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23 de outubro de 2002
Constantino: Chega de catástrofes e absurdos nos Flyers?

Por Marcelo Constantino

Ano após ano o Philadelphia Flyers monta um time competitivo, com um bom elenco de estrelas, com uma das folhas salariais mais altas da NHL, e, não raro, é citado como um dos candidatos ao título, mas não chega lá. E não chega lá desde 1975.

A história dos Flyers pode não ter muitos absurdos e catástrofes, mas tem possivelmente o absurdo catastrófico número 1 da história dos esportes norte-americanos: a famosíssima mega-troca realizada para ter Eric Lindros no time. Philadelphia agüentou o bebêzão Lindros por um bom tempo, só tendo chegado perto do título em 1997, quando foram dizimados na final.

Vale lembrar que no ano anterior àquele o time foi eliminado nas semifinais de conferência e Lindros foi contido pelo então novato na NHL Ed Jovanovski.

O legado do antigo 88 do time ficou bem aquém do esperado: contusões, problemas, arrogância, nada de títulos, nada de temporadas satisfatórias, etc. Só que a era Lindros em Philadelphia já acabou e nada de o time se levantar.

A novidade para esta temporada não está no gelo: é o famoso técnico Ken Hitchcock. Vencedor da Stanley Cup com o Dallas Stars, numa das finais mais enfadonhas dos últimos tempos (e cujo gol do título foi ilegal, para tornar a coisa mais emblemática ainda), o novo treinador é conhecido principalmente por priorizar o sistema defensivo do time acima de qualquer coisa. Ou ao menos é isso que lhe imputam.

Hitchcock será nada menos que o quinto treinador do time em seis anos e o décimo em 14 temporadas. Ou seja, acaba de entrar numa verdadeira máquina moedora de técnicos.

Se a conclusão a que a gerência chegou para trazer o técnico retranqueiro para Philadelphia era de que o time precisava aprender a jogar melhor defensivamente, melhor dar uma olhada nos playoffs passados.

O último técnico, Bill Barber, acabou demitido depois de uma pífia, absurdamente medonha, campanha nos playoffs de 2002, quando o time conseguiu a façanha de marcar somente dois gols em cinco partidas. Faltou defesa ou ataque? Faltou tudo, é verdade. Faltou um time na prática, melhor dizer.

Fizeram a festa de Patrick Lalime, goleiro do adversário Ottawa Senators. Antes haviam feito a festa do Washington Capitals, quando, no dia-limite de trocas, cederam as três primeiras escolhas do recrutamento para ter Adam Oates. Catástrofe. Absurdo.

E quem não se recorda de Terry Murray, que, sabe-se lá como, seguiu com o time até a final de 1997? Caso clássico de time que dispensava treinador para chegar longe, a Legion of Doom (LeClair-Lindros-Renberg) que o diga, a lembrança de Murray que nos vem à mente é o patético troca-troca de goleiros em plenas finais de Stanley Cup. Começou com Ron Hextall, levou ferro. Mudou para Garth Snow na segunda partida, ferro novamente. Voltou para Hextall na terceira e ferro mais uma vez. Desistiu.

É inegável que Hitchcock está num patamar acima de qualquer treinador que esteve recentemente no comando do time de Philadelphia. Gostemos ou não do estilo dele — e a maioria detesta —, temos de reconhecer que ele altera a cara de um time e torna-o competitivo, dentro, claro, desse infindável modelo de agarra-agarra predominante na NHL.

Se ele irá conseguir fazer um astro extremamente ofensivo como Jeremy Roenick jogar mais na defesa, é o que vamos ver. Se vai fazer com que o eterno enganador Keith Primeau — que pediu pra sair de Detroit porque não aparecia muito sob o comando de Scotty Bowman, de tanto que tinha de ajudar a defesa —, é o que veremos também. Esqueçam as declarações atuais dos jogadores; elas fazem parte do roteiro e ainda estamos com a temporada germinando.

Falando em Primeau, depois do que assistimos nos playoffs de 2002, algum torcedor dos Flyers ainda não se arrepende de ter mandado Rod Brind'Amour embora? E logo por Primeau!

O plantel do time é de alta qualidade, logo só pode haver algumas poucas conclusões para os seguidos insucessos: desunião no elenco (o que não parece haver), ausência de química entre os jogadores (quem sabe?) ou incompetência do comando técnico (chegamos ao ponto).

A gerência anseia agora por organização e disciplina no time, e este será um dos papéis do Sr. Retranca em Philadelphia.

Bons jogadores existem. Simon Gagne é um excelente jovem jogador; Pavel Brendl tem tudo para mostrar que foi um grande negócio se desfazer de Lindros (não por ele, mas inclusive por ele); Dan McGillis é um bom defensor que chega bem ao ataque (e pensar que foi desprezado em Detroit, que queria mandá-lo embora por uma escolha média dos Oilers e acabou trazendo o então desconhecido Kirk Maltby); Michal Handzus pode, quem sabe, finalmente ser o talento que projetou quando atuava pelo St. Louis Blues.

Isso pra não falar dos craques Eric Desjardins e John LeClair.

Quem anda muito feliz com o novo treinador é outro craque, Mark Recchi, amigo de Hitchcock: "Nós temos agora o melhor técnico da liga. Todos sabem que somos amigos de longa data, mas isso não é problema. Se necessário, ele será mais duro comigo do que com qualquer outro, mas eu não me importo, sei que ele é um grande treinador e sei o que ele fará por esse time. Este é o ponto importante".

O material humano é bom, o técnico é competente. Esperem pelos Flyers voltando à disputa da Conferência Leste. Pode não ser nesta temporada, mas os hat tricks de Recchi e LeClair neste início indicam este caminho.

Marcelo Constantino Monteiro é economista e já passou pela arena do Flyers, durante as férias da NHL em 1997.
INFERNAL LeClair em mais uma investida contra José Théodore, na goleada sobre os Habs da última terça (AP - 15/10/2002)
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Página publicada em 21 de outubro de 2002.