Por
Alexandre Giesbrecht
Por tocer para os Penguins, sempre é fácil achar um assunto
sobre eles para escrever. Justamente por torcer para os Penguins, eu
evito sempre que possível escrever sobre eles. Afinal, isso só
seria o ideal se tivéssemos colunistas torcedores de todos os
30 times da NHL, o que não é o caso.
Eu tenho duas matérias na ponta do lápis para publicar,
sendo que uma está praticamente pronta, sobre assuntos mais genéricos,
ao contrário das últimas semanas, em que tenho abordado
um time específico. Achei que nesta semana finalmente colocaria
uma delas na sua tela, mas resolvi escrever sobre os Penguins, algo
que não faço desde o dia-limite de trocas.
Se eu não escrevesse agora, perderia o mote. Não escreveria
mais até, quem sabe, o recrutamento, daqui a mais de dois meses.
E, bem ou mal, os Pens são notícia agora. Má notícia
(para sua torcida), mas são. Além disso, o time tem uma
das maiores torcidas no Brasil. Bem, já perdi três parágrados
explicando por que vou falar deles, então é melhor começar
logo, antes que as pessoas comecem a clicar naquele botãozinho
com um X no alto do seu navegador.
Ao contrário da temporada passada, em que os Pens, apesar de
terem acabado de trocar Jaromir Jagr, tinham esperanças de playoffs
no início, desta vez o que se falava em Pittsburgh antes de a
temporada começar era algo mais realista. Até por isso,
o começo muito bom do time foi uma surpresa geral. A 30 de novembro,
eles eram simplesmente os líderes da Divisão Atlântico.
Depois disso, uma queda vertiginosa, marcada a princípio por
contusões de jogadores importantes, como o zagueiro-revelação
Dick Tarnström, Alexei Morozov e, principalmente, Mario Lemieux.
Com o desenrolar da temporada, as contusões deixaram de ser o
vilão. Quem assumiu este papel foi o gerente geral Craig Patrick,
que começou a fazer uma limpeza geral, limando praticamente qualquer
jogador cujo contra-cheque tivesse mais de seis dígitos.
O primeiro a ir foi Alexei Kovalev, para os Rangers. Em troca, quatro
jogadores de categoria duvidosa, mas um deles, Rico Fata, conseguiu
a proeza de marcar os mesmos treze pontos de Kovalev depois da troca.
O time ainda deu sinal de vida por cerca de uma semana, mas, logo depois,
deu início a uma série de 16 jogos sem vitória,
encerrada justamente em cima dos Rangers.
Pouco menos de um mês depois, a avalanche de trocas de Patrick
na data-limite. Foram embora, Jan Hrdina, Ian Moran, Shean Donovan,
entre outros, e Patrick oficializou a fase do time como de "reconstrução".
Para os últimos jogos da temporada, o técnico Rick Kehoe
foi obrigado a usar praticamente um time da AHL.
Essa reconstrução, apesar de parecer ser importante para
o futuro do time, deve prejudicá-lo em curto prazo. Lemieux,
que, além de estrela, é o dono do time, já disse
que não sabe se quer "fazer parte de um processo de reconstrução",
o que significa que a partida da quarta-feira passada contra os Hurricanes
pode ter sido a sua segunda despedida do hóquei.
Sem Lemieux, o peso do time passará todo para as costas de Martin
Straka, o segundo maior salário atualmente, a pouco mais de US$
4 milhões, e do goleiro Johan Hedberg. O resto do time? Um punhado
de veteranos sem um passado de brilho, como Brian Holzinger e Matthias
Johansson, e muitos jovens que podem estar ou não em ascensão.
O Wilkes-Barre/Scranton Penguins, time afiliado, classificou-se no sufoco
para os playoffs da AHL, apesar de contar com um dos melhores elencos
daquela liga no papel, opinião partilhada por muitos. Isso significa
que o desenvolvimento de prospectos não vai lá muito bem,
algo desastroso para uma equipe em reconstrução.
Para a temporada que vem, ainda não se sabe sequer o nome do
técnico. Kehoe ainda tem um ano de contrato, mas tem contra si
a ira da torcida. Mas o que poderia fazer ele com um time que não
pode contar sequer com jogadores medianos, quanto mais com estrelas?
Certamente, a culpa não é dele, mas não é
descartada a hipótese de ele pagar pelas derrotas do time.
O azar do time ainda seguiu depois do fim da temporada, quando os Panthers
ganharam a loteria do recrutamento e pularam para a primeira posição,
deixando os Penguins com a terceira. De consolo serve o fato de que
este deve ser um dos melhores recrutamentos dos últimos anos,
com ao menos seis jogadores disputando a honra de ser a primeira escolha.
Ou seja, os Pens podem acabar conseguindo o jogador que querem, seja
ele quem for.
A princípio, fala-se em Eric Staal, um atacante com boas características
ofensivas e defensivas, considerado a aposta mais "segura"
do recrutamento. Praticamente é descartada a hipótese
de recrutar o goleiro Marc-André Fleury, já que o time
tem bons prospectos na posição. Eu vou me aprofundar mais
neste assunto quando estivermos mais próximos do recrutamento.
Por enquanto, o futuro de um dos times mais dominantes na NHL dos anos
90 está totalmente incerto. Como o da NHL também está,
com o apocalipse (o fim do acordo coletivo de trabalho, em 2004) se
aproximando, isso não é nada surpreendente. A torcida
quer respostas, mas elas não vão vir tão cedo.
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Alexandre
Giesbrecht, 27 anos, estava ouvindo "Days in our life",
do maravilhoso CD "Days of the New III", do Days of the
New, quando acabava de escrever esta matéria. |
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ADEUS? Lemieux acena para
a torcida na Mellon Arena, depois da vitória sobre os Canes:
último jogo na temporada e, quem sabe, na carreira (Keith
B. Srakocic/AP - 02/04/2003) |
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