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4 de abril de 2003
Surpresas e decepções de uma temporada

Por Fabiano Pereira

Podemos dizer que a temporada já terminou. Como disse na semana passada, apenas alguns times ainda tinham alguma chance de se classificar. Um deles já caiu fora, o Montreal Canadiens. Um outro, o Boston Bruins, classificou-se na segunda-feira, graças ao New York Rangers e sua derrota na prorrogação para o Atlanta Thrashers — lembrando que a equipe de Atlanta venceu os quatro confrontos nesta temporada contra os Blueshirts. Com isso, os Rangers precisavam desesperadamente de uma vitória contra os Islanders na terça-feira (depois do fechamento desta edição) para ter alguma chance. Ou seja, a oitava colocação ficará entre Isles e Rangers, mais provavelmente com a equipe de Long Island.

Por isso, resolvi falar sobre a temporada, pois na semana que vem já teremos os confrontos para os playoffs, e será sobre isso que discutirei. Por ora, falemos sobre "decepções" e "surpresas". É claro que muita coisa vai faltar e, com certeza, vão me mandar e-mails reclamando que esqueci isso ou aquilo. Mas é por isso que escrever sobre hóquei é gratificante: finalmente posso discutir com alguém sobre o esporte de que tanto gosto.

Então, sem mais delongas, meus eternos palpites:

Surpresas

Tampa Bay Lightning -- Alguém sabe quem é Brian Bradley? Já devo ter falado dele em outro artigo. Só não lembro qual. Pois bem, foi com ele como capitão que o Lightning alcançou os playoffs pela primeira vez na temporada de 1995-96. Querem saber quem mais fazia parte daquele time? Que tal Roman Hamrlik, hoje nos Islanders, o famigerado e odiado Igor Ulanov, o enigmático Chris Gratton e os saudosos Daren Puppa no gol, Brian Bellows, John Cullen e Paul Ysebaert no ataque.

Nesta temporada, o Lightning, além de classificado para os playoffs, pode alcançar o título da Divisão Sudeste. E quem diria que Vincent LeCavalier liderá-los-ia até essa condição? Quer dizer, liderou no ataque, pois o verdadeiro responsável por isso é Nikolai Khabibulin, goleiro que deveria ao menos receber indicação para o Vezina, por ser o melhor em sua posição.

Crédito seja dado ao ótimo trabalho de recrutamento e contratações da gerência da equipe, que soube ter paciência e trouxe as peças certas na hora certa, como o próprio Khabibulin e o indestrutível Dave Andreychuk, além de Vaclav Prospal, que está muito bem no trabalho de assistente da equipe.

Se os Rangers não classificarem mesmo, já sei para quem torcer.

Minnesota Wild -- Parabéns, Wild, por acreditar que a retranca pode classificar um time. Apesar de eu ser totalmente contra o jogo defensivo (excetuando o Campinas Joes), tenho de admitir que o técnico Jacques Lemaire agiu corretamente. Notando que não tem um elenco estrelar, rapidamente preparou sua tradicional estratégia de trap (armadilha), que consiste em não deixar o adversário jogar e esperar para sair jogando depois de retomar o disco. Lembremos que foi assim que os Devils ganharam o título em 1994-95. Além disso, contaram com dois goleiros inspiradíssimos, Dwayne Roloson e Manny Fernandez, além do sensacional Marian Gaborik, que, se tivesse melhores jogadores a seu lado, marcaria muito mais que os atuais 29 gols. Se conseguirem manter o bom jogo, vão manter a sexta colocação. Nada mal para um time há apenas três temporadas na liga.

Olli Jokinen (Florida Panthers) -- Pavel Bure saiu dos Panthers e foi para os Rangers. Acabava-se o ataque na Flórida? Nada disso. Uma jovem promessa, que nada tinha rendido nos Kings e nos Isles — e mesmo nos Panthers —, despontou nesta temporada como um dos melhores atacantes de força da liga. Olli Jokinen, antes um desconhecido, conta atualmente com impressionantes 35 gols sem muita ajuda, além de obter sua primeira participação no Jogo das Estrelas, quando jogou na linha-sensação do jogo, com Dany Heatley e Jaromir Jagr. Anotou um gol e três assistências. Tomara que não seja fogo de palha. É sempre bom ver um jogador novo despontar e se tornar um dos jogadores de elite. Afinal, Mario Lemieux, Steve Yzerman e Mark Messier um dia vão se aposentar.

Sebastien Caron (Pittsburgh Penguins) -- Com a implosão de Jean-Sebastien Aubin, que culminou com sua ida para a liga menor, alguém tinha que jogar no gol dos Pens. Aubin já havia provado em outras oportunidades que não é um goleiro de NHL. Com isso, os Penguins chamaram Sebastien Caron do afiliado Wilkes-Barre/Scranton Penguins, e o garoto parece não ter sentido a pressão. Apesar de não ter vencido muito, em 23 jogos ele conseguiu a boa marca de 91,6% de defesas em uma equipe com tantos jogadores novos. Pode ser uma ótima promessa para os Pens. Aliás, alguém reparou como os Pens sempre têm um goleiro que surge como promessa? Patrick Lalime, Jean-Sebastien Aubin, Johan Hedberg...

Dick Tarnström (Pittsburgh Penguins) -- Claro que jogar com Mario Lemieux ajuda, mas Tarnström, até onde jogou (59 jogos), anotou 39 pontos. Talvez seja apenas o fato mesmo de jogar com Lemieux (Alguém conhece Warren Young? Em 1984-85 ele marcou 40 gols jogando na mesma linha de Super Mario. Depois, nada mais. Preciso dizer mais alguma coisa?). Torçamos para ele se firmar como um dos melhores defensores da liga, porque Al MacInnis está para se aposentar.

Dwayne Roloson (Minnesota Wild) -- Este goleiro é o que se convencionou chamar na NHL de "journeyman" (ou, como chamamos por aqui, "jogador rodado"). Jamais tinha se firmado em time algum como um bom goleiro e, com 33 anos, era difícil imaginar que conseguiria. Entretanto, sua experiência e o fato de jogar em um time bem defensivo ajudaram-no a aparecer para toda a liga, com impressionantes 92,9% de defesas e 1,95 gols por jogo em 48 jogos! E é com ele que o Wild deve ir para os playoffs. Nada mal para um jogador rodado, hein?

Mike Knuble (Boston Bruins) -- Até esta temporada, o máximo de gols que ele tinha conseguido era 15, com os Rangers. Nesta temporada? 28. Jogar com Joe Thornton deve ser magnífico, do jeito que ele passa. Mas é uma surpresa grata ver Knuble jogando tão bem ofensivamente, já que a defesa sempre foi seu forte.

E as decepções, hein? Bem, lá vão elas!

Decepções

New York Rangers -- Independentemente de classificar-se ou não, esse time já é uma decepção. Vamos ver o elenco: Bure, Anson Carter, Mike Dunham, Bobby Holik, Darius Kasparaitis, Alevei Kovalev, Brian Leetch, Eric Lindros, Messier, Boris Mironov, Petr Nedved, Tom Poti. Então, por que diabos esse time não joga como deve? Egos? Falta de vontade? Falta de esquema tático? Acho que é tudo isso mesmo. Difícil explicar alguma coisa, quando o próprio Glen Sather não sabe responder. O triste é ver que os Rangers são decepção há seis temporadas...

Carolina Hurricanes -- Quem diria, hein? Após conquistar o título da Divisão Sudeste na temporada passada e chegar às finais da Stanley Cup, contra os Red Wings, que se tornariam campeões, após derrotar Toronto Maple Leafs, Montreal Canadiens e New Jersey Devils, esperava-se muito mais deste time, ainda mais com a base mantida. Enfim, tudo deu errado em Raleigh. Muitos jogadores acabaram saindo, Arturs Irbe naufragou e Kevin Weekees é bom, mas não milagroso. O problema: muitos jogadores novos, que precisam se desenvolver sob as asas de Ron Francis e Rod Brind'Amour. Aliás, Francis quer seguir os caminhos de Messier e se aposentar com 50 anos?

San Jose Sharks -- Ouch! Onde está o time que todos previam como uma das maiores forças do Oeste, lutando com Red Wings, Blues, Avalanche e Stars pelas primeiras colocações? Parece que todos os problemas com contusões e renovação de contrato acabaram machucando o time, mas, principalmente: os Sharks não tinham ninguém para substituir o grande Gary Suter, recém-aposentado. Nabokov ficou muitos jogos fora, o mesmo valendo para Brad Stuart. Nolan não joga bem desde 2000, quando anotou 44 gols e, por fim, saiu do time, indo para os Leafs. Ou seja, renovação à vista. E é uma pena, pois torceria para eles nos playoffs do Oeste. Já vi que, mais uma vez, torcerei para os Blues...

Phoenix Coyotes -- Depois de uma temporada sensacional, com 95 pontos, sem muitos jogadores conhecidos, os Coyotes pareciam prontos para brigar seriamente com os times mais fortes, ainda mais com a contratação de Tony Amonte. Só não perceberam que Amonte só joga bem com centrais que passam bem. E os Coyotes têm isso? Algo que machucou demais o time foi a contusão do sensacional goleiro Sean Burke, além da pressão sobre os jogadores mais novos. E Daniel Briere, que tão bem jogou na temporada passada, parece ter-se esquecido de como jogar nesta. Wayne Gretzky voltará ao gelo? Duvido. Então, mais reconstrução em Phoenix.

Nashville Predators -- Na verdade, a decepção não foi em relação a toda a liga. Todos sabiam que seria difícil para os Predators se classificar, mesmo com Tomas Vokoun jogando muito. A decepção ficou mesmo para o bolso do dono da equipe, que prometeu que devolveria o aumento dos ingressos para os donos de carnês caso seu time não se classificasse aos playoffs. Fica a pergunta: ele não entende nada de hóquei ou é burro mesmo?

Jarome Iginla (Calgary Flames) -- 35 gols, 30 assistências. Números que o fariam líder em pontos em qualquer equipe. Então, por que o dono do Troféu Art Ross, de maior número de pontos durante a temporada regular, seria uma decepção? Exatamente por isso, por não conseguir nem brigar pelo bicampeonato nesta temporada. Registrando 52 gols e 44 assistências, parecia que Iginla tinha explodido e se transformado no tão sonhado atacante de força que os Flames acreditavam ter. Só que nesta temporada ele voltou ao mesmo patamar; ou seja, a temporada passada poderia ser considerada uma aberração. Mas é difícil culpar Iginla, com o nível de ajuda que ele tem. Craig Conroy? Eca. Chris Drury até seria uma boa, mas não é o tipo de central passador que um jogador como Iginla precisa ter para deslanchar. Conroy foi bem na temporada passada, mas não é o que ocorreu nesta. Só torço para que Iginla seja um novo Cam Neely, e não um Warren Young.

José Théodore (Montreal Canadiens) -- Parece a síndrome do pós-prêmio. Assim como Iginla, Théodore parece ter ficado deslumbrado com os prêmios que ganhou: o Vezina, por ser o melhor goleiro da liga, e o Hart Memorial, por ser o jogador mais valioso. Sem dúvida que mereceu, por ter carregado os Habs até a segunda rodada dos playoffs. Mas nesta temporada parece que ele também sentiu a pressão. Não se deve tirar o status de goleiro de elite de Théodore, mas é algo a se observar para a próxima temporada. Novamente, lembro-me de alguém do passado. Conhecem Jim Carey? Ele liderou os Capitals no lugar de Don Beaupre na temporada 1995-96 e acabou ganhando o Vezina como melhor goleiro daquela temporada. Entretanto, nos playoffs simplesmente não jogou nada e acabou dando lugar àquele que se tornou o dono da traves dos Caps: Olaf Kolzig. Hoje está nas ligas menores, tentando de vez em quando voltar à liga. Théodore não parece ser esse tipo de goleiro, mas todo cuidado é bom, não?

E vocês? O que acham? Escrevam para mim e vamos discutir isso. Afinal, do que adianta escrever se não podem criticar? Na semana que vem, continuo estas "premiações", com aquilo que acabou dando certo apesar das desconfianças e as coisas boas que pudemos ver nesta temporada.

Fabiano Pereira não ficou muito feliz em dizer que os Rangers foram uma decepção, mas sente-se como se tivesse cumprido uma missão.
 
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Página publicada em 2 de abril de 2003.