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21 de fevereiro de 2003
Craig Patrick: herói ou vilão?

Por Eduardo Costa

Quando Craig Patrick foi nomeado gerente geral dos Penguins, em 5 de dezembro de 1989, a cidade de Pittsburgh viu seu time de hóquei deixar de ser um mero saco de pancadas para se tornar uma das maiores forças da NHL. Membro de uma das mais tradicionais famílias do hóquei norte-americano, Craig Patrick ganhou fama comandando, junto a Herb Brooks, a seleção dos Estados Unidos que conquistou o ouro nas Olimpíadas de Lake Placid, em 1980.

Em Pittsburgh, Patrick deu o cargo de treinador ao mestre do hóquei colegial americano Bob Johnson e designou Scotty Bowman para diretor de recrutamento e desenvolvimento de jogadores. Já no recrutamento de 1990, a organização dava um passo importante, selecionando Jaromir Jagr com a quinta escolha geral. De junho de 1990 a março de 1991, Patrick obteve em trocas jogadores como Joe Mullen, Larry Murphy, Ron Francis, Ulf Samuelsson, Grant Jennings, Gordie Roberts, Jiri Hrdina, além de ter assinado com o agente livre Bryan Trottier. Apesar de contar com Mario Lemieux, dificilmente existiriam dois banners de campeão da Stanley Cup tremulando no teto da Mellon Arena se não fosse a aquisição desses jogadores.

Hoje os Penguins se encontram em uma situação parecida com a de quando Patrick chegou. Um bando de jogadores de qualidade duvidosa, comandados dentro do gelo pelo genial Mario Lemieux e dois ou três outros bons jogadores. A diferença é que Patrick antes era o salvador e hoje é o vilão da história. Com a equipe perigando sumir do mapa, ídolos como Jaromir Jagr e Alexei Kovalev foram trocados por quase nada para diminuir a folha de pagamento, mas, mesmo antes de a situação financeira do clube chegar ao nível crítico em que se encontra, algumas negociações já desagradaram boa parte ou a totalidade da torcida dos Penguins. Vamos tentar relembrar alguns casos de negociações em que Craig Patrick foi questionado por boa parte da torcida. Obviamente, em algumas o nobre leitor poderá discordar.

Em 19 de Fevereiro de 1992 os Penguins receberam dos Flyers Rick Tocchet, Kjell Samuelsson, Ken Wregget e uma escolha de terceira rodada (mais tarde seria selecionado Dave Roche) por Mark Recchi, Brian Benning e uma escolha de primeira rodada. Mesmo conquistando sua segunda Stanley Cup após essa troca, dos jogadores que vieram apenas o físico Tocchet não foi um coadjuvante na conquista de 1992. Rick teve outra grande temporada em 1992-93, mas, depois disso, contusões minaram sua carreira. Enquanto isso, Recchi obteve em sua primeira temporada completa nos rivais Flyers magníficos 123 pontos, seguidos de mais uma temporada acima dos cem pontos e outras em que fez parte da elite da liga.

No mesmo dia da troca anterior, o Pittsburgh mandou Paul Coffey para os Los Angeles Kings e recebeu em troca Brian Benning, Jeff Chychrun e uma escolha de primeira rodada (enviada para os Flyers). Utilizou o que recebeu nessa negociação para concluir a troca com os Flyers, e, entre o que ficou em Pittsburgh, o defensor Jeff Chychrun marcou apenas um ponto em 17 partidas no restante da temporada de 1991-92 e, mais tarde, acabou voltando para os Kings, onde manteve os péssimos números. Coffey não chegou a atuar uma temporada completa nos Kings, indo parar em Detroit, onde manteve, até ser trocado com os Whalers, uma excelente média, próxima a um ponto por partida.

Em fevereiro de 1994, o Pittsburgh mandou Marty McSorley e Jim Paek para os Kings, em troca de Shawn McEachern e Tomas Sandstrom. McSorley começou sua carreira na NHL com duas temporadas em Pittsburgh, antes de achar o seu lugar como guarda-costas oficial de Wayne Gretzky em Edmonton e Los Angeles. Depois de McSorley liderar a NHL com 299 minutos de penalidade em 1992-93, Patrick cresceu o olho e trouxe de volta o intimidador. Em troca, mandou para a Califórnia Shawn McEachern, que tinha marcado 28 gols e somado respeitáveis 61 pontos na primeira temporada completa com os Pens na NHL. Ambos os atletas não agradaram nos novos lares e só precisaram de meia temporada para retornar.

Ao trazer McEachern de volta a Pittsburgh, Patrick praticamente assumia que tinha cometido um erro ao trocá-lo por McSorley alguns meses antes. O jornal Pittsburgh Post-Gazette discordou da negociação e escreveu no dia seguinte à negociação uma matéria com o título "McSorley Trade McStinks", em que opinava que Patrick não poderia ter feito melhor "trabalho" se quisesse sabotar a equipe a poucas semanas dos playoffs ao se desfazer de uma peça intimidadora. Apesar da opinião dos analistas do conceituado jornal, boa parte da torcida acredita que Sandstrom, por si só, já era melhor que os dois que foram para os Kings, além de McSorley custar US$ 2 milhões por temporada aos Pens. Mais tarde, Sandstrom seria campeão da Stanley Cup com os Wings, em 1997, e McSorley seria punido severamente, ao acertar com o taco a cabeça de Donald Brashear, durante um Bruins x Canucks, em fevereiro de 2000.

Os Penguins mandaram o defensor Larry Murphy para o Toronto Maple Leafs em julho de 1995, em troca do também defensor Dmitri Mironov e de uma escolha de segunda rodada. A justificativa? Murphy teria apenas mais um ano de boa produtividade pela frente. O tempo mostrou que a direção do time se equivocou. Murphy atuou por mais seis temporadas e foi vital na campanha do bicampeonato dos Wings, no final da década de 90. Dmitri, irmão do atual defensor dos Ranger$ Boris Mironov, só foi atuar relativamente bem após ser trocado para os Mighty Ducks, em 1996. Por curiosidade, foi campeão da Stanley Cup ao lado de Murphy, em 1998, pelos Red Wings, mas nunca justificou as expectativas sobre sua carreira na NHL.

Grande negociação envolvendo jogadores de elite em 31 de agosto de 1995. Luc Robitaille e Ulf Samuelsson para o New York Ranger$; Sergei Zubov e Petr Nedved para os Pens. A troca pode não parecer ruim, mas o destino que Zubov teve na franquia nos levará à conclusão de que foi péssima para os Penguins. Lucky atuara só uma temporada na equipe (a encurtada 1994-95), com um bom aproveitamento, mas não tão bom quanto aos seus anos anteriores de Kings. Apesar disso, seu talento ajudou a equipe, que não contou com Lemieux por toda a temporada. Samuelsson estava já entrando em um momento "Krupp", ao ter que lidar com contusões que limitavam seu tempo de gelo.

Em 22 de junho de 1996, Sergei Zubov foi mandado para o Dallas Stars, por Kevin Hatcher. Essa é risível: trocar um defensor jovem, ágil e já com a experiência de uma Stanley Cup por outro já em curva descendente. A causa teria sido que Zubov não chutava a gol o bastante. Com muito esforço, vamos acreditar que tenha sido por isso, mas o resto ele já fazia melhor que o irmão mais velho de Derian Hatcher. Em sua única temporada nos Pens, Zubov somou 66 pontos em 64 partidas. Apesar da já citada falta de chutes ao gol adversário, é sabido que não havia um bom convívio entre Zubov e a estrela maior dos Penguins, Mario Lemieux. Na queda de braço, é óbvio que Patrick preferiu ficar do lado do Super Mario. Já Kevin Hatcher, em sua melhor temporada na equipe, obteve 39 pontos em 80 jogos, em 1996-97. Enquanto Zubov conquistava sua segunda Stanley Cup, Kevin Hatcher foi trocado com os Rangers pelo não menos mediano Peter Popovic, em 1999.

Craig Patrick sofreu e ainda sofre quando o nome Markus Naslund lhe é lembrado. Primeiro, lembra das críticas por ter desperdiçado uma escolha de primeira rodada com Naslund, que demorou a mostrar a que veio na NHL. E, com o passar dos anos, por ter trocado uma futura estrela por um completo Zé Ninguém. Ou alguém aí conhece algum fato importante da carreira de Alek Stojanov, senão essa troca?

Mesmo com Naslund não rendendo o esperado em suas duas primeiras temporadas com a equipe, a temporada em que ele foi trocado já dizia que ele finalmente se tornaria um jogador no mínimo regular na liga. Naslund somava 52 pontos em 66 jogos na temporada de 1995-96, quando foi trocado por Stojanov, também recrutado na primeira rodada, no mesmo ano que Naslund. Na oportunidade, Stojanov contabilizava um mísero ponto em 58 partidas. Naslund tinha +17, contra -12 de Stojanov. O resto da história todos conhecem: em 20 de março de 1996 os Penguins mandaram para Vancouver o asa direito Markus Naslund, em troca do projeto de intimidador Alek Stojanov. Naslund hoje é um dos artilheiros da NHL, enquanto Alek atuou pela última vez na NHL ainda em 1997, somando, em 107 partidas, medíocres sete pontos.

Talvez tenha faltado paciência também com Glen Murray. Enquanto esteve nos Penguins, Murray não foi nada do jogador produtivo e decisivo que foi nos Kings e que atualmente é nos Bruins. Mas foram fatores sentimentais que também estiveram em jogo, o que levou Craig Patrick a mandar o asa direita para os Kings em 18 de março de 1997, em troca do central Eddie Olczyk. Tanto Olczyk como Patrick defenderam diversas vezes a bandeira dos Estados Unidos em várias competições. Só que Olczyk já estava minado, devido a inúmeras contusões sofridas ao longo da carreira, e durou pouco tempo na equipe e na NHL.

Quando Ron Francis deixou os Penguins para assinar como agente livre com o Carolina (mais de US$ 20 milhões, por quatro temporadas), no verão de 1998, foi especulado amplamente que a produtividade dele diminuiria de uma forma que faria os US$ 5 milhões anuaias de salário parecerem mais uma recompensa pelo que o veterano fez no passado. No último ano desse contrato com os Canes, a equipe chegou às finais da Stanley Cup tendo Francis como líder.

Outro que saiu por nada foi Robert Lang, que assinou com os Capitals como agente livre em 2002. Washington também tinha sido o destino de Jaromir Jagr no verão anterior. Desde que chegou à cidade do aço, em 1990, foram duas Stanley Cups, onze viagens sucessivas para o playoffs, cinco Troféus Art Ross, um Troféu Hart, gols e jogadas espetaculares que ficaram na memória da cada torcedor dos Penguins e do torcedor do hóquei bem jogado. Tente colocar um preço num atleta com esse currículo. Definitivamente, não seria Kris Beech, Michal Sivek e Ross Lupashuk...

Com as finanças no vermelho, todos em Pittsburgh davam como certa a saída do astro, que, além de custar caro, ainda tinha uma personalidade que batia de frente com o dono do time e companheiro no gelo Mario Lemieux. Mas o que chocou foi o preço ridículo que os Capitals pagaram pelo tcheco em 11 de julho de 2001: desconhecidos prospectos, já que os Penguins não poderiam pagar por jogadores de qualidade comprovada, outra triste realidade.

A fama que Craig Patrick tinha de grande negociador definitivamente caiu por terra ao mandar Alexei Kovalev na última semana pra o New York Rangers, em uma negociação que envolveu mais sete jogadores. Além de Kovie, foram mandados para os Rangers Dan LaCouture, Janne Laukkanen e Mike Wilson. Em troca, vieram Mikael Samuelsson, Rico Fata, Joel Bouchard, Richard Lintner e US$ 3.999.999,99.

A inclusão de Wilson e Laukkanen deixa ainda mais claro que o objetivo era mesmo reduzir ainda mais os gastos do clube com sua folha de pagamento. Circula que a proposta do Toronto Maple Leafs era bem melhor que a dos Rangers, mas, como os canadenses não quiseram incluir Wilson e Laukkanen na negociação e os Penguins não queriam arcar com os custos de Nikolai Antropov (um dos prováveis oferecidos a Patrick), o destino do russo foi mesmo Nova York.

Craig falhou também em conseguir o que realmente queria dos Rangers: o central Jamie Lundmark e o goleiro Dan Blackburn. Glen Sather não abriu mão desses dois jogadores. E já é de conhecimento público que em caso de a equipe chegar ao dia-limite de trocas (11 de março) sem chances sólidas de classificação a pos-temporada, o que é bem provável, outros nomes importantes do elenco poderão dar adeus a Pittsburgh. Straka tem um contrato de US$ 4,35 milhões na próxima temporada e US$ 4,7 milhões em 2004-05 e é o principal candidato.

Cerca de dois anos atrás, o time estava na final da Conferência Leste, com Lemieux atuando às vezes na mesma linha que Jagr e Kovalev. Hoje o astro patina entre um turno e outro com Steve McKenna e Mikael Samuelsson. Resta aos torcedores dos Penguins as lembranças de que um dia fizeram parte da elite da liga e que Craig Patrick conseguia algo melhor que um cacho de bananas em suas trocas.

Eduardo Costa ouvia a linda "Staring through the eyes of the death", do Cannibal Corpse, quando finalizou essa matéria.

PASSADO 1 Jaromir Jagr, quando ainda defendia um uniforme preto (Jamie Squire/Allsport)
 
PASSADO 2 Glen Murray, quando vestia outro uniforme preto e dourado (Rick Stewart/Allsport)
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Página publicada em 19 de fevereiro de 2003.