verdade que poucos minutos depois Fedorov deu uma sobrevida
aos Wings contando com a fundamental "ajuda" de Niclas
Havelid , mas não era pra ser.
A vinda de Giguere para os Ducks não poderia ter sido mais casual.
Na época, o então gerente geral Pierre Gauthier ligou
para Craig Button, recém-eleito GG do Calgary Flames, para felicitá-lo
por conseguir o emprego. Era ano de expansão e os Flames tinham
decidido que não poderiam proteger todos os seus goleiros. Button
mencionou que Giguere estava disponível. Gauthier perguntou para
os olheiros dos Ducks se Giguere valeria uma escolha de segunda rodada.
Apressadamente, eles disseram que sim. Destino.
Mas o que seria do mocinho se não existissem os fiéis
escudeiros, os atores coadjuvantes? Um deles tem sido coadjuvante nessa
franquia há muitos e muitos anos. Steve Rucchin foi o responsável
pelo "The End", um gol que será lembrado pelos torcedores
de ambas as equipes daqui a um ano, três, uma década ou
até quem sabe pelo resto de suas existências. Sem exageros.
Um gol que premia o que Rucchin representa para a organização.
Outro coadjuvante de luxo foi o defensor Keith Carney, apontando por
alguns companheiros como o MVP dos Ducks na temporada regular. Foi o
próprio Carney que iniciou a jogada do fatídico gol ao
interromper uma ação adversária. Ele continuou
na corrida rumo ao gol adversário como se fosse Pavel Bure. Rucchin
usou sua velocidade para bater Mathieu Schneider. Sua tacada foi desviado
por CuJo, mas Carney pegou o disco atrás da meta, no lugar que
ficou conhecido como escritório de Wayne Gretzky, mandou para
Rucchin pegar de primeira e vencer CuJo. Agora é escritório
de Keith Carney! Absurdo? Bem, absurdo é levar gol de um jogador
chamado KROG. Sim, sei que é um detalhe fútil, tanto faz
o nome do cara, mas o conceituado colunista do Detroit Free Press, Mitch
Albom, não aceita, ninguém em Michigan aceita e eu também
não! KROG?! Juntando isso a "Quack" e "Sweep"
temos uma combinação bizarra de palavras para aturar dos
rivais por um bom tempo.
Deixando de lado os heróis e indo para o outro lado da moeda,
afinal, como todo filme que se preze, precisamos de vilões. A
torcida dos Ducks tinha seu anti-herói predileto em Chris Chelios,
que durante anos e anos atormentou o mais querido Mighty Duck desses
dez anos de existência da franquia. Paul Kariya finalmente se
vingou. Eleito o maior cavador de penalidades da liga por Chelios pouco
antes dessa pós-temporada e tendo levado murros, sem revidar,
do defensor desde a época que o mesmo defendia as cores dos Blackhawks,
é possível imaginar o que Kariya sentiu ao apertar a mão
de Chelios no tradicional cumprimento entre perdedores e vencedores
que marca cada final de série de playoffs na NHL. Nos três
primeiros jogos dos playoffs, Chelios esteve no gelo no momento em que
os californianos marcaram o gol da vitória.
Os torcedores dos Wings escolheram outro vilão. Por mais que
alguns poucos tentem defender Curtis Joseph, ele foi contratado para
fazer a diferença (recebe muito bem pra isso), e levar cinco
gols defensáveis numa série complicada, onde todas as
partidas foram decididas por apenas um gol, é pedir para a já
conturbada relação "torcida dos Red Wings x goleiros
da franquia" se tornasse ainda mais insuportável.
Ah! E ele saiu dos Maple Leafs para tentar vencer a Copa Stanley atuando
em uma equipe mais competitiva. Nada tão condenável, afinal,
Denis Savard, Dominik Hasek e Ray Bourque já fizeram o mesmo,
mas depois desta vai ficar difícil para Joseph. Ah! O Toronto
ainda está na briga até o fechamento deste artigo
perdia a série contra os Flyers por 3-2 ; já imaginou
Belfour levando a equipe às finais? Seria caso de CuJo arrumar
as malas e se mudar para a Groenlândia. Ou então passar
a disputar algum tipo de jogo em que dar rebote seja o principal objetivo.
Não poderia deixar de mencionar o "diretor" Mike Babcock.
O plano de jogo de Anaheim incluiu marcação forte nos
defensores do Detroit já dentro da zona defensiva dos Wings.
Exercendo pressão cedo neles e evitando uma coisa que os defensores
dos Wings fazem tão bem, que são aqueles passes que cruzam
o gelo para chegarem até os asas, que utilizavam sua velocidade
pela zona neutra para furar o bloqueio. Com esses passes chegando imperfeitos,
ou até mesmo não chegando, os Ducks mataram uma das principais
armas dos atuais campeões. Tomas Holmstrom atrapalhando a visão
de Giguere? Não, Carney não deixou. J.S. Giguere pôde
ver a maioria dos chutes desferidos pelos jogadores dos Wings. Outra
arma poderosa sempre utilizada pela equipe de Michigan.
Com a varrida sofrida, Detroit se tornou o primeiro time detentor da
Copa Stanley a ser varrido na primeira rodada desde os Maple Leafs em
1952, coincidentemente pelos Red Wings. Outro fato desolador: o público
que compareceu ao Arrowhead Pond pode ter visto a última partida
de Igor Larionov na NHL, um fim nada justo para um dos melhores jogadores
de hóquei de todos os tempos. Ele deseja continuar mais um ano,
o problema é saber se aceitará uma significativa redução
salarial.
Hockeytown terá um verão diferente, infelizmente. Os 110
pontos da temporada regular devem garantir Dave Lewis no cargo, mas
o grau de tolerância agora está no limite. O gerente geral
Ken Holland terá longos meses para pensar em mudanças,
mas já adiantou que não serão muitas; o que faz
sentido, já que, apesar da tragédia, o elenco é
ótimo e vai ficar ainda melhor com a chegada do russo Igor Grigorenko
e a exclusão de Luc Robitaille. A prioridade é cuidar
da renovação de contratos dos agentes livres, em especial
de Sergei Fedorov, que promete ser uma novela. Já na Califórnia,
os Mighty Ducks tentarão provar que a varrida não foi
obra do acaso. Os playoffs continuam, a vida continua... mas a ficha
ainda não caiu.
Para quem quiser conferir novamente: esse filme estará na seção
de épicos de sua locadora para os torcedores dos Ducks; na seção
de terror para os Wings; e de comédia intermináveis
Quacks incluídos para os neutros.
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Eduardo Costa tem a primeira partida da série entre Wings-Ducks
de 1999 gravada. Naquela vez a varrida foi favorável aos
Wings. |
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IMBATÍVEL Defesas,
defesas e mais defesas. E em triunfo, eis que o jogador mais valioso
da série exibe o disco defendido (Jeff Gross/Getty Images
- 16/04/2003) |
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