Por
Fabiano Pereira
Defina o que é peste. Pode citar definições. Praga?
Correto, pode ser praga, daquelas que vitimam toda uma localidade. Epidemia?
Sim, uma doença que se espalha rapidamente e acaba com toda uma
população. Que o diga a Europa, na Idade Média,
com a Peste Negra. Mas e se eu disser os seguintes nomes: Tyron Nash,
Darcy Tucker, Kirk Maltby, Dan Hinote, Erick Cole, Claude Lemieux, Bobby
Holik ou Mike Peca? Não os conhece? Bem, talvez por não
serem superestrelas da liga. Mas as superestrelas sabem, e muito bem,
quem são eles.
Na NHL eles são conhecidos como pestes, jogadores que, literalmente,
são pragas que destroem a lavoura ofensiva de um time ou dizimam
toda uma população de atacantes com seu estilo agressivo
de jogo, pelas pancadas que desferem sem dó nos atacantes e por
grudarem como carrapatos (outra peste) nas superestrelas adversárias.
Quem não se lembra de 1999, ano em que os Sabres chegaram às
finais da Stanley Cup, quando enfrentaram os Stars? Todos falam que
Hasek levou o time sozinho até lá e daquele famigerado
gol do Brett Hull que foi marcado dentro da área. Mas ninguém
se lembra de que em todas as séries por que os Sabres passaram
as superestrelas foram totalmente paradas por um pequeno homem chamado
Mike Peca, talvez a peste mais conhecida da NHL. Pequeno no tamanho,
mas grande na intensidade, Peca acabou com estrelas como Mats Sundin
por onde passou. Chato, grudento e que não larga do pé
(não, não é aquela garota ou garoto que te persegue
aonde você vai), ele poderia facilmente ser considerado o co-MVP
dos playoffs junto do Dominador, caso ganhassem a Stanley Cup. Mas eles
não ganharam e ambos estão agora em outros times.
Chegando aos Isles para esta temporada, Peca conseguiu levar o time
de Long Island aos playoffs após um longo hiato e, ainda por
cima, ajudou a diminuir em um gol a média de gols sofrida pelo
time.
Aliás, a intenção de ser uma peste não é
ser o melhor jogador ofensivamente. Tanto que nenhum dos nomes citados
é um especialista em gols ou assistências. E, mesmo jogadores
como Peca, Holik ou Tucker, que fizeram mais de 20 por temporada, ainda
assim marcam daqueles mais feios. Desviados, rebote, depois de dar uma
porrada em alguém. Dificilmente você verá uma finta
excepcional, um belo chute ou uma triangulação perfeita.
E acha que estes jogadores não gostam de ser chamados de peste?
Eles adoram. É um daqueles rótulos que aqueles jogadores
que sabem que jamais ganharão os troféus por mais pontos
ou gols adoram receber. Como o melhor brigador, o melhor vencedor de
face-offs, o melhor jogador de bordas. É um orgulho ser uma peste.
E, normalmente, rende ótimos dividendos.
Mesmo perdendo para o Avalanche nas finais da Stanley Cup, Bobby Holik,
dos Devils, é um dos jogadores mais valorizados. Forte, com um
chute muito forte, sabe ficar na frente do goleiro adversário,
é ainda muito rápido, desfere muito bem pancadas. Ou seja:
pode dominar totalmente o principal atacante adversário e ainda
contribuir ofensivamente. Tanto é que vinha sendo o único
jogador, além do goleiro Brodeur, a jogar alguma coisa nestes
playoffs, até serem eliminados.
Já Darcy Tucker é realmente chato. E ainda teve a melhor
campanha ofensiva de sua carreira, com 24 gols e 59 pontos. Nada mal
para um jogador de terceira linha, que foi trazido apenas para atrapalhar
a vida dos adversários. E fica clara a importância dele
neste time dos Leafs, que tem uma das mais encardidas linhas de choque
da liga em Tucker, Shayne Corson e Travis Green, podendo Gary Roberts
ainda entrar nela. Ugh! Dá até medo pensar no que eles
podem fazer juntos.
E, juntos, os Blues montaram uma bela linha de agitadores, com Tyron
Nash, Jamal Mayers e Reed Low. Nash é a peste da linha, Mayers
é o cara que distribui porradas e Low é o que toma satisfações
na briga. Com esta linha, os Blues marcaram gols importantes por irritarem
demais os adversários.
Marcar gols, ser ofensivo, é uma das facetas do jogo. Mas pergunte
a times como os Rangers quanta falta fazem jogadores que sabem defender
e irritar.
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Fabiano Pereira estava ouvindo uma das "pestes" do rock, Jimi
Hendrix, ao escrever este texto. Esse, sim, empestiava as multidões...
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