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28 de março de 2003
Mats Sundin: A esperança de Toronto

Por Eduardo Costa

Ser escolhido em primeiro lugar no recrutamento. Ser o primeiro europeu a atingir essa posição tão alta. Ir para o Toronto Maple Leafs em troca de Wendell Clark, na época o mais querido jogador da franquia. Passar a ostentar a posição de capitão dos Maple Leafs, uma das seis equipes originais, após a saída de Doug Gilmour em 1997, outro jogador histórico do clube. Também o primeiro europeu a ser capitão na história da franquia....

Mats Sundin passou por tudo isso. Muitas vezes se falou que faltava fibra, ou que não tinha os requisitos básicos de um líder, principalmente após as eliminações em pos-temporada. "Desmotivado", "preguiçoso"... É difícil acreditar que esses já foram os adjetivos usados em Ontário para descrever o hoje indiscutível Sundin. A imprensa de Toronto, como já foi escrito em inúmeras matérias aqui na The Slot BR, sabe ser cruel e a cada dia que se distancia da última conquista da equipe a pressão aumenta mais e mais.

Não era muito comum jogadores saírem do velho continente para acompanhar o recrutamento pessoalmente, mas como existia a possibilidade de ele ser o primeiro escolhido em Minneapolis (local do recrutamento), Sundin arrumou as malas e partiu rumo aos Estados Unidos. Mais quatro jogadores tinham reais possibilidades de alcançar o topo, mas foi mesmo Sundin o primeiro nome ouvido através do sistema de som da arena naquele dia. O Quebec Nordiques foi o time que quebrou a histórica tradição.

Coincidência ou não, a partir daquele ano o contingente de jogadores europeus selecionados disparou. Os 38 europeus selecionados no recrutamento de 1989 correspondeu a 15,1% do total de jogadores escolhidos. No ano seguinte foram 53 (21,2%), até atingir a marca de 141 jogadores europeus em 2000 (48,1% dos selecionados).

Já em sua primeira partida na liga (4 de outubro de 1990), Mats marcou seu primeiro gol. Terminou a temporada entre os melhores novatos. No ano seguinte melhorou seus números e na temporada 1992-93 começou a causar impacto. Marcou ao menos um ponto em cada uma das primeiras 30 partidas dos Nordiques e terminou a temporada com 114 pontos, ajudando sua equipe a chegar aos playoffs pela primeira vez em seis anos.

Mas a equipe foi eliminada pelos Canadiens após estar liderando a série por 2-0. Na temporada seguinte, sequer obteve a classificação para a pos-temporada. Foi o bastante para a direção do Quebec Nordiques se mexer e contratar Pierre Lacroix em maio de 1994 para ser o gerente geral e, principalmente, tentar armar uma equipe para evitar que os tradicionais rivais de Quebec continuassem a levar a melhor nos confrontos entre as duas equipes.

Uma das primeiras constatações de Lacroix era que faltava um jogador de espírito guerreiro na equipe. Wendell Clark, na época capitão do Toronto Maple Leafs, seria o homem ideal para liderar a equipe de Quebec rumo a algo maior. O gerente geral dos Leafs na época, Cliff Fletcher, disse que o único jogador dos Nordiques que interessava era Sundin. Toronto também estava pensando em mudanças já que o sonho de retornar as finais da Copa Stanley sempre morria na reta final. Como já possuía Joe Sakic no elenco, Lacroix não pensou muito e aceitou a troca que envolveu também outros jogadores de menor impacto e uma escolha de primeira rodada de cada lado.

A vida dos Leafs não melhorou. Foram eliminados na primeira rodada dos playoffs de 1995 e 1996 e sequer se classificaram para a pós-temporada em 1997 e 1998. Fletcher, o homem que trouxe Sundin para o organização, caiu durante essa fase negativa. A produção ofensiva do sueco foi sempre alta, invariavelmente liderando a equipe em pontos ao final de cada temporada. Mas mesmo assim os fãs e imprensa questionavam se Sundin era realmente o líder que a equipe necessitava.

A temporada 1998-99 viu o renascimento da franquia. A equipe ganhou muito com a chegada do goleiro Curtis Joseph, vindo do Edmonton Oilers. Com CuJo e Mats Sundin se destacando, os Leafs voltaram aos playoffs e chegaram até as finais da conferência em 1999, fato que se repetiu na última temporada. Além de ter passado da primeira rodada em cada um das últimos quatro playoffs. Outro feito foi a primeira campanha na casa dos 100 pontos dos Leafs em sua história (1999-00).

Com Doug Gilmour negociado para o New Jersey Devils em fevereiro de 1999, a vaga de capitão da equipe foi dada a Sundin, que, com isso, se tornou o 16º capitão da história da franquia, mesmo com todo as críticas que ainda existiam em relação a ele. É um posto que ocupa já há seis temporadas, o maior período de um europeu capitaneando um time na história da NHL. Antes dele apenas dois suecos já haviam sido capitães na liga, ambos do Winnipeg Jets: Lars-Erik Sjoberg (1979-80) e Thomas Steen (1989-91).

"Há 30 equipes na NHL, cada com um capitão", diz goleiro reserva Trevor Kidd. "Quem tem o trabalho mais duro na liga, tendo que lidar com a mídia de Toronto e todo o resto? Eu acho que o capitão do Toronto Maple Leafs é o primeiro nome nessa lista." A seguir, completa: "Neste clube de hóquei não há qualquer 'se', 'e' ou 'mas' sobre quem deveria usar o 'C' de capitão. Isso é de Mats Sundin".

Assim como Mike Modano e Steve Yzerman, Sundin teve uma queda em seus números ofensivos ao se tornar mais responsável defensivamente e, conseqüentemente, um jogador mais completo. Isso pode contribuir para que, pela primeira vez desde que chegou a Toronto, o título de artilheiro possa ir para outro jogador, no caso o líder em pontos da equipe nessa temporada: Alexander Mogilny. Mesmo assim, no último dia 10, o sueco chegou ao número mágico de 1000 pontos na carreira ao marcar contra os Oilers. Curiosamente contra seu companheiro de seleção Tommy Salo. Uma bela marca para quem acreditava que atuaria apenas três ou quatro anos na NHL, mas que está bem perto também da marca de 1000 jogos na liga!

Com tudo isso, Sundin é o maior pontuador sueco na história da NHL e o quinto jogador nascido no velho continente a atingir a marca de 1000 pontos na mais competitiva liga de hóquei do planeta, igualando-se aos eslovacos Stan Mikita e Peter Stastny, o tcheco Jaromir Jagr e o finlandês Jari Kurri. Participou oito vezes do Jogo das Estrelas (preferiu se preservar para a corrida aos playoffs com os Leafs a atuar na última edição).

É também o quinto jogador a atingir seu milésimo ponto vestindo a camisa dos Leafs, feito que também pertence a Norm Ullman (1971), Glenn Anderson (1993), Doug Gilmour (1995) e Larry Murphy (1996). Curiosamente todos eles, exceto Ullman, possuem no mínimo uma Stanley Cup no currículo, mas nenhum deles a obteve enquanto atuavam em Toronto.

E a Stanley Cup é o grande gol que falta na carreira de Sundin. Quando se é capitão de uma equipe como os Maple Leafs, recordes ficam em segundo plano. Se o time estiver mal, mesmo que Sundin ainda produza, é para ele que serão destinadas as perguntas mais venenosas e críticas mais duras. Pode ser injusto, mas é assim que funciona. É responsabilidade de todos, mas principalmente de Sundin, ele é o capitão. Ele é o homem que todos em Toronto esperam que lidere a equipe ao título que não vêem desde 1967.

Eduardo Costa é colunista da The Slot BR.

1000 PONTOS Mats Sundin marca contra Tommy Salo o seu milésimo ponto na NHL (John Ulan/AP - 10/03/2003)
 
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Página publicada em 26 de março de 2003.