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13 de dezembro de 2002
A noite mágica de Darryl Sittler

Por Eduardo Costa

O Boston Bruins entrou no gelo do Maple Leafs Garden na noite de 7 de fevereiro de 1976 como um dos mais quentes times da NHL. Estavam invictos havia sete partidas e tinham perdido apenas um dos 17 jogos anteriores. Seu adversário, o Toronto Maple Leafs, estava na contra-mão, com apenas uma vitória em seus 7 encontros anteriores.

Um dia antes, o bombástico e folclórico dono dos Leafs, Harold Ballard, criticara os homens de ataque do time e disse que iniciaria a busca de um grande central para atuar na principal linha da equipe, junto a Lanny McDonald e Errol Thompson. Mas, enquanto essa promessa de Ballard não se transformava em realidade, o treinador da equipe, o ex-defensor dos Wings e dos próprios Leafs Red Kelly, deu a vaga para Darryl Glen Sittler. O central, à época com 25 anos, também não vinha atuando bem, com apenas cinco gols em seus 17 jogos anteriores.

O resto é história. A performance de Sittler naquela noite, diante de 16.485 torcedores (capacidade máxima), é, sem dúvida, uma das mais marcantes e impressionantes já vista na história da NHL e do hóquei profissional. A cada vez que o capitão dos Leafs tocava no disco, algo de bom acontecia, e o disco, invariavelmente, parava no fundo da rede adversária.

Foram seis gols em apenas dez chutes e quatro assistências, para um total de dez pontos, recorde absoluto de um jogador em uma partida da NHL. Sittler só não teve participação em um gol da equipe na vitória sobre os Bruins por 11-4. O goleiro do Boston era o novato Dave Reece, que entrou para a história da pior maneira possível: atuou em apenas 13 jogos na NHL após aquela trágica noite e continuou sua carreira em ligas menores.

Sittler não marcou gol no primeiro período, onde obteve apenas duas assistências. No segundo período, veio um hat trick e mais duas assistências. No último período, mais um hat trick. Foi a primeira vez na NHL que um jogador marcava hat tricks em períodos consecutivos.

O recorde anterior era de oito pontos e pertencia ao eterno habitant Maurice Richard, estabelecido em 1944 (cinco gols e três assistências) e Bert Olmstead, também dos Canadiens, em 1954 (4+4). Os seis gols de Sittler também são a maior marca da NHL em sua era moderna, empatado com Syd Howe, dos Wings (1944), e Red Berenson, dos Blues (1968). O recorde absoluto de gols em uma partida da NHL pertence a Joe Malone, com sete, obtido no distante ano de 1920.

No mesmo ano, Sittler novamente entrou para o livro dos recordes, ao marcar cinco gols contra os Flyers, na época bicampeões da Stanley Cup, em um partida dos playoffs em 22 de abril. Apesar disso, o Toronto seria eliminado pelos Flyers ainda nas quartas-de-final. Este recorde, no entanto, não é exclusividade de Sittler. Newsy Lalonde, Maurice Richard, Reggie Leach e Mario Lemieux também já marcaram cinco gols em uma partida de playoffs.

Mesmo tendo se aposentado há quase vinte anos, ele permanece como o maior pontuador da história do Toronto Maple Leafs, com 916 pontos, e maior goleador da equipe, com 389 gols (o ex-defensor sueco Anders Borje Salming é o líder em assistências da história da franquia).

Sittler foi também o primeiro jogador dos Leafs a atingir a marca de cem pontos em uma única temporada, também nessa iluminada 1975-76.

Este central, a oitava escolha geral no recrutamento de 1970, atuou doze temporadas incompletas pela equipe de Ontário, sendo o capitão de 1976 a 1981. Liderou a equipe em pontos por oito anos consecutivos. Sua melhor temporada foi a de 1977-78. Centrando a linha de Dan Maloney e Lanny McDonald, Sittler obteve 45 gols e 72 assistências para 117 pontos, número que permaneceu como recorde da franquia até que o nosso conhecido Douglas Gilmour obtivesse 127 pontos na temporada de 1992-93. Naquela temporada, os Leafs surpreenderam ao eliminar os favoritos Islanders nas quartas-de-final dos playoffs, com a série sendo decidida na prorrogação do sétimo jogo. Na seqüência, foram varridos pelo eventual campeão Montreal Canadiens.

Apesar de ótimos números em jogos de pós-temporada (74 pontos em 76 jogos), o jogador nunca venceu uma Stanley Cup com os Maple Leafs ou com as outras duas equipes em que atuou na NHL (Detroit Red Wings e Philadelphia Flyers). Mas não se pode dizer que ele tenha encerrado a carreira sem ser campeão de alguma competição importante. Em 1976, Darryl marcou o gol da vitória, na prorrogação, contra a extinta Tchecoslováquia, dando ao Canadá o título da primeira edição da famosa Canada Cup. Ao final da competição, o jogador figurou junto a Bobby Orr, Bobby Hull e Guy Lafleur como os maiores destaques da equipe treinada pelo mestre Scotty Bowman. Com o Canadá, obteve também duas medalhas de bronze em campeonatos mundiais (1982 e 1983).

Em 1975 participou do primeiro Jogo das Estrelas no formato Wales contra Campbell, realizado em Montreal, marcando um dos gols do massacre de sua conferência por 7-1. Atuou em mais três edições do tradicional encontro de meio de ano (1978, 1980 e 1983).

Sittler encerrou a carreira em agosto de 1985, com 1.121 pontos em 1.096 jogos, sendo eleito para o Hall da Fama do hóquei em 1989.

Eduardo Costa ouvia Sidney Magal ("Sandra Rosa Madalena") no momento em que finalizou esta matéria.
DEZ Darryl Sittler (à esquerda) comemora um de seus seis gols contra os Bruins (Arquivo The Slot BR)
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Página publicada em 11 de dezembro de 2002.