Por
Fabiano Pereira
Iniciado o jogo 5 das finais desta temporada, o título já
era considerado do Detroit Red Wings, que vencia a série por
3-1. Dificilmente os Hurricanes conseguiriam virar, pois, em toda a
história das finais da Stanley Cup, nenhum time havia conseguido
virar tamanha adversidade. Mas uma dúvida pairava em todos: quem
ganharia o troféu Conn Smythe em um time repleto de tantas estrelas?
Seria o capitão, Steve Yzerman, jogando machucado e com uma boa
média de um ponto por jogo? Ou o veterano asa direito, Brett
Hull, com dez gols, liderando todos os jogadores? Ou então o
goleiro Dominik Hasek, que, após um começo não
muito bom nos playoffs, virou novamente o Dominador e fechou o gol,
terminando os playoffs com seis shutouts? Ou ainda, arriscando longe,
o central russo Sergei Fedorov, que apavorou as defesas adversárias
com toda sua velocidade e chute preciso?
Não. Nenhum deles ganhou. Quem recebeu o troféu foi o
exímio defensor sueco Nicklas Lidstrom, garantidamente o melhor
defensor de toda a liga. Mas... Justo Lidstrom? Ele não fez muitos
pontos. Não marcou muitos gols. Nem fez defesas excepcionais.
Por que ele então?
Primeiramente, deixemos claro que Lidstrom é um defensor.
Ele não vai ser o artilheiro de seu time e nem liderá-lo
em pontos. Muito menos fazer defesas com sua luva ou taco. Mas um defensor
não dá várias porradas de corpo, não intimida
fisicamente? Não necessariamente. É necessário
que os times tenham jogadores assim, mas quando só têm
jogadores assim (estão ouvindo, Boston Bruins?), mal conseguem
sair da defesa.
Nicklas Lidstrom não é responsável pelos melhores
momentos da liga. Você não o verá fazendo um dos
dez melhores gols, dez melhores porradas e, claro, dez melhores defesas.
Em certos momentos, parece até que ele some do jogo. Mas, ao
contrário dos atacantes, ele não desaparece por omissão
ou por estar bem marcado: ele está buscando o melhor posicionamento
para uma interceptação, preparando-se para evitar um contra-ataque,
encontrando a melhor posição para um chute no ataque ou
subindo despercebidamente numa vantagem numérica ou contra-ataque
de sua equipe. Tudo isso jogando em torno de 30 minutos por partida.
Sem cansar e sem cometer erros. Um defensor invisível, mas com
a presença notada pelos adversários.
Defensores como Lidstrom dificilmente são valorizados pela liga.
Excetuando as duas últimas premiações do troféu
James Norris, oferecido ao melhor defensor da liga (de que, inclusive,
ele foi o vencedor), vamos reparar que geralmente aparecem aqueles extremamente
ofensivos ou que dominam fisicamente qualquer partida (mas com alguma
contribuição ofensiva), como Brian Leetch, Paul Coffey,
Rob Blake, Chris Pronger, Chris Chelios ou Al MacInnis. Ou seja: jogadores
que aparecem para a torcida, para os críticos.
Os defensores invisíveis são liderados por Lidstrom, mas
têm também representantes em Kimmo Timonen (Nashville Predators),
Brian Rafalski (New Jersey Devils), Teppo Numminen (Phoenix Coyotes),
Matt Schneider (Los Angeles Kings), Wade Redden (Ottawa Senators) e
Darryl Sydor (Dallas Stars). Existem outros jogadores que se enquadram
nesta categoria, mas certamente estes são os mais desvalorizados.
Enquanto os Brian Leetchs brilham com sua subidas ofensivas, os Rob
Blakes e Scott Stevens com suas porradas monstruosas, e os Al MacInnis
com seus chutes poderosos, estes defensores fazem as pequenas coisas
que ninguém quer fazer. E, de maneira invisível, ganham
admiração, mesmo que seja apenas de seus companheiros
e adversários.
Quem sabe em breve os "defensores highlight" não dêem
lugar aos "defensores invisíveis"? Seria a substituição
do show pela eficiência. E os Red Wings sabem muito bem o quanto
isso é importante...
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Fabiano Pereira é admirador de defensores. E, apesar de ser fã
de Brian Leetch, sabe muito bem a importância dos "defensores invisíveis".
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