Por
Marcelo Constantino
Ano após ano o Philadelphia Flyers monta um time competitivo,
com um bom elenco de estrelas, com uma das folhas salariais mais altas
da NHL, e, não raro, é citado como um dos candidatos ao
título, mas não chega lá. E não chega lá
desde 1975.
A história dos Flyers pode não ter muitos absurdos e catástrofes,
mas tem possivelmente o absurdo catastrófico número 1
da história dos esportes norte-americanos: a famosíssima
mega-troca realizada para ter Eric Lindros no time. Philadelphia agüentou
o bebêzão Lindros por um bom tempo, só tendo chegado
perto do título em 1997, quando foram dizimados na final.
Vale lembrar que no ano anterior àquele o time foi eliminado
nas semifinais de conferência e Lindros foi contido pelo então
novato na NHL Ed Jovanovski.
O legado do antigo 88 do time ficou bem aquém do esperado: contusões,
problemas, arrogância, nada de títulos, nada de temporadas
satisfatórias, etc. Só que a era Lindros em Philadelphia
já acabou e nada de o time se levantar.
A novidade para esta temporada não está no gelo: é
o famoso técnico Ken Hitchcock. Vencedor da Stanley Cup com o
Dallas Stars, numa das finais mais enfadonhas dos últimos tempos
(e cujo gol do título foi ilegal, para tornar a coisa mais emblemática
ainda), o novo treinador é conhecido principalmente por priorizar
o sistema defensivo do time acima de qualquer coisa. Ou ao menos é
isso que lhe imputam.
Hitchcock será nada menos que o quinto treinador do time em seis
anos e o décimo em 14 temporadas. Ou seja, acaba de entrar numa
verdadeira máquina moedora de técnicos.
Se a conclusão a que a gerência chegou para trazer o técnico
retranqueiro para Philadelphia era de que o time precisava aprender
a jogar melhor defensivamente, melhor dar uma olhada nos playoffs passados.
O último técnico, Bill Barber, acabou demitido depois
de uma pífia, absurdamente medonha, campanha nos playoffs de
2002, quando o time conseguiu a façanha de marcar somente dois
gols em cinco partidas. Faltou defesa ou ataque? Faltou tudo, é
verdade. Faltou um time na prática, melhor dizer.
Fizeram a festa de Patrick Lalime, goleiro do adversário Ottawa
Senators. Antes haviam feito a festa do Washington Capitals, quando,
no dia-limite de trocas, cederam as três primeiras escolhas do
recrutamento para ter Adam Oates. Catástrofe. Absurdo.
E quem não se recorda de Terry Murray, que, sabe-se lá
como, seguiu com o time até a final de 1997? Caso clássico
de time que dispensava treinador para chegar longe, a Legion of Doom
(LeClair-Lindros-Renberg) que o diga, a lembrança de Murray que
nos vem à mente é o patético troca-troca de goleiros
em plenas finais de Stanley Cup. Começou com Ron Hextall, levou
ferro. Mudou para Garth Snow na segunda partida, ferro novamente. Voltou
para Hextall na terceira e ferro mais uma vez. Desistiu.
É inegável que Hitchcock está num patamar acima
de qualquer treinador que esteve recentemente no comando do time de
Philadelphia. Gostemos ou não do estilo dele e a maioria
detesta , temos de reconhecer que ele altera a cara de um time
e torna-o competitivo, dentro, claro, desse infindável modelo
de agarra-agarra predominante na NHL.
Se ele irá conseguir fazer um astro extremamente ofensivo como
Jeremy Roenick jogar mais na defesa, é o que vamos ver. Se vai
fazer com que o eterno enganador Keith Primeau que pediu pra
sair de Detroit porque não aparecia muito sob o comando de Scotty
Bowman, de tanto que tinha de ajudar a defesa , é o que
veremos também. Esqueçam as declarações
atuais dos jogadores; elas fazem parte do roteiro e ainda estamos com
a temporada germinando.
Falando em Primeau, depois do que assistimos nos playoffs de 2002, algum
torcedor dos Flyers ainda não se arrepende de ter mandado Rod
Brind'Amour embora? E logo por Primeau!
O plantel do time é de alta qualidade, logo só pode haver
algumas poucas conclusões para os seguidos insucessos: desunião
no elenco (o que não parece haver), ausência de química
entre os jogadores (quem sabe?) ou incompetência do comando técnico
(chegamos ao ponto).
A gerência anseia agora por organização e disciplina
no time, e este será um dos papéis do Sr. Retranca em
Philadelphia.
Bons jogadores existem. Simon Gagne é um excelente jovem jogador;
Pavel Brendl tem tudo para mostrar que foi um grande negócio
se desfazer de Lindros (não por ele, mas inclusive por ele);
Dan McGillis é um bom defensor que chega bem ao ataque (e pensar
que foi desprezado em Detroit, que queria mandá-lo embora por
uma escolha média dos Oilers e acabou trazendo o então
desconhecido Kirk Maltby); Michal Handzus pode, quem sabe, finalmente
ser o talento que projetou quando atuava pelo St. Louis Blues.
Isso pra não falar dos craques Eric Desjardins e John LeClair.
Quem anda muito feliz com o novo treinador é outro craque, Mark
Recchi, amigo de Hitchcock: "Nós temos agora o melhor técnico
da liga. Todos sabem que somos amigos de longa data, mas isso não
é problema. Se necessário, ele será mais duro comigo
do que com qualquer outro, mas eu não me importo, sei que ele
é um grande treinador e sei o que ele fará por esse time.
Este é o ponto importante".
O material humano é bom, o técnico é competente.
Esperem pelos Flyers voltando à disputa da Conferência
Leste. Pode não ser nesta temporada, mas os hat tricks de Recchi
e LeClair neste início indicam este caminho.
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Marcelo Constantino Monteiro é economista e já passou
pela arena do Flyers, durante as férias da NHL em 1997. |
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INFERNAL LeClair em mais uma
investida contra José Théodore, na goleada sobre os
Habs da última terça (AP - 15/10/2002) |
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