31 de julho de 2002
Thomaz: Vencendo de bolso furado

Por Thomaz Alexandre

O que faz de um time como os Penguins cair tanto em dois anos? A falta de dinheiro para manter suas maiores estrelas, que acabam trocadas por jovens prospectos ou apostas, como foi o caso com Jagr e Kasparaitis, ou acabam não tendo seus contratos renovados pelo time, como Robert Lang, pode ser um motivo. O time que nos anos 90 foi conhecido pelos seus dois emocionantes títulos, seu ataque sempre poderoso e uma das maiores, senão a maior dupla de ataque na NHL em 20 anos, Lemieux e Jagr, parece que na década presente irá construir a fama de time pobre, precisando de arena, que perde paulatinamente suas estrelas para o dinheiro ou para as contusões e vive sob a esperança em um Lemieux de quase 40 anos e um Kovalev solitário.

Agora, o que faz de um time que voltou à liga nos anos 90, sob restrições orçamentárias, saiu em um punhado de anos da lanterna, tornou-se uma presença constante nos playoffs e fez sua torcida esperar realisticamente as vitórias entrar na década seguinte como fator certo nos playoffs, jogando um jogo sólido, conciso, tudo isso ainda com pouco dinheiro para gastar?

Perguntem ao Ottawa Senators, pois só eles explicam. Sempre sob o comando de Jacques Martin, que jamais deixou de ter o apoio da diretoria e da torcida, o time foi recrutando com sabedoria, colocando um pouquinho de experiência — nada muito caro — aqui e ali, para chegar aonde está.

Sempre muito rígidos na execução de seu esquema tático, os Sens apareceram para quem assistiu a seus jogos nos anos mais recentes como uma máquina, um relógio Omega dos modelos mais baratos: não chama muita atenção, mas também não pára de funcionar. O time está constantemente na parte de cima das listas de ataque, defesa, times especiais e até mesmo nas estatísticas de goleiros, posição em que Patrick Lalime e o MVP da SM-Liiga finlandesa Jani Hürme fazem desnecessário uma superestrela. Com uma bela ajuda de seis blueliners (Salo, Redden, Phillips, Chara, Hnidy e Leschyshyn) rotativos e sempre a postos, é claro.

E, para aqueles que associam sempre a aplicação tática a um jogo desinteressante, os Sens respondem com alguns jogadores capazes de espetáculo, como o forte Marian Hossa, o habilidoso Martin Havlat e, acima de qualquer suspeita, o capitão Daniel Alfredsson, dono de jogo completo e o chute forte mais plástico da NHL.

Para a próxima temporada, o time conta com a volta do regular Shawn Van Allen, central que passou apagado pelo Dallas e participou da volta dos Canadiens aos playoffs. Outra adição da nova gerência, que conta com o rodado John Muckler, é o defensor Brian Pothier, uma aposta ousada, talvez necessária, vinda dos Thrashers. Pothier tem um bom jogo defensivo e também pode atuar em vantagem numérica.

Com um baixo orçamento, o time lutou e venceu para renovar com Daniel Alfredsson. Agora faltam Chris Phillips e Radek Bonk, fatores constantes na defesa e no ataque, respectivamente, para os Senators. O time trocou o bom central Shawn McEachern, o que possibilitou um pouco mais de folga na folha salarial. Espera-se que prospectos como Spezza e Klepis venham a suprir e até mesmo cobrir perdas deste tipo.

Fazendo Escola -- Quem segue adotando a política dos Sens, na base do bom e barato, é o Phoenix Coyotes. Com a chegada de Gretzky, o time dispensou duas estrelas que faziam, juntas, um rombo de mais de 15 milhões de verdinhas por ano. Eles também faziam muitos pontos, mas isso...

Na era Gretzky, o Phoenix fixou as figura de Sean Burke, sempre assediado em dias-limite de trocas, e do capitão/cavalheiro Teppo Numminen, apostando numa defesa forte. Na companhia de alguns nomes nada cobiçados pelos leiloeiros dos Rangers, como Radoslav Suchy (+26 no ano), Danny Markov, companheiro ideal de Numminen em vantagem numérica, e Drake Berehowsky, eles conseguiram.

Agora, eles fizeram o cobiçado Amonte, que esperava-se conseguir um contrato-monstro de Dallas ou New York, assinar por US$ 4,5 milhões anuais. Como? Simples: Amonte viu mais credibilidade, solidez e seriedade em Phoenix do que nos Tios Patinhas concorrentes. Concordo com ele.

Falando em Amonte, seus queridos Blackhawks não se desesperaram com sua perda. A confiança em Brian Sutter é grande — não é para menos —, e a contratação pouco falada de Sergei Berezin pode pagar dividendos. A um convidativo custo/benefício.

Numa escala menor, os Blue Jackets fazem um bom trabalho longe dos holofotes. Acreditando no resgate de um investimento em Denis no recrutamento de expansão, o time trocou o bem pago goleiro Tugnutt por uma escolha no recrutamento. Com sua própria, trouxe Rick Nash, que chamou a atenção dos Jackets no grupo deste ano. Renovaram seu goleador de 2000, Geoff Sanderson, e trouxeram experiência e profundidade na defesa com Scott Lachance e Luke Richardson. Não vão vencer a copa, não devem sonhar com playoffs, mas ruins como de 2000 a 2002 é difícil que continuem a ser.

Outro pequeno seguindo no caminho correto é o Atlanta Thrashers. Depois da decepção com o calouro Patrick Stefan, eles acertaram na mão com os calouros de 2002. Apesar de perderem Ray Ferraro, que já estava para virar comentarista permanente mesmo, eles voltam em 2003 adicionando experiência. Pascal Rheaume já tinha vindo durante a temporada passada, tendo boa química com Heatley e Kovalchuk. Agora trazem o experiente central Shawn McEachern, que deixou sua marca em Pittsburgh e Ottawa, além do explosivo Vyacheslav Kozlov, que se sentiu muito valorizado com a troca e promete deslanchar na Georgia. Para a defesa, veio de Buffalo o duríssimo agente livre Richard Smehlik, que carrega um retrospecto de + 67 na carreira. Todos estes sem quebrar a banca.

Notas:

- Só mesmo uma competição ferrenha e a má sorte podem explicar a exclusão dos Oilers nos playoffs do ano passado. Mas com Mike York, de quem os Rangers não precisam (para que talento jovem e consistente se existem os dólares?) e com a ascenção de alguns prospectos como Ales Hemskey e os finlandeses Jani Rita (estrela em mundiais de diversos níveis) e do segredo bem guardado Tony Salmelainen (ex- Ilves Tampere), além da renovação com Eric Brewer, nada estranho o Canadá ter mais um representante na pós-temporada em 2003.
- Belfour em Toronto? Esperem por Schwab ou Barrasso tomando a titularidade.
- Red Wings campeões um ano mais velhos menos Hasek mais Cujo = outra copa. Esta equação não fecha.
- Daigle de volta, pelos Sharks. Ou a carreira de ator e produtor cultural deu muito errado (se bem que um show de Sheryl Crow no GP do Canadá em Montreal não foi nada mal), ou quem sabe o quê, quando se trata de Alexander Daigle? Ainda mais agora, que ele admitiu lutar pela vaga no time e, se preciso, jogar nas minors.

Thomaz Alexandre é estatístico, gerente de time virtual, músico, blogueiro e redator também em paradisemetal.com.
TONY SALMELAINEN recrutado 50 escolhas antes de Mike Comrie, traz esperanças de semelhante impacto aos Oilers. Acima, ainda no pelo Ilves Tampere , da SM-Liiga finlandesa (ilves.com)
 
ALFREDSSON DÁ TRABALHO A BRODEUR Ottawa preteriu McEachern para sabiamente renovar com o capitão sueco (Bill Kostroun/AP)
 
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Página publicada em 31 de julho de 2002.