Por
Humberto Fernandes
Em julho do ano passado, após ser eliminado precocemente pelo
Los Angeles Kings na primeira rodada dos playoffs, o proprietário
dos Red Wings, Mike Ilitch, tinha duas alternativas: construir um time
para tentar o título mais uma vez ou renovar o elenco. Felizmente,
ele optou pela primeira. E com sucesso.
Ilitch então deu a Ken Holland (gerente geral) a permissão
para negociar e gastar.
Os olheiros dos Red Wings descobriram que o defensor sueco Fredrik Olausson
estava atuando na Suíça e avisaram à gerência
que ele seria de grande utilidade. Papel e caneta na mão, Olausson
era o primeiro contratado (o que, na época, não agradou
tanto aos fãs).
Então Holland trouxe o goleiro Dominik Hasek, abrindo mão
do futuro ao ceder uma escolha de primeira rodada e futuras considerações
(outra escolha), além do ex-ídolo Vyacheslav Kozlov.
Este foi apenas o segundo passo. A cartada seguinte trouxe Luc Robitaille
para Detroit. Então agente livre, Luc optou por assinar com os
Red Wings por dois anos, recebendo US$ 4 milhões por temporada.
Um goleiro para ser titular e vencer jogos, um asa esquerdo para substituir
(com folga) Vyacheslav Kozlov... Ainda faltava a última peça
deste quebra-cabeça.
Brett Hull. O "Golden Brett" foi a última aquisição
de uma equipe nitidamente edificada para vencer. Mas trazer um dos maiores
goleadores da história não foi fácil. Três
jogadores do elenco (Brendan Shanahan, Chris Chelios e Steve Yzerman)
tiveram que ceder US$ 500 mil cada de seus salários para que
Hull pudesse ser contratado. E assim o fizeram.
Hull certamente faria a torcida esquecer que havia um Martin Lapointe
na asa direita até alguns meses antes.
Com um elenco repleto de estrelas, a maior média de idade da
NHL e maior folha de pagamento, os Red Wings estavam praticamente condenados
a vencer.
Deste ponto em diante, a vida foi maravilhosa para o Detroit e seus
fãs. Tudo é história, desde a sensacional campanha
na temporada regular, conquistando o Troféu dos Presidentes,
até os playoffs, eliminando o Avalanche e conquistando a Stanley
Cup.
Idolatrar tantas estrelas tem um preço: perdê-las algum
dia. Neste momento, a grande preocupação de cada fã
dos Wings é saber se Hasek joga mais uma temporada. E quem sabe
Igor Larionov, o jogador mais velho da NHL, com 41 anos, não
vai resolver jogar também? E Chris Chelios, com joelho reconstruído,
ótima temporada e talvez Troféu Norris?
A primeira baixa era inesperada e talvez tenha sido a maior delas. Não
estou falando de algum jogador que tenha optado pela aposentadoria.
É o Mestre. Scotty Bowman decretou o fim da linha para si mesmo.
O maior treinador da história deste esporte e seguramente um
dos maiores de todos os tempos considerando-se todos os eventos esportivos
dá adeus e abre uma lacuna no coração dos fãs.
Nove Stanley Cups (ou Scotty Cups?) vencidas, um recorde indelével
e que serve como seu cartão de apresentação. O
Mestre não será mais o treinador dos Wings, como também
não se aposenta de vez. Ele continua com a organização,
em alguma outra função menos desgastante.
O segundo a optar por outro caminho foi Olausson. O defensor deixará
os campeões Red Wings e retornará para seu antigo time
na Suécia.
O sueco declarou que este era o momento exato para encerrar sua carreira
na NHL e retornar ao seu primeiro time, o Farjestad. Olausson deve assinar
contrato por dois anos com a equipe, onde atuou antes de ser recrutado
pelo Winnipeg Jets, em 1985. Jogou também pelo Edmonton Oilers,
Mighty Ducks of Anaheim, Pittsburgh Penguins e SC Bern (Suíça)
antes de assinar como agente livre com os Red Wings no ano passado.
Oficialmente, apenas estes dois se pronunciaram. Na fila ainda estão
Chelios, Jiri Slegr, Larionov, Uwe Krupp, Steve Duchesne e Hasek.
Os Red Wings já ofereceram um novo contrato a Chelios. Eles querem
mais um ano. Os fãs querem mais um ano. O hóquei quer
mais um ano. Afinal, quem não vibrou com a intensidade do jogo
de Chelios, mesmo com 39 anos e várias cirurgias no joelho? Capitão
dos Estados Unidos nas Olimpíadas, teve de amargar a medalha
de prata, mas o ouro viria mais tarde com a equipe de Detroit. Dezesseis
anos após sagrar-se campeão pelo Montreal Canadiens, Chelios
vencia novamente a Stanley Cup.
Slegr tem uma história até mesmo engraçada em Detroit.
Os Wings sonhavam com Darius Kasparaitis, mas não tinham muito
o que oferecer ao Pittsburgh Penguins por ele. O Avalanche correu na
frente e mandou dois prospectos, algo que os Wings felizmente não
tentaram cobrir. Então restou trazer Slegr, apenas como uma alternativa
para a tão questionada defesa. Mas ele simplesmente foi pouco
utilizado, jogando apenas uma partida dos playoffs, o último
jogo, e porque Jiri Fischer estava suspenso. Sem Olausson, as chances
de Slegr permanecer em Detroit aumentaram. Depende apenas dos Red Wings,
pois dificilmente Slegr recusaria continuar na maior força da
NHL.
O Professor Larionov encontra-se na mesma situação de
Chelios. Basta a ele decidir se continua ou não no hóquei
e os Red Wings tomam sua posição. Em Detroit, Larionov
continua sendo unânime, mesmo aos 41 anos. Sua astúcia
continua a mesma e ele ainda patina como uma criança. Capaz de
criar jogadas fatais e dotado de grande experiência, por diversas
vezes contribui para que os Wings vençam partidas. Se o Professor
quiser mais um ano, o Detroit dar-lhe-á mais um ano, e ele concederá
aos fãs mais um ano de seu reinado.
O próximo jogador a ser destacado não merece comentários,
mas não poderia ser esquecido. Krupp, a "Besta Alemã",
finalmente deve ir embora de Detroit. Anos e anos contundido ou suspenso,
Krupp retornou para dois jogos durante a temporada regular e se machucou
novamente. Participou do fim da mesma e iniciou os playoffs. Foram dois
jogos, duas péssimas atuações (como sempre) e duas
derrotas da equipe. Resultado: Krupp felizmente não jogaria mais.
Mesmo que toda a defesa dos Wings se aposentasse, Krupp não receberia
da equipe uma proposta de renovação de contrato. Ele que
procure outro lugar para atrapalhar.
Outro defensor na berlinda é Duchesne. Teve uma atuação
regular nos playoffs, apagando de certa forma a imagem de jogador que
comete muitos erros idiotas. Ao lado do veloz Mathieu Dandenault, formou
uma sólida linha defensiva e contribuiu ofensivamente, até
mesmo em vantagem numérica. Os fãs certamente jamais se
esquecerão do momento nas finais da Stanley Cup em que ele levou
uma tacada no rosto e perdeu sete dentes. Ainda assim, retornou ao jogo
naquela noite e continuou firme até a conquista do título.
Sua situação é cômoda porque possui no contrato
um ano opcional, justamente o próximo. A diferença estará
em quem exercerá a opção continuação
do trabalho. Caso seja o jogador, o salário diminui e a cláusula
que proíbe a troca deixa de existir. De qualquer forma, Duchesne
continua em Detroit.
Por fim, o Dominador. Finalmente com seu nome devidamente marcado na
Stanley Cup, Hasek pode se aposentar, com a certeza de ter tido uma
carreira brilhante e repleta de conquistas. Tudo que poderia vencer,
ele venceu. Olimpíadas, prêmios individuais e agora a copa.
Caso decida continuar, os Red Wings são obrigados a ceder ao
Buffalo Sabres sua escolha da segunda rodada do recrutamento do próximo
ano como futuras considerações, devidamente negociadas
no ato de sua vinda para Detroit. Estas futuras considerações
já renderam aos Sabres a primeira escolha de 2003, pela conquista
do título. No geral, a torcida pouco se importa com esta escolha
de segunda rodada e quer ver mesmo é Hasek continuar nos Red
Wings. Talvez ele queira o bicampeonato. E quando Hasek quer pode até
haver quem não queira, mas o Dominador é favorito, sem
dúvida.
Na próxima edição, "O futuro (próximo)
dos Red Wings". Destaque para os jovens jogadores da equipe, como
os já conhecidos Maxim Kuznetsov, Jason Williams e Sean Avery,
além do candidato a estrela Pavel Datsyuk. Outra grande promessa,
Henrik Zetterberg, será apresentada no artigo.
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Humberto Fernandes afirma: os Red Wings não são simplesmente um
time de hóquei, eles são um símbolo de superioridade. |
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