Por
Fabiano Pereira
Podemos dizer que a temporada já terminou. Como disse na semana
passada, apenas alguns times ainda tinham alguma chance de se classificar.
Um deles já caiu fora, o Montreal Canadiens. Um outro, o Boston
Bruins, classificou-se na segunda-feira, graças ao New York Rangers
e sua derrota na prorrogação para o Atlanta Thrashers
lembrando que a equipe de Atlanta venceu os quatro confrontos
nesta temporada contra os Blueshirts. Com isso, os Rangers precisavam
desesperadamente de uma vitória contra os Islanders na terça-feira
(depois do fechamento desta edição) para ter alguma chance.
Ou seja, a oitava colocação ficará entre Isles
e Rangers, mais provavelmente com a equipe de Long Island.
Por isso, resolvi falar sobre a temporada, pois na semana que vem já
teremos os confrontos para os playoffs, e será sobre isso que
discutirei. Por ora, falemos sobre "decepções"
e "surpresas". É claro que muita coisa vai faltar e,
com certeza, vão me mandar e-mails reclamando que esqueci isso
ou aquilo. Mas é por isso que escrever sobre hóquei é
gratificante: finalmente posso discutir com alguém sobre o esporte
de que tanto gosto.
Então, sem mais delongas, meus eternos palpites:
Surpresas
Tampa Bay Lightning -- Alguém sabe quem é Brian
Bradley? Já devo ter falado dele em outro artigo. Só não
lembro qual. Pois bem, foi com ele como capitão que o Lightning
alcançou os playoffs pela primeira vez na temporada de 1995-96.
Querem saber quem mais fazia parte daquele time? Que tal Roman Hamrlik,
hoje nos Islanders, o famigerado e odiado Igor Ulanov, o enigmático
Chris Gratton e os saudosos Daren Puppa no gol, Brian Bellows, John
Cullen e Paul Ysebaert no ataque.
Nesta temporada, o Lightning, além de classificado para os playoffs,
pode alcançar o título da Divisão Sudeste. E quem
diria que Vincent LeCavalier liderá-los-ia até essa condição?
Quer dizer, liderou no ataque, pois o verdadeiro responsável
por isso é Nikolai Khabibulin, goleiro que deveria ao menos receber
indicação para o Vezina, por ser o melhor em sua posição.
Crédito seja dado ao ótimo trabalho de recrutamento e
contratações da gerência da equipe, que soube ter
paciência e trouxe as peças certas na hora certa, como
o próprio Khabibulin e o indestrutível Dave Andreychuk,
além de Vaclav Prospal, que está muito bem no trabalho
de assistente da equipe.
Se os Rangers não classificarem mesmo, já sei para quem
torcer.
Minnesota Wild -- Parabéns, Wild, por acreditar que a
retranca pode classificar um time. Apesar de eu ser totalmente contra
o jogo defensivo (excetuando o Campinas Joes), tenho de admitir que
o técnico Jacques Lemaire agiu corretamente. Notando que não
tem um elenco estrelar, rapidamente preparou sua tradicional estratégia
de trap (armadilha), que consiste em não deixar o adversário
jogar e esperar para sair jogando depois de retomar o disco. Lembremos
que foi assim que os Devils ganharam o título em 1994-95. Além
disso, contaram com dois goleiros inspiradíssimos, Dwayne Roloson
e Manny Fernandez, além do sensacional Marian Gaborik, que, se
tivesse melhores jogadores a seu lado, marcaria muito mais que os atuais
29 gols. Se conseguirem manter o bom jogo, vão manter a sexta
colocação. Nada mal para um time há apenas três
temporadas na liga.
Olli Jokinen (Florida Panthers) -- Pavel Bure saiu dos Panthers
e foi para os Rangers. Acabava-se o ataque na Flórida? Nada disso.
Uma jovem promessa, que nada tinha rendido nos Kings e nos Isles
e mesmo nos Panthers , despontou nesta temporada como um dos melhores
atacantes de força da liga. Olli Jokinen, antes um desconhecido,
conta atualmente com impressionantes 35 gols sem muita ajuda, além
de obter sua primeira participação no Jogo das Estrelas,
quando jogou na linha-sensação do jogo, com Dany Heatley
e Jaromir Jagr. Anotou um gol e três assistências. Tomara
que não seja fogo de palha. É sempre bom ver um jogador
novo despontar e se tornar um dos jogadores de elite. Afinal, Mario
Lemieux, Steve Yzerman e Mark Messier um dia vão se aposentar.
Sebastien Caron (Pittsburgh Penguins) -- Com a implosão
de Jean-Sebastien Aubin, que culminou com sua ida para a liga menor,
alguém tinha que jogar no gol dos Pens. Aubin já havia
provado em outras oportunidades que não é um goleiro de
NHL. Com isso, os Penguins chamaram Sebastien Caron do afiliado Wilkes-Barre/Scranton
Penguins, e o garoto parece não ter sentido a pressão.
Apesar de não ter vencido muito, em 23 jogos ele conseguiu a
boa marca de 91,6% de defesas em uma equipe com tantos jogadores novos.
Pode ser uma ótima promessa para os Pens. Aliás, alguém
reparou como os Pens sempre têm um goleiro que surge como promessa?
Patrick Lalime, Jean-Sebastien Aubin, Johan Hedberg...
Dick Tarnström (Pittsburgh Penguins) -- Claro que jogar
com Mario Lemieux ajuda, mas Tarnström, até onde jogou (59
jogos), anotou 39 pontos. Talvez seja apenas o fato mesmo de jogar com
Lemieux (Alguém conhece Warren Young? Em 1984-85 ele marcou 40
gols jogando na mesma linha de Super Mario. Depois, nada mais. Preciso
dizer mais alguma coisa?). Torçamos para ele se firmar como um
dos melhores defensores da liga, porque Al MacInnis está para
se aposentar.
Dwayne Roloson (Minnesota Wild) -- Este goleiro é o que
se convencionou chamar na NHL de "journeyman" (ou, como chamamos
por aqui, "jogador rodado"). Jamais tinha se firmado em time
algum como um bom goleiro e, com 33 anos, era difícil imaginar
que conseguiria. Entretanto, sua experiência e o fato de jogar
em um time bem defensivo ajudaram-no a aparecer para toda a liga, com
impressionantes 92,9% de defesas e 1,95 gols por jogo em 48 jogos! E
é com ele que o Wild deve ir para os playoffs. Nada mal para
um jogador rodado, hein?
Mike Knuble (Boston Bruins) -- Até esta temporada, o
máximo de gols que ele tinha conseguido era 15, com os Rangers.
Nesta temporada? 28. Jogar com Joe Thornton deve ser magnífico,
do jeito que ele passa. Mas é uma surpresa grata ver Knuble jogando
tão bem ofensivamente, já que a defesa sempre foi seu
forte.
E as decepções, hein? Bem, lá vão elas!
Decepções
New York Rangers -- Independentemente de classificar-se ou não,
esse time já é uma decepção. Vamos ver o
elenco: Bure, Anson Carter, Mike Dunham, Bobby Holik, Darius Kasparaitis,
Alevei Kovalev, Brian Leetch, Eric Lindros, Messier, Boris Mironov,
Petr Nedved, Tom Poti. Então, por que diabos esse time não
joga como deve? Egos? Falta de vontade? Falta de esquema tático?
Acho que é tudo isso mesmo. Difícil explicar alguma coisa,
quando o próprio Glen Sather não sabe responder. O triste
é ver que os Rangers são decepção há
seis temporadas...
Carolina Hurricanes -- Quem diria, hein? Após conquistar
o título da Divisão Sudeste na temporada passada e chegar
às finais da Stanley Cup, contra os Red Wings, que se tornariam
campeões, após derrotar Toronto Maple Leafs, Montreal
Canadiens e New Jersey Devils, esperava-se muito mais deste time, ainda
mais com a base mantida. Enfim, tudo deu errado em Raleigh. Muitos jogadores
acabaram saindo, Arturs Irbe naufragou e Kevin Weekees é bom,
mas não milagroso. O problema: muitos jogadores novos, que precisam
se desenvolver sob as asas de Ron Francis e Rod Brind'Amour. Aliás,
Francis quer seguir os caminhos de Messier e se aposentar com 50 anos?
San Jose Sharks -- Ouch! Onde está o time que todos previam
como uma das maiores forças do Oeste, lutando com Red Wings,
Blues, Avalanche e Stars pelas primeiras colocações? Parece
que todos os problemas com contusões e renovação
de contrato acabaram machucando o time, mas, principalmente: os Sharks
não tinham ninguém para substituir o grande Gary Suter,
recém-aposentado. Nabokov ficou muitos jogos fora, o mesmo valendo
para Brad Stuart. Nolan não joga bem desde 2000, quando anotou
44 gols e, por fim, saiu do time, indo para os Leafs. Ou seja, renovação
à vista. E é uma pena, pois torceria para eles nos playoffs
do Oeste. Já vi que, mais uma vez, torcerei para os Blues...
Phoenix Coyotes -- Depois de uma temporada sensacional, com
95 pontos, sem muitos jogadores conhecidos, os Coyotes pareciam prontos
para brigar seriamente com os times mais fortes, ainda mais com a contratação
de Tony Amonte. Só não perceberam que Amonte só
joga bem com centrais que passam bem. E os Coyotes têm isso? Algo
que machucou demais o time foi a contusão do sensacional goleiro
Sean Burke, além da pressão sobre os jogadores mais novos.
E Daniel Briere, que tão bem jogou na temporada passada, parece
ter-se esquecido de como jogar nesta. Wayne Gretzky voltará ao
gelo? Duvido. Então, mais reconstrução em Phoenix.
Nashville Predators -- Na verdade, a decepção
não foi em relação a toda a liga. Todos sabiam
que seria difícil para os Predators se classificar, mesmo com
Tomas Vokoun jogando muito. A decepção ficou mesmo para
o bolso do dono da equipe, que prometeu que devolveria o aumento dos
ingressos para os donos de carnês caso seu time não se
classificasse aos playoffs. Fica a pergunta: ele não entende
nada de hóquei ou é burro mesmo?
Jarome Iginla (Calgary Flames) -- 35 gols, 30 assistências.
Números que o fariam líder em pontos em qualquer equipe.
Então, por que o dono do Troféu Art Ross, de maior número
de pontos durante a temporada regular, seria uma decepção?
Exatamente por isso, por não conseguir nem brigar pelo bicampeonato
nesta temporada. Registrando 52 gols e 44 assistências, parecia
que Iginla tinha explodido e se transformado no tão sonhado atacante
de força que os Flames acreditavam ter. Só que nesta temporada
ele voltou ao mesmo patamar; ou seja, a temporada passada poderia ser
considerada uma aberração. Mas é difícil
culpar Iginla, com o nível de ajuda que ele tem. Craig Conroy?
Eca. Chris Drury até seria uma boa, mas não é o
tipo de central passador que um jogador como Iginla precisa ter para
deslanchar. Conroy foi bem na temporada passada, mas não é
o que ocorreu nesta. Só torço para que Iginla seja um
novo Cam Neely, e não um Warren Young.
José Théodore (Montreal Canadiens) -- Parece a
síndrome do pós-prêmio. Assim como Iginla, Théodore
parece ter ficado deslumbrado com os prêmios que ganhou: o Vezina,
por ser o melhor goleiro da liga, e o Hart Memorial, por ser o jogador
mais valioso. Sem dúvida que mereceu, por ter carregado os Habs
até a segunda rodada dos playoffs. Mas nesta temporada parece
que ele também sentiu a pressão. Não se deve tirar
o status de goleiro de elite de Théodore, mas é algo a
se observar para a próxima temporada. Novamente, lembro-me de
alguém do passado. Conhecem Jim Carey? Ele liderou os Capitals
no lugar de Don Beaupre na temporada 1995-96 e acabou ganhando o Vezina
como melhor goleiro daquela temporada. Entretanto, nos playoffs simplesmente
não jogou nada e acabou dando lugar àquele que se tornou
o dono da traves dos Caps: Olaf Kolzig. Hoje está nas ligas menores,
tentando de vez em quando voltar à liga. Théodore não
parece ser esse tipo de goleiro, mas todo cuidado é bom, não?
E vocês? O que acham? Escrevam para mim
e vamos discutir isso. Afinal, do que adianta escrever se não
podem criticar? Na semana que vem, continuo estas "premiações",
com aquilo que acabou dando certo apesar das desconfianças e
as coisas boas que pudemos ver nesta temporada.
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Fabiano Pereira não ficou muito feliz em dizer que os Rangers
foram uma decepção, mas sente-se como se tivesse cumprido
uma missão. |
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