Por
Humberto Fernandes
Jeremy Roenick, reconhecidamente um dos melhores jogadores da NHL, é
do tipo que não foge de polêmica e não pensa duas
vezes antes de desferir um tranco em seu oponente, seja ele quem for
e pode ser um amigo, como Mike Modano ou onde esteja
até mesmo no Jogo das Estrelas.
A nova empreitada de Roenick é tentar melhorar o hóquei
ao seu gosto. E ele não é o primeiro jogador a fazer isso
recentemente. As declarações de Brett Hull sobre o que
está errado no jogo e as sugestões para melhorá-lo
já percorreram jornais e revistas que cobrem o esporte.
Sem dúvida alguma, tanto Roenick quanto Hull são vozes
às quais não se pode simplesmente bater a porta. Experiência
e inteligência não lhes faltam.
A seguir, as dez sugestões comentadas de Roenick:
Livre-nos da atitude "sem diversão,
é tudo negócio" da NHL
"Nós somos os artistas, deixe-nos entreter.
Não nos chame de showboats porque nós prestamos
atenção aos fãs. E o que há de errado em
conversar com os oponentes?".
Showboat era um barco fluvial com teatro e atores que se exibiam
(no próprio barco) para as populações ribeirinhas,
especialmente no Mississippi. Roenick quer tornar o jogo mais divertido,
entre amigos mesmo que ele não tenha o ideal conceito
de amigo, que o diga Modano.
Anule a prerrogativa da liga em punir
os jogadores pelas coisas que eles dizem
"Nosso país tem liberdade de expressão
dada a nós pela Declaração de Direitos e a Constituição.
Não há nenhuma razão para que quatro ou cinco pessoas
possam multar alguém por crítica verbal, a qual se faz
desesperadamente necessária".
Sim, existe censura na NHL.
Diminua o calendário ou sofra as
conseqüências
"O calendário é muito longo para
o desgaste que temos. São 82 jogos, pré-temporada, mais
playoffs. Sim, nós recebemos muito dinheiro pra isso, mas não
há um meio termo? Eu penso que sim".
Talvez aqui esteja uma das saídas para aliviar, mesmo que minimamente,
a crise financeira da liga: diminuir o trabalho dos atletas e
conseqüentemente, também o salário.
Por que há dois pesos, duas medidas
em suspensões e penalidades?
"Elas existem, não importa o que qualquer
pessoa diz. Quando se fala em suspensões e penalidades, quem
decide o resultado? Tenha alguma consistência e um pouco de justiça".
O velho problema da falta de critério dos árbitros, algo
presente em qualquer esporte. Um apita tudo, outro não apita
nada. Mas a ira de Roenick pode ter algum motivo pessoal: punição
não é novidade pra ele.
Remova a regra do impedimento e traga
a regra tag-up de volta ao jogo
"Permita que os jogadores deixem o ataque para
manter a jogada viva".
A regra tag-up é como um impedimento atrasado. Ela permite
que o jogador impedido saia do ataque, entre novamente na linha azul
adversária e lute pelo disco, sem que o jogo seja paralisado.
É uma maneira de favorecer a agressividade, trazendo mais entretenimento
ao torcedor. Adotá-la novamente, como no passado, pode devolver
ao jogo mais ação.
Deixe os goleiros estarem "em jogo"
"Eles são os mais protegidos. Se deixam
o crease, deveriam poder sofrer trancos. Um jogo duro deveria ter jogadores
duros".
Caso se candidate a comissário, Roenick terá o meu apoio
nesta idéia. Lugar de goleiro é dentro da área.
Após deixá-la, deveria estar sujeito ao contato físico
como qualquer outro jogador.
A pré-temporada deveria ser reduzida
de um mês para duas semanas
"Os jogadores hoje em dia ficam em grande forma
durante o intervalo entre temporadas. Duas semanas e cinco jogos são
o bastante. Só jogar".
Um mês de treinamento intenso não é algo que agrade
um atleta. Se eles realmente não fogem muito da forma ideal durante
as férias, então o trabalho poderia ser feito em duas
ou três semanas.
Elimine a armadilha da zona-neutra
"Adquira liberdade da linha vermelha ou faça
penalidades por defesa ilegal, como é feito no basquete. Faça
qualquer coisa que liberte da miserável armadilha".
Já tem o meu voto, futuro comissário Roenick. O maldito
trap merece ser banido da liga mas que não seja
com idéia proveniente da detestável NBA.
Faça as penalidades de dois minutos
terem total duração
"Na minha opinião, o jogador deveria sentar-se
na caixa de penalidade por dois minutos independentemente de quantos
gols fossem marcados. Mais gols, mais excitação".
Então uma penalidade mal marcada iria prejudicar ainda mais do
que já o faz atualmente. Não constitui uma boa idéia,
Roenick.
Deixe os jogadores venderem mais o jogo
"Eu colocaria microfones ao vivo nos jogadores,
permitiria câmeras no vestiário, qualquer coisa para deixar
as pessoas saberem como os grandes jogadores da NHL realmente são.
Talvez o público seja atraído a assistir ao jogo quando
percebe que pessoas tão boas quanto eles praticam o esporte deles".
Quem viu o documentário "The Season", sobre o Detroit
Red Wings, exibido pela ESPN Internacional, sabe do que Roenick está
falando. E ele tem razão. Se há algo que consegue emocionar
profundamente um torcedor, esse algo é o seu time, a convivência
dos seus ídolos, a luta interna pela vitória.
Não há palavras para descrever o vestiário de uma
equipe após a conquista da Stanley Cup, elas (as palavras) não
são necessárias. Tudo que se precisa é uma câmera.
E o resto é fácil.
Diante de dez interessantes sugestões de Roenick, saiba que a
NHL aparentemente não tem nenhuma delas entre suas principais.
A liga insiste em coibir as brigas e impedir um maior contato físico,
através de mais penalidades. O torcedor não pensa assim.
Ele quer ação e entretenimento. No fim, não é
difícil entender porque a audiência do jogo cai cada vez
mais.
Resta-nos esperar a aposentadoria de Roenick e a demissão de
Gary Bettman. Quem sabe o central não continua sua vida no hóquei,
mas com outra função.
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Humberto Fernandes vibrou intensamente com o retorno do Capitão
Steve Yzerman ao Detroit Red Wings |
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ESSE EU QUERIA NO MEU TIME
O audacioso Jeremy Roenick, acima, durante a coletiva de apresentação
ao seu novo time, o Philadelphia Flyers, em 2 de julho de 2001 (www.jeremyroenick.com) |
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